Confissões noturnas
Geralmente mulheres conquistam-me com palavras corretas, postura idem e confirmações posteriores do que revelaram no passado e presente.
Eis o flerte da semana: Olhos verdes, carismático (nem meu pai me chama assim) e bonito. Até ai tudo bem. Permaneci enconstado no canto do trem aguardando a estação Barra Funda para descer. E que barra, era desviar o olhar daquela ruiva... Ela quem dominava o ambiente e a situação.
Fiquei parado e me sentia como um rato fugindo de uma gata. Por não saber como reagir. Ela se aproximou e perguntou as horas. Quase suando respondi: "onze e quinze", ela se entristece e diz: "perdi a hora". Pensei comigo, essa é a cantada mais esperta que alguém já teve comigo, e continuei: "para onde você pretende ir?
"com você eu vou até para o inferno" disse lentamente perto da minha orelha esquerda. Caraca bixo, aquela mulher só podia ser a reencarnação da Marilyn Monroe.
Nunca senti tanta determinação feminina para com um desconhecido na minha vida, era impressionante sua decisão e inciativa. Sai um pouco do prumo, mas contive-me. Se dependesse dela, quente como estava poderiamos transformar o vagão numa ala privativa do inferno paulistano. Era fogo, digo, ela tinha fogo... E como era fogosa...
Minha santa protetora da beleza feminina, com certeza a senhora gostava daquela ruiva. Imaginei mulheres assim em poemas, outrora em roteiros de teatro. Mas na vida real isso só poderia acontecer em Hollywood.
Eu nunca passei pelo Memorial da America Latina sem notá-lo. E devo contradizer o Niemeyer, prestar-me a conclusão que as curvas da minha companhia eram melhores do que a do seu projeto arquitetônico, muito mais bonitas. Nenhum projeto dele poderia superar o DNA dela.
Relampejei em pensamento que certa vez conheci uma outra ruiva que se chamava Renata, dela também me lembrava com alegria e cheguei a pensar que não teria oportunidade de encontrar outra mulher espetacular como ela. Então voltei para o planeta Terra. Parados um olhando para outro, questionamos simultâneamente: é você? Impossível. Era ela. E até a forma de questionar era igual. Não podia ser verdade, mas era.
Renata se submeteu ao passado, não conseguia acreditar naquilo. Um perfeito caso de surrealismo idealista, memorizado ou oportunista? Devo proceder e acreditar que nosso destino é estranho e consegue nos proporcionar algo além do que foi previsto? Nunca planejei nada com Renata, aliás esses reencontros nunca nos revelam nada. Mas revê-la chocou. Magnetizado até o momento que teclo, novamente refiz a poesia que só ela pode inspirar nas noites acizentadas de São Paulo.