O monstro

Nasceu em uma floresta.

A floresta:

Predominantemente cinza, mas não completamente cinza, essa cor mandona está em quase todos os lugares dessa floresta. Cinza, cinza, cinza, cinza...

Algumas partes dela têm uma concentração de tons diferentes, destacados, marcantes. Cores, dores, cores, nunca, mas nunca mesmo amor.

Onde há cores além da “cinzetude” é o verde que chega primeiro e sobre ele, vem as demais.

O vermelho destaca-se sobre o verde, escorrega, se espalha, sangra.

Um tal de rosa é saltitante, onde nasce se mantém, porém pula sem parar.

O laranja pisca.

O preto caminha livremente entre as demais cores. Sim, o preto é livre.

Ainda que livre, ele, o preto, não sai. Nunca sai do verde.

Assim as cores ficam organizadas.

Um certo vento gélido sopra sem parar, a força dele em algumas partes coloridas chega a arrancar as cores, mas não arranca as raízes, elas voltam, são teimosas.

Além de cores e vento há algo estranho nessa floresta.

Um cheiro, um só...

Um estranho cheiro.

É impossível dizer se é bom ou ruim, o maior destaque é apenas seu ardor. O único visitante da floresta quase morreu ao respirá-lo.

O que mantém isso tudo vivo é o lago.

O lago imenso e borbulhante, não tem água, tem lodo. Bem no meio dele há uma chama de fogo.

A chama nunca se apaga.

Se o preto passar por ela morre – essa mania de liberdade dele pode causar fortes danos.

As cores estão em algumas partes do lago, algumas.

O monstro:

Um dia, um homem visitou a floresta, sentiu tanto medo que suou.

O suor dele pingou no ponto raro e exato onde as cores se uniam.

Houve uma explosão.

Surgiu o monstro.

Após rebentar em cores, ganhou vida e escolheu sua forma.

O ser, a coisa, o... O.... O.... O monstro, é claro!

Ele...

Imenso. Muito alto, também largo, seu corpo é arredondado como um bolo de carne gigante, mas não é carne, mas sim coisa. Escorregadio, cheio de tentáculos, olhos negros que tomam quase toda parte superior de seu corpo – aqui cabe uma observação, não há separação de corpo é cabeça, é tudo uma coisa só, a única coisa que se destaca fora do grande corpo são os tentáculos, esse tentáculos serão ferramentas importantes para sua movimentação, já que ele não tem pernas – pois então, os olhos são carregados de algum sentimento não identificado.

Sua cor? Marrom.

Ele está vagando pelo mundo, é livre, é a dor que os humanos não querem sentir, e a alegria que não se espera – as cores não sentem nada apenas são partes da floresta. Talvez elas evoluam e passem a sentir.

Pelo menos uma vez ao dia ele olha nos olhos dos humanos, de todos.

Alimenta-se de cada ação, verbalização ou pensamento tomados de falsidade.

Ninguém nunca o vê, mas sente-se forte quando esse contato invisível acontece.

É tudo menos dominável, suportável ou bom.

Ele te faz mal, mas você acredita que isso é bom. Os valores desta relação estão invertidos.

Ele está solto, passou por você hoje em algum momento, nesse momento ele olhou nos seus olhos.