A Viagem Além de mim...

Eu estava parada, estática... Assistindo a tudo, ninguém me notava.
Em um amplo salão,  macas enfileiradas  baixas, quase rentes ao chão  encharcado de sangue.

Havia muitas crianças  -  dezenas, pequenas, mui pequenas!
Os leitos ocupados por cada uma delas  eram como que,  grelhas  sobre o fogo ardente.
Eu...  Impotente, desesperada,  observava tudo.
Estava clara, a tamanha  dor reinante no lugar. Expressões de dor atroz; bocas abertas,  escancaradas... soltando gritos que não se faziam ouvir.


Braços ao alto, agitados, como a pedir socorro, sem que eu ouvisse som algum.  A linguagem transmitida, através das expressões faciais era compreensível... O silêncio falava tudo! 
No final de uma fileira de macas - a derreter - estava uma criança sobre brasas e,  nada eu podia fazer. O desespero  me assolava, eu  gritava, gritava... Em vão, ninguém me escutava. 

A visão era tão clara, quanto um ensolarado dia. 

Havia mulheres de roupas comuns, ajoelhadas ao chão, com panos rotos... enxugando o sangue que descia das macas como se fosse água. Eu podia ver às grandes gotas  caindo como se fossem bolhas... explodindo em contato com o piso.

Entre às fileiras, ajoelhadas, elas esfregavam os panos que embebiam o sangue que jorrava dos leitos de dor...  a medida que o piso estava sendo limpo - ainda úmido -, novos filetes de sangue escorriam das macas.
 
Observando  a limpeza que as mulheres faziam, um pensamento imediato veio a mim: “Elas estão fazendo essa limpeza, porque está por vir alguém, senão não seria assim...”

Ouvi uma voz suave que me fez entender a visão atroz...

" - Estas são crianças espirituais  que,  em “Minha Casa” são o que querem ser  e, agem contrário ao meu querer."

Que viagem...!


Conto Surreal:A Viagem Além de Mim...  Recife,02/06/09.

EstherRogessi
Enviado por EstherRogessi em 02/06/2009
Reeditado em 15/05/2016
Código do texto: T1628283
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