PARAÍSO DE ALICE
FOI MESMO algo muito engraçado. Tudo o que queríamos era visitar Florzi. Ver o mar de Florzi, as zebras que andam nas ruas da cidade, lembrando aos motoristas a velocidade máxima de vinte quilômetros por hora. A turma já estava toda ali, no ponto de encontro em frente a casa de show Ângela Regina. O ônibus da excursão logo chegou e embarcamos para uma aventura sem igual. Todos nós jovens, não marcamos nenhuma pousada na cidade, lá nós resolveríamos e caso não encontrássemos alguma que pudesse pagar com nosso pouco dinheiro, então todos dormiríamos no ônibus estacionado em alguma praça. Havia uma expectativa muito grande, nenhum de nós havia visitado a cidade mais romântica do campase. A cidade de Canroberto de Luca, de Rosa e Jasmim, a cidade de Panudo, de Pérola, quanta gente bonita! Queríamos conhecer a montanha do elefante, a cratera de Lobau, o mar de Florzi, se possível a ilha de Sansma, (aí será bom demais!). Todos nós estávamos radiantes de felicidade, uma sensação inexplicável, minha mãe do lado de fora do ônibus observou isso, quando se despedia de mim... Só se ouvia risos dentro do ônibus, alguns em pé, não querendo sentar-se... e assim, logo chegamos em Picópolis, depois Coral, Passarópolis, e... foi ali na estrada logo após Passarópolis que o ônibus parou. O motorista anunciou a hora do almoço e ele parou junto a entrada de um grande sítio e havia uma placa com o nome Paraíso de Alice. E após almoçar numa tenda armada fora do ônibus que me bateu uma curiosidade enorme: queria ver o sítio de perto e fui até o portão. A turma do ônibus me desanimou quanto a ir até lá, mas minha curiosidade era grande, pois o nome Paraíso me atraía, porquanto eu vivia numa selva de pedra, como era conhecida a minha Tinákia. E duas das moças da turma, Elane e Débora foram comigo até a entrada. O vigia veio até o portão com cara de que suspeitava de nós e uma linda menina veio atrás dele, parecia uma boneca com seu vestido branco rendado e ela dizia atrás daquele homem uniformizado de guarda: “Deixem entrar, eu já os esperava!” O guarda abriu o portão e nós entramos porquanto a menina já insistia dizendo: Entra! Entra! Entra!. E sorrimos, cumprimentamos a menina com beijos e ocorreu a Débora exclamar: “Como você ta linda Alice!” E assim o guarda achou que nós éramos conhecidos dela, esquecendo ele que o nome da menina estava gravada na placa em madeira: Paraíso de Alice. A menina estava muito feliz com a nossa presença e começou a nos mostrar os canteiros de flores nos gramados da propriedade aos poucos foi nos levando até a varanda da casa. Neste ínterim, vimos cavalos, coelhos, patos nos lagos e uma piscina que refletia o azul do céu. “Meu pai criou isto tudo para mim em mil novecentos e noventa”. Ora, nós fizemos uma conta de cabeça e calculamos que tudo aquilo teria então dezessete anos, mas de forma alguma aquela menina teria dezessete anos, no máximo teria uns dez anos. Quanto perguntada ela revelou: tenho onze anos. Sua mãe nos viu da varanda e veio de encontro a nós com sorriso no rosto. Depois de breve saudação, Débora mais uma vez perguntou: “Ela tem onze anos, mas disse que seu pai construiu esse paraíso para ela há dezessete anos, é isso mesmo?” A mãe confirmou. “Há exatos dezessete anos o pai dela começou a plantar a grama e a construir a casa e a casa das bonecas, a piscina”... – neste ínterim a menina corria para dentro da casa e ia buscar o álbum de família. E realmente estava lá, tudo registrado em fotos. Havia máquinas e tratores em cima de um terreno barrento, caminhões que traziam gramas e operários por todo lado uniformizado e com seus capacetes. A mãe da menina disse que o pai dela já tinha preparado tudo com seis anos de antecedência, prevendo o nascimento de Alice. “E se nascesse um menino?”pergunta Débora. – “Não sei como seria, talvez ele demolisse a casa das bonecas ou esperaria Alice em outra época”. Saímos dali muito felizes e marcamos voltar n’outro dia, era tudo o que a menina queria. Entramos no ônibus e fomos para o nosso destino. Na cidade romântica vimos tudo que queríamos ver, mas o que mais amei conhecer estava no caminho de Florzi, o paraíso de Alice.