ACIDENTE ODONTOLÓGICO
Dizem que antigamente a onça tinha os dentes iguais aos da gente, quer dizer, não tão perfeitos. Um dia ela resolveu ter um novo look. Foi ao dentista e disse com arrogância:
- Quero os meus dentes lindos e maravilhosos, iguais ao daquela apresentadora de TV.
O dentista, recém-saído da faculdade, ainda não tinha recebido uma cliente exigente como aquela. E tremendo de medo, começou a passar aquele motorzinho barulhento nos seus dentes. A onça pegou no sono, com o rabão virado pra cuspideira e a bocona aberta. O dentista não conseguia se controlar de tanto tremer. E o seu motor ia desgastando cada vez mais os dentes da felina.
Terminado o trabalho, ele chamou-a. Sobressaltada, ela pulou da cadeira. Ele correu para um canto do consultório. A onça pediu um espelho. Quando viu a sua cara refletiva ali, berrou, o que fez o dentista, apavorado, tapar os ouvidos. Não podia fugir porque ela estava obstruindo a porta.
- Não era assim que eu queria! – berrou a fera.
O dentista gaguejou:
- Mas...
A onça caminhou na sua direção, mexendo o rabão pra cá e pra lá e repetiu:
- Não era isto que eu queria!
Depois se virou na direção da porta, pensativa. O dentista, como era magrinho, cogitou fugir pela janela, mas a janela do consultório era tão pequena que só dava pra passava um pombo. A onça olhou-se novamente no espelho. O dentista tremia de medo, apoiado numa mesinha. A fera mirou-o com aqueles olhos opacos e disse:
- O senhor fez os meus dentes pontudos, iguais a pregos!
O dentista pensou:
- Tô perdido! Hoje é meu dia! Me ferrei!
- O senhor fez os meus dentes pontudos iguais a pregos! – repetiu. Tudo bem! É até bom! Quando alguém vier me cutucar com a vara curta, eu encosto meus dentes no braço dele, só pra fazer uns furinhos.
P.S.
Escrevi este conto inspirado no dito popular: cutucar a onça com a vara curta.