O velho chamado tempo
O velho observava a rua reflexivo, em seu rosto cravado de sulcos profundos – onde histórias e mais histórias criaram-se, desenrolaram-se e findaram-se – habitava a magoa secreta dos que passaram levianamente pela vida e incertos, aposentaram cedo demais os antigos sonhos de infância. Seu nome: tempo. No peito enrugado – por quem? Pelo tempo? – neste exato minuto, explodia a vida dos milhares que nasciam, dos que realizavam seus sonhos e dos afortunados que conheciam o amor de suas vidas.
A tarde caia devagar, e no velho banco de madeira, ele observava pacientemente cada pequena oscilação da vida. Aos seus olhos a repercussão dos mais insignificantes atos humanos e mesmo o bater de asas, o leve bater de asas, da borboleta que pousava em seu dedo, possuía o poder de provocar um tufão no outro lado do mundo. Sorriu e viu a borboleta voar contra o céu azul, os humanas possuíam a eximia capacidade de não atribuir aos atos – os mínimos e rotineiros atos – sua devida importância.
Uma ruga formou-se em sua face: apenas uma linha quase imperceptível e mais uma historia de mais um alguém que encenava seu último ato. As pupilas brancas refletiram os complexos sentimentos humanos, sucessões intermináveis de alegrias e tristezas. Alegrias e tristezas anônimas, que os homens formados quase que tão somente por egoísmos, trombavam e batiam nas ruas, nas esquinas e que cegos, não sabem reconhecer o verdadeiro dom da vida no pequeno sorriso da criança.
O velho meneou a cabeça e ao longe riu da morte,que velha e corcunda,caminhava faceira. Ah,os homens.