Aquário.

Abro minhas portas para o fundo do céu. No canto do quarto há um pequeno aquário no qual brilha uma mínima porção de luz. No interior os peixes se devoram e cagam a si mesmos cada vez maiores. E assim: comendo e defecando eles fazem o aquário crescer.

Estamos como peixes, somos pequenas criaturas presas comendo umas ás outras. Eu como minha mulher todos os dias e ela geme como se houvesse um pequeno demônio invadindo seu corpo. Enquanto ela geme as paredes vão se fechando até minha crise claustrofóbica não me deixar trepar mais.

Recomponho-me, coloco meu membro pra dentro da calça, ela some como num passe de mágica, as paredes já estão normais, o aquário torna-se escuro, os peixes fedem, fecho as portas, digo: dane-se o fundo do céu.

Levanto, meus joelhos doem, não consigo ouvir o padre.

Faz uma hora que a missa acabou.

**

De tempos em tempos eu caio na água, ela é fria e tem pequenas bolhas. Sento nas almofadas e eles vêem falar comigo, bendito seja esses peixes que dão atenção á mim, sou pequeno e mofado naquele aquário, parece mais que sou um fungo, uma bactéria de privada, privando-me todos os dias de sair e escorrer pelo ralo.

Toco o silencio, os peixes dormem e o motor pra dar oxigênio á água esta desligado, desço pelo ralo que há no teto do porão, caio na cama, estou encharcado. Eu não estava no aquário o aquário estava em mim, minhas mãos sangram, “continuo sonâmbulo”-digo a mim mesmo, faço curativos, “vou voltar á dormir”. Ah, “Eu não posso dormir”-contesto minhas próprias idéias.

Vou até o quarto, ainda tem um pouco de cocaína, não posso dormir, se dormir posso não acordar. “dane-se”, mais uma vez eu falando comigo no apartamento da casa com paredes acústicas. Cadê Deus para livrar-me do sofrimento?

Estico mais uma, duas, três infinitas carreiras de cocaína, serro meus pulsos, “ninguém precisa de Deus quando se tem cocaína e estilete”.

Uma luz está se acendendo á mim, vem um anjo de Deus tocar-me o pulso, é incrível como o uniforme doa anjos e os médicos são idênticos. Ouço uma voz ao longe dizendo coisas retorcidas que consigo decifrar aos poucos:

_ Novamente isso, convulsões por causa do medicamento, tire-o da cama, ponha-o na cadeira de rodas e leve-o para tomar banho.

Essa água que cai parece água da chuva que eu jamais poderei sentir. Novamente essa picadinha no braço.

Volto para o quarto, abro as portas, as paredes. Minha mulher me espera com meus filhos que não tenho.

Agora agradeço á Deus por tornar-me santo.

Deimien Deinch
Enviado por Deimien Deinch em 23/01/2009
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