ESTRANHOS CAMINHOS DO BEM.
Lecy Cardoso-4/12/08
Mal havia amanhecido, acordei sentindo o peso da dor do mundo, meu olhar se perdeu fitando minha imagem no espelho gostou de meu rosto e sorri, não era um homem feio, meu rosto parecia cansado e meus cabelos tinham as marcas de um tempo vivido eu não percebera. Cobri a face com a espuma de barbear e lentamente passei a navalha pela barba negra que já despontara sem licença cobrindo meu rosto, de repente um jato de sangue respingou meu espelho, fiquei olhando pequenas gotas de sangue rolando na imagem refletida e de um salto voltei-me para dentro de mim mesmo e lembrei:
- Bom dia ! Disse o policial com o semblante preocupado
- Sim ?. Falei ao abrir a porta.
Aquelas palavras banais iniciavam um drama que até hoje eu não entendia direito, não conseguia aceitar.
-Houve um acidente na Avenida Marcondes e sua filha e esposas estão no hospital. Dissera o policial.
Não sei o que pensei na época, apenas voltei-me para o sofá pegando meus documentos e sai rumo ao hospital, quando cheguei ao hospital lembro que fiquei tão agoniado que nem me dei conta de que eu não tinha esposa e muito menos filha. A enfermeira me chamou para um canto e me explicou que Márcia minha esposa esta em coma e que minha filha havia quebrado um braço, tentei sair do choque e explicar que havia um engano, mas não consegui logo chegaram outras pessoas que me abraçaram tentando me consolar eu não conseguia falar tal era a dor.
-Claro que estavam me confundindo com outra pessoa, não era possível. Pensei.
Foi quando alguém me pegou pelo braço o me levou para o bar do hospital, era um rapaz de uns vinte anos, cabelos crespos e olhos azuis com uma longa cabeleira loira, então me disse:
- Pô cara podia pelo menos dizer que não era você.
Enfiei a mão no bolso do casaco e peguei um cigarro, acendi olhando para ele e perguntei:
- Como sabe que não sou eu, se todos dizem que sim?
- Por que eu conheço o Armando e ele morreu. Disse baixinho.
No momento não tive palavras para me defender e fiquei pasmo, o rapaz vendo minha indecisão disse quase chorando:
- Calma, por favor.
- Espera você vai me explicar o que esta acontecendo aqui.Disse pegando-o pelo braço.
- Que isto cara, espera um pouco mais que eu te explico tudo, confesso que eu também me confundi quando cheguei mas depois de alguns minutos percebi que não poderia ser, desculpa não me apresentei eu sou Eduardo irmão de Márcia, e você quem é? Perguntou.
- Eu sou Carlos Alberto, e nem sei por que estou aqui, deveria ter dito a policia que não era eu, mas não deu tempo e fiquei curioso, mas ao chegar logo fui confundido e não quis magoar as pessoas que pareciam me conhecer. Eu disse.
- É eu também me confundi, mas agora ao acender o cigarro vi que não poderia ser o meu irmão, ele não fumava, a alguns meses ele desapareceu ontem alguém deu o endereço de você para minha irmã e ela estava indo ao seu encontro quando houve o acidente, e como não temos parentes ninguém vai saber, me ajude cara.Me sugeriu ele que eu ficasse com a menina pois ele não teria condição.
Estranhos são os caminhos, eu poderia ter ido embora, ter desaparecido também, mas permaneci no hospital e na vida daquelas pessoas até hoje. Márcia continua em coma, minha suposta filha esta dormindo daqui a pouco vou acordá-la para levar a escola, minha mãe veio do interior para cuidar de nós e ficou muito feliz de ter uma neta e prometeu guardar segredo..
Eduardo vem me visitar todos os dias, pois é professor de uma escola aqui perto, nunca comentamos o ocorrido, mas prometemos um ao outro guardar este segredo afinal não existe ninguém que venha nos desmentir.
Peguei um pedaço de papel e limpei o sangue no espelho, terminei a barba e fui chamar Michelle para a escola, o café estava pronto, minha mãe estava sentada a mesa escutando noticias como fazia todas as manhãs, o rádio dava destaque a uma noticia policial, haviam encontrado o corpo de um homem num bairro da cidade, até ai tudo bem, mas quando colocou a foto do mendigo minha mãe derrubou a xícara de café e deu um grito, o homem na TV era igual a mim..