Surto noturno
Gritos dispersam-se na noite de um sono inquieto e negam as atrocidades vistas de cima dos edifícios da vida urbana. O salto do décimo andar e as vozes: Não!!! Não!!! Nenhum socorro. Só o tropeço de mais um dia. Suicídio dos pensamentos e das vivências. O cotidiano que atropela, enforca, provoca o pulo das horas que se matam a cada minuto.
A luz do abajour ainda acesa não afasta o medo da vida se esvair no sono: o pavor dos olhos não se abrirem, da pele se esfriar em pleno verão no hemisfério sul. Chove novas imagens em sonhos das distorções do presenciado que o inconsciente capturou e procura neurotransmitir em pulsos para o corpo inerte.
A madrugada afina a jornada do observador, mas são só imagens, nenhuma lembrança de cheiro no corpo em estado de latência sonífera a vitrificar o desapercebido pelo consciente. Falas noturnas tentam codificar o não-dito, recalcado e na protuberância das figurações noturnas os contornos embaçados dizem mais que cores vivas e o contraste é marcado pelo que a mente ofusca e o som revela.
Quem escuta tenta interpretar o surto dos pensamentos revelados em sonho, mas a hora tarda e nenhuma codificação é possível sem a senha gravada pela adormecida. A escuridão da noite passa e o mistério segue até um novo dia que produzirá outros roteiros transformados em paranormais no sistema neuro sem lógica.