Lágrimas de Outono
A manhã deu em neblina.
O sol raiava alto, sentia frio. Era interno, nascia na alma e se espalhava pelos poros, pelos mundos, pelos furos, pelas veias.
A manhã era reflexo do seu próprio amor em pedaços expostos.
As árvores em pleno outono, secas. Sem graça. Como a desgraça que descia pela calçada, escorrendo entre olhos vermelhos e rasos de água.
A primavera se foi?
Não, não veio. O enleio entregue ao assombro das somas.
Descaso, descrença nas entranhas flácidas da manhã desbotada.
Queria encontrar no lago o reflexo de sua amada.
Derrotado, no reflexo do lago via sua alma torta cogitar planos de esperança.
Abandonado pela noite, feito uma criança.
O que era agora?
Lapso de tempo sozinho em sua aurora?
Ou?!
Narciso implorando para morrer, não suportando a beleza vazia contida em sua alvorada?
Maior que a própria tristeza, apaixonado, o dia não deu em nada esperava apenas por sua amada Noite, com ou sem luar encantador.
Veio fria, carregada de pesar e agonia.
O dia ansiava por prazeres ainda que pequenos, mas a noite se afastava para outros terrenos. Então o dia pensou conquistá-la com seu brilho.
Pediu ao sol que brilhasse com força, teve fé.
A noite não queria companhia qualquer, queria era escurecer até mesmo, corações.
Em contra partida, partiu para o oposto do desejo do dia.
Busca interna. Incansavelmente a noite corria contra o encontro do dia.
Ambos imersos em desencontros verteram lágrimas no outono desbotado.
À noite, por alegria. O dia, por que a queria.
O dia com seu brilho interminável, à noite com seu luar impenetrável.
Ao acaso passou pelo dia, uma estrela que se dizia cadente, ao notar a tristeza do outono pela tristeza do dia, pergunta:
Oh dia, que há de errado?
O dia mal querendo contemplar aquela estrela fria disse:
-Amo a noite e sou dia, como posso querer brilhar se a noite não quer minha alegria?
Então a estrela disse:
-Meu caro dia, sem tu a vida não existiria, pois seu brilho é que faz florescer os verdes campos e por ele é que os homens sem mantém.
À noite, sente inveja, pois seu brilho toma emprestado do mesmo sol que está sempre a seu lado. Somente através da lua é que ela pode se iluminar.
Ambos têm seus destinos traçados e se ela não pode estar a seu lado, talvez seja por que não suporta o seu brilho ou é justamente a distância que a completa.
Uma vez me disse o sol que se apaixonara pela lua e a lua vivia a fugir-lhe os encontros.
Porém um dia inevitavelmente, com a força do destino, encontraram-se formando um harmônico eclipse.
O destino se encarregou das providências e após o encontro, o sol percebendo as inconstâncias da lua teve medo e deixou-a partir, ficando mais uma vez sozinho...
O dia não queria viver sem a noite, mas entendeu que nunca teria sua companhia da maneira que desejava.
Porém agora sabia que por sua causa é que a noite existia.
Nem toda noite existe uma lua que brilha e muitas vezes a beleza da lua, se torna uma beleza fria e a escuridão da noite, não passa de uma noite vazia.