O QUE FOI FEITO DA MINHA OLIVETTI?
Aonde ficou aquele verão? Passeávamos pela orla de dia e à noite íamos ao parque. Pipocas e sorvetes faziam o nosso cardápio. Além dos tradicionais brinquedos havia um no qual cabeças de Bozo vomitavam Pez sabor limão, Dona Marta falava pelos cotovelos, enquanto seus netos pisavam em ovos de avestruz amarelo pimentão. O homem da cobra espalhava maledicências inúteis sobre os governantes de plantão e, acima das montanhas de lixo, crianças felizes soltavam pipas falantes. O caos se instalou na comunidade. Crescemos e nada mais tranqüilo que as nuvens no céu que refletido nas caixas fluorescentes das salas e quartos, mostrava anjos tortos e paralíticos entoando musicas da Broadway. Tim Maia voltou dos mortos cavalgando as ondas do radio, acompanhado de Elis Regina e Raul Seixas. Ninfas nuas, com flores nos cabelos dançaram na fumaça e pensaram fazer o mundo. Continuamos a crescer nesse Planeta completo. Nada mais supérfluo que os programas femininos e os bispos. Tagarelas incompetentes, espalhados pela urbe, informam inutilidades superficiais. Todos ouvem samba, na verdade cada um à sua maneira. Alguns com partituras medievais. Pernilongos invadem a faixa enquanto os bem-te-vis nada vêem. Filologistas desocupados inventam novas formulas dodecafônicas, quase absurdas. Um dos presentes leu Burroughs. Tivemos filhos e na memória passamos as tardes na varanda, escutando as estórias do vovô.