Pousada Maranata: o tempo não pára

Naquele dia me parecia que o mundo e as suas mazelas estavam impregnada de escuridão. Nada naquele momento fizera lógica, a miséria do mundo estava completamente ali. Diriam que a barbárie ali chegara há muito tempo... E ali ficara! Os fluxos inconscientes que aquela paisagem proporcionava-me, especulativamente eram de dor e sofrimento. Nunca vira enquanto tempo que existi, uma coisa tão sofrível. Aquelas velhas madeiras... Ainda lembro muito bem! Tudo parecia tão triste, mas no fundo... Existia a liberdade, Liberdade que também nunca vira em lugar nenhum.

Passam-se os ventos e as chuvas... Nada de novo acontece. Vivo incessantemente procurando qualquer abertura no real... Para poder me lambuzar no imaginário. Os dias aqui parecem serem intermináveis, nada sai do lugar, nada muda, mudo mundo de nada é aqui. Até parece foto... Tudo nas contempláveis paralisação; Tudo que um dia não foi nada permanece estável, sem mudança... Nada de novo!

O velho animal que todos os dias descansara aqui, agora foi embora! Lembro que mesmo naquela melancolia profunda de nossas vidas cruéis, mesmo quando o sofrimento e o desespero nos martelavam, mesmo ainda quando existir pra nós não significava absolutamente nada... A sua companhia me trazia afeto insolúvel ao meu descontentamento.

[...] O cronos é incrivelmente organizado... A cada milésimo de segundo que passa, já não é mais o mesmo. A cada partícula atravessada no tempo das horas, não é mais igual. O mundo segue correndo no tempo; um passo, e você transporta-se para outro plano, outro anglo, outro universo. Todavia aqui nesse “canto” parece-me está no mesmo tempo, paralisado e contínuo nas suas imagens, nas suas maneiras... Em todo espaço!

A Pousada Maranata, hoje sombria e desconcertante, pois é a sua única forma de existir, convive entre choros e sorrisos, não sei se necessariamente os sorrisos são expressos, porém, desconfio que ainda nesse resto de mundo, nesse espaço inativo... Os risos têm umas figuras estáticas, imóveis, como se os tempos que passara não existisse mais, como fossem uma lembrança dos tempos estátuas.

A pousada, já no seu tempo de origem, vivia muito só. Sempre que pensara nas novas condições, nas novas tecnologias e nas novas formas estéticas para se modelar e acompanhar o rítimo universal, me surpreendia com minha velha imagem: deprimente, escura e sem esperança. Um dia um cachorro, desses de rua, chegara de mansinho naquela triste pousada; não sei o que ele achara daquela visão, que muitos tinham medo ou sentiam pena... Sei lá! O animal que por experiência da vida (empirismo), não tinha em seu semblante o estereótipo do medo, e sim o dá incrível brandura de um ser tímido, mas totalmente compreensível.

Já é noite na pousada, e tudo não passa de um preto e branco... Não tem luz, mas também não tem dia!... Como poderá ter luz se não tem dia? Se não contendo dia as ações tecnológicas não passam de uma mera ilusão. Vivi-se no escuro o tempo todo... Por isso os olhos não definem as cores, sem um aclarar, os olhos só definem o preto e o branco.

Passamos a viver em um tempo extremamente de trevas, soturno, sombrio... A esperança é a última que sobrevive e não a que morre!

Aqui tudo parece perdido, tudo parece ser... Não, não!... Tudo parece não ser nada. Tudo enfim não tem lógica, coerência, razão... Usem o sinônimo que quiser. Contudo o nada é um ambiente propício para várias colocações, ou conceitos... Como seja! Sei que para qualquer conceito ser formulado, e ainda mais quando falamos da Pousada Maranata, precisa-se de um vazio... Não necessariamente nada, mas um vazio onde possa ser preenchido o que venha a ser o tempo.

Tudo vive bem agora, os dias não são mais semelhantes, tudo que um dia me custou tanto, tanto padecer... Agora não sinto mais tristezas, nem dor e nem sofrimento. Posso até ousar dizer: agora eu sou feliz! No entanto, ainda me cabula um resquício de pensamento do qual não me sinto muito bem... Sempre dá aquele friozinho na barriga, aquela sensação de premonição, ou aquela intuição premeditada quando sinto aquele detrito do pensamento: será que realmente estou vivo?... Será que toda essa liberdade e melhora que sinto não é a morte? Será que a morte segue nesse jogo como vencedora e triunfa sempre sobre nossas vidas? Mas se estou morto, como ainda penso? Se a morte é o caminho do nada, como podemos desfilar nessa incrível estrada escura da qual nada se pode vê, pois nada se tem. Será que quando morremos - EU, ANIMAL e POUSADA, nosso ser é muito mais do que pensamos ou imaginamos, pois a indestrutibilidade do ser é a causa maior da existência infinita?...

Pois, vos direi que não sei. Nem como estou aqui, nem como falo nesse momento, entretanto intuitivamente professo: o tempo não pára!

Grégori Augustus Reis
Enviado por Grégori Augustus Reis em 04/03/2009
Reeditado em 05/03/2009
Código do texto: T1468967
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