O rapaz e sua coroa de flores.
Dona Mirtes em todo outubro inicia a sua tarefa artesanal de confeccionar coroas de flores. Todas são vendidas em novembro na época dos finados. Esse trabalho é solitário, sua família acha mórbido o encanto de sua mãe pelas o trabalho delicado com as fitas e flores coloridas. De sua mão calejada seu árduo trabalho vai ganhando forma, cor e muita beleza. Após confeccionar uma cora ela é armazena na parede de sua casa, uma ao lado da outra.
Marcio seu filho caçula, no vigor dos seus 18 anos, chega a casa após um dia exaustivos de trabalho. Senta a mesa para fazer as refeições e fica admirando a agilidade da sua mãe na confecção de uma cora, essa ela caprichava dizia ela que sabia que essa seria especial, tinha que ser feito com empenho, pois seria usado por uma alma nobre.
_ Como a senhora sabe disso mamãe, vai me dizer que agora alem de passar horas fazendo esse trabalho, deu para adivinhar quem vai ser o sorteado para usar a sua coroa de flores: Disse Marcio fazendo gracejo.
_ Filho não faça graça com um assunto tão serio, meu coração sente que quem vai usar essa coroa será alguém muito importante.
_ Então serei eu.
Marcio levanta-se da mesa toma a coroa semi-pronta das mãos de sua mãe e põem na cabeça. Ele vai para fora de sua casa pega a moto e começa a rodopiar, dança em volta da calçada desfila orgulhoso com a coroa na cabeça.
Sua mãe acostumada com o bom humor do filho nada diz, fica ao longe vendo as travessuras do filho. Coisa de jovens cheios de fome de viver.
Marcio para a brincadeira dirige-se para sua mãe e diz:
_ Pronto esta aprovada a coroa, ele é resistente e muito bonita ficou ótima na minha cabeça.
Dona Mirtes, abraça o filho. E percebe que algumas fitas haviam sido danificadas.
_ Você estragou a coroa vou ter que refazer esses detalhes vá dormir filho já é tarde, e você me parece muito cansado.
_ Vou sim mãe hoje eu to morto, não quero nem saber de sair, vou tomar um banho e desmaiar na minha cama.
Em quanto faz este comentário o seu celular toca, era Mariana sua namorada.
_ Marcio você pode vir me pegar aqui na faculdade, estou me sentido mal, com muita dor de cabeça?
Marcio se dirige a porta pega seu capacete e joga beijos para mãe.
_ Aonde você vai menino, pensei que estava cansado?
_ E estou, mas a Mariana me ligou esta passando mal, e eu vou buscá-la na faculdade, não vou demorar.
Dona Mirtes volta para o termino de sua coroa, a cada novo adereço colocado ela ficava feliz era impressionante a cora de flores ficara linda, se é que assim podemos chamá-la, haviam flores com tom prateadas, e muitas fitas dourada, esse era seu melhor trabalho e assim as horas iam passando.
Dona Mirtes assustou-se quando olhou o relógio estava quase amanhecendo, e nada do filho, com certeza resolveu dormir na casa da namorada, e quando pensa em deitar-se algumas horas o telefone toca.
_ Mãe é Raul a senhora esta bem?
_ Sim filho estou bem.
_ Esta sozinha?
_ Sim o Marcio saiu desde ontem e até agora não voltou.
_ Mãe, sei que a senhora é uma mulher forte, portanto se prepare a noticia não é boa.Eu lamento.
Dona Mirtes senta-se a uma cadeira, a mãos trêmula ela indaga:
_ O que houve com o meu filho?
_ Eu lamento mamãe lhe falar assim, mas o Marcio sofreu um acidente de moto ontem, ele morreu na hora, e Mariana esta muito ferida.
Na cabeça de dona Mirtes a ultima lembrança do filho, ele com a coroa de flores na cabeça executando a sua despedida.
O cortejo foi silencioso, ao lado do seu caixão a coroa com flores douradas parecia brilhar ao sol, foi a ultima coroa confeccionada por dona Mirtes, desde esse dia ela aposentou seu trabalho e quando questionada ela sempre falava de maneira mansa.
_ A ultima coroa que fiz foi para o meu amado filho, ele escolheu ela para seu velório, e desde esse dia eu desaprendera a arte de fazer coroas, agora quero aprender outras artes, pois a vida me fez fazer a tarefa mais difícil, que é passar a noite confeccionado uma delicada coroa de flores para acompanhar o cortejo do meu filho, e essa foi a ultima, nunca mais quero sentir esse peso no coração.