CHAPÉU (Miniconto)
O homem com uma calvície proeminente resolve parar de pentear os ralos cabelos, mais longos, mais persistentes, enfincados do lado esquerdo, perto da orelha para o cocuruto. Decide comprar um chapéu. Mas, não seria qualquer chapéu! Cinéfilo contumaz queria um modelo idêntico ao usado pelo personagem Florentino, do romance; “O Amor nos Tempos do Cólera', do autor colombiano Gabriel García Márquez. A transposição cinematográfica do romance mostra Florentino poeta e proprietário da Companhia Fluvial do Caribe, sempre vestido com diversos chapéus. Pensou, pensou, pensou..., onde encontrar uma loja de chapéus? Como mora em uma cidade pequena resolve ir a uma metrópole. Não dorme direito à noite. Rola na cama.Sonha que conversa com seu chapéu. De repente, o chapéu devora os seus últimos fios de cabelo. Acorda! Levanta vai ao banheiro. Antes que o despertador toque, já está em pé. Toma o café com leite e uma fatia de pão adormecido com manteiga. Caminha até ao banheiro escova os dentes, olha a sua calvície no espelho pela última vez. O ônibus sacoleja pela rodovia esburacada. Senta ao lado de uma ruiva. A jovem o encara. Olha para a sua cabeça. Ele se intimida. Pensa no chapéu e sua utilidade. Duas horas sacolejando e conversando. Conta da sua escolha do modelo do chapéu. A moça diz gostar da sua calvície. Saem de mãos dadas do ônibus. Ele esquece o chapéu! Começa a gostar da sua calvície!