O HOMEM QUE RIA MUITO
Primeiro você ouvia o riso – Qua, Qua, Qua, Qua, Qua! Depois o homem aparecia. Ele só parava de rir quando dormia. Tudo havia começado quando tinha vinte e cinco anos. Ao atravessar uma rua sem olhar para os lados, uma carreta carregando oito automóveis novos, freou a dez metros parando a um palmo de distancia de Costa Neto – esse era o nome dele. Quando ele notou o que a carreta teria feito dele se não freasse, o susto foi tão grande que ao invés de chorar, sorriu - Qua, Qua, Qua, Qua, Qua! Dali em diante não parou mais. Foi levado para o hospital, mas lá também continuou rindo, até tomando injeção - Qua, Qua, Qua, Qua, Qua!
Quando sua avó morreu, ele foi impedido pelos parentes de ir ao enterro, mas depois, disseram que ele tinha direito de se despedir da avó. Prometeu ficar longe, mas no cemitério, a gargalhada aumentou - Qua, Qua, Qua, Qua, Qua, - Qua, Qua, Qua, Qua, Qua!
Só quem não o conhecia, ficou aborrecido com tantas risadas. Outros acabaram rindo também - Qua, Qua, Qua, Qua! O jornal foi a casa dele fazer uma entrevista, mas foi muito difícil, ele não conseguia falar...Só rir - Qua, Qua, Qua, Qua, Qua!
No seu armário havia muitos remédios, inclusive, calmantes... Outros falaram por ele à reportagem.
Depois daquele susto aos vinte e cinco anos, ele não teve mais nenhuma namorada. Por causa do riso ele parecia uma pessoa feliz, mas não era não. Tudo o que ele queria era parar de rir. Muitas vezes ele se meteu em apuros, como da vez que um homem gordo correu atrás dele para o esbofetear. Também uma senhora junto do seu namorado quinze anos mais novo lhe deu umas tapas. Ainda há o caso do careca que quase o matou enforcado.
Costa Neto também não podia trabalhar porque não conseguia se concentrar enquanto ria. Não podia entrar na piscina porque engolia água enquanto ria - Qua, Qua, Qua, Qua, Qua, Glub, Glub! Muito mal conseguia almoçar, muitas vezes engasgava – farofa nem pensar! - Qua, Qua, Qua, Qua, Cof, Cof!
Mas ele já completava trinta anos quando a cura apareceu – enquanto passeava pelo jardim da cidade, olhou para a grama, estava atrás de uma roseira na sombra, naquela manhã, um pequeno menino. Devia ter uns dois anos, dormindo numa velha toalha. Mais a frente ele viu uma mulher, que pedia umas moedas aos que passavam. Ao chegar até ela, ele tira do bolso todas as moedas e lhe entrega. Vê sua roupa, suja e rasgada e diz – Mulher, você me curou! – sem entender nada, ela lhe dá um sorriso e Costa Neto vê seus dentes estragados. Ela guarda as moedas e não agradece. Parece que a miséria fez-lhe perder também o senso de gratidão.
Costa Neto chega em casa e para a surpresa dos pais e irmãos, primos e sobrinhos, ele não está rindo nem um pouco. Todos começaram a rir quando vê aquele homem sério. – Vocês estão rindo? –Diz ele – o negócio é mais sério do que vocês pensam!