REVELAÇÕES SEXUAIS

Descobri, estarrecido, que a minha ex-mulher resolveu escrever um livro com revelações sobre a minha vida sexual aproveitando-se do fato de que agora eu sou uma celebridade. Trata-se, obviamente, de uma estratégia sórdida e oportunista pra ganhar dinheiro às custas da minha reputação, que os meus advogados prontamente irão coibir assim que o livro sair da gráfica. E se os meios jurídicos não forem suficientes para impedir o lançamento, estou pronto para apelar a outros artifícios, como o recrutamento de um esquadrão de piromaníacos que já se prontificou a incendiar algumas livrarias, desde que eu pague um por fora pra cerveja.

Infelizmente com o advento da internet, já está no ar um blog que antecipa os primeiros capítulos do livro nefasto, que nada mais é do que um pouporri de baixezas à meu respeito que ruborizariam até a Leila Lopes. Portanto, aproveito esse espaço e o fato de que esse site é lido pela minha mãe, para desmentir inverdades que dentro de pouco tempo estarão na boca do povo, o que certamente vai fazer da minha vida social algo tão insuportável quanto um final de semana trancado num quarto escuro tendo como única companhia um bode no cio.

É preciso de cara, esclarecer que não fui iniciado sexualmente pela minha vizinha de setenta anos de idade, a dona Loreta, muito embora ela tenha me recebido nua da cintura pra cima quando fui ao seu apartamento atrás das jujubas que ela havia prometido me dar no Dia das Bruxas. Dona Loreta era, de fato, uma senhora imprevisível, que após me assediar nesse episódio, foi internada numa casa de repouso de onde ela saiu completamente curada, até o dia que recomeçou a distribuição de jujubas no playground, dessa vez, nua da cintura pra baixo. Também é preciso deixar claro que a minha paixão por Dona Loreta foi absolutamente platônica, muito embora tenha sido difícil explicar o significado da palavra "platônica" pro meu pai, já que ele não conseguiu parar de gritar durante dois dias, depois que flagrou eu e a minha idosa vizinha tomando banho juntos na minha banheira de plástico.

Ao contrário do que disse a minha ex-mulher no capítulo dois, minha primeira namorada não foi a minha cadela Abigail, muito embora eu sentisse algo muito belo e também platônico por aquele animal, pelo menos até o dia em que levei uma mordida na nuca durante uma brincadeira infantil chamada “gato mia”. Na realidade, eu aprendi o que era o amor com uma modelo húngara de um metro e setenta e dois, seios volumosos e boca carnuda que conheci em março de 85. Durante longos meses, vivi momentos de extâse com essa mulher até que a minha mãe arrombou a porta do banheiro ao suspeitar que os gemidos que vinham de lá de dentro pudessem ser resultado de um escorregão no azulejo. Depois disso, a minha revista Playboy foi jogada numa fogueira e foi por causa desse episódio que mamãe resolveu me internar num colégio de freiras, de onde fui expulso quando descobriram que a idéia de vestir uma boneca inflável com um hábito bizantino tinha sido minha.

A crise de choro que eu tive num prostíbulo, mencionada pela minha ex-mulher no capítulo três, de fato aconteceu, mas é bom que se diga que eu só fiquei nervoso daquele jeito porque sou alérgico a determinadas pomadas. E se o meu relacionamento com a Veruska, que era garota de programa, acabou de maneira precoce, isso só aconteceu porque ela resolveu não aceitar mais meus cheques pré-datados depois de descobrir que o meu nome estava no Serviço de Proteção ao Crédito. Foi um momento muito duro na minha vida, onde durante muito tempo, a solidão foi a única presença constante na minha cama, o que era bem desagradável, principalmente quando ela puxava o meu edredon no meio da madrugada, me fazendo acordar de frio.

Foi quando eu conheci a Camilinha, que ao contrário do que diz a jararaca da minha ex-mulher, sempre depilou as axilas, muito embora não tivesse o mesmo cuidado com o buço, o que lhe garantia uma leve semelhança física com o Charles Bronson. Lembro, como se fosse hoje, de uma das nossas mais selvagens noites de amor. Estávamos juntos numa barraca, acampados no meio de um mangue, cercados de moscas, aranhas e caranguejos, e enquanto a Camilinha me perguntava em meio à tapas na cara, por que que eu havia comprado o pacote econômico pra aquela viagem ao nordeste, eu saquei um par de algemas. Subitamente louca de desejo, ela uniu o meu pulso direito ao seu tornozelo esquerdo e durante horas nos entregamos àquela aventura sadomasoquista que poderia ter rendido lembranças mais agradáveis se eu não tivesse perdido a chavinha do apetrecho no meio do lodaçal. Fomos encontrados, ainda nus, por uma equipe de resgate umas doze horas mais tarde e depois disso, inexplicavelmente, a Camilinha me deu um pé na bunda.

Foi somente por causa da fossa causada por aquela separação que fiz determinadas bobagens das quais me arrependo como, por exemplo, ter me apaixonado por um peixe. Então, durante uma inocente sessão dos Alcoólatras Anônimos, conheci minha mulher. Foi uma atração irresistível, consumada ali mesmo, na ante-sala da reunião, muito embora minha mulher declare não se lembrar do episódio, talvez porque estivesse completamente bêbada. Nos primeiros anos de relacionamento, tudo transcorreu em grande harmonia e ainda que ela diga no livro que ficou ofendida, a idéia de convidar a nossa empregada pra um menage à trois foi dela. Meses depois, ela disse que eu poderia procurar outra mulher, porque se sentia tão atraída por mim quanto por uma enceradeira. De fato, eu procurei, e naquela mesma noite, minha mãe me recebia de braços abertos em sua casa, dizendo que eu poderia ficar por lá quanto tempo eu quisesse, com a única condição de nunca mais trancar a porta do banheiro.

Leonardo de Faria Cortez
Enviado por Leonardo de Faria Cortez em 07/12/2008
Reeditado em 08/12/2008
Código do texto: T1323955
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