Quando Cefaléia ficou grávida, não imaginava que passaria por fortes emoções com a futura filha, Lúcula.
Estrelário, o pai, esvaiu-se no espaço antes do nascimento da filha.
Lúcula não veio integrar-se ao Cosmo através de um parto normal. Cefaléia encontrava-se no jardim, cuidando das bromélias, enquanto um sol de primavera se punha no horizonte, reverberando nas nuvens cores múltiplas, quando notou um brilho intenso se movimentando no útero. Não sentia contrações, nem dores, pois Lúcula nasceria, para trazer a cura a todas as dores.Encantada, Cefaléia, interrompeu o trabalho, sentou-se sobre a relva, sem perceber que o sol se escondera inteiramente e que a noite chegava mansamente, trazendo junto, a escuridão. Em seu útero, a luz ia intensificando o brilho e à sua volta, vaga-lumes e pirilampos se aglomeravam, formando uma imensa tocha, impedindo que a noite vencesse o dia.
Cefaléia podia ver os movimentos da filha, lentamente, emergindo de dentro do útero. Podia ver o sorriso da criança e os fragmentos de luzes saindo da boca e se espalhando no lusco-fusco. Podia vê-la esfregando os dedos luminosos nos olhinhos brilhantes. Podia ver a alegria estampada em seu semblante. Cefaléia não sentia o chão, seu corpo estava suspenso, tomado de um prazer inominável.
Findo o parto, Lúcula alçou um vôo, pousando em um galho de árvore, sem ouvir o chamado da mãe, que recolhia a placenta, comendo-a em êxtase.
Lúcula deixou o galho da árvore, voando sobre o jardim, para recolher uma rosa vermelha e oferecê-la à mãe, num gesto de agradecimento e carinho.
Cefaléia chamava pela filha que teimava em ficar de galho em galho, voando e mudando de cor a todo instante. Contudo, Lúcula não dava ouvidos à mãe, voando cada vez mais alto. Cefaléia não sabia se chorava ou se ria diante das proezas da filha, enquanto o seu coração pulsava em ritmo acelerado.
Foi então que um clarão se fez na noite, rasgando o céu, seguido por estrondos descomunais. As nuvens despejaram sobre a terra uma torrente de água, inundando tudo. Cefaléia, que tinha sido atingida por uma forte dor de cabeça gritava pela filha e o seu grito foi ouvido por aves negras que voavam na noite, seguindo as trilhas dos raios luminosos.
Assim como vieram, as nuvens e a chuva se foram de repente e uma lua esplendorosa surgiu no céu. Uma mulher em trajes vermelhos, com um enorme chapéu negro e com asas parecidas com as de morcego encontrava-se postada ao lado da mãe, que não parava de chorar e de gritar pela filha. Cefaléia quis saber quem era aquela mulher que lhe acariciava os cabelos, mas ela apenas balançava a cabeça negativamente, recusando-se a responder. Perguntou o que estava acontecendo, mas recebia como resposta o mesmo movimento. Nesse instante, tomada de um profundo cansaço, adormeceu.
Ergueu os olhos e percebeu ao redor vultos que se movimentavam. Ao colocar-se de pé sentiu duas mãos amparando o seu corpo, que cambaleava. Perguntou:
- Quem são vocês?
- Não se preocupe, somos seus guias. Apenas siga as nossas instruções.
Em seguida colocaram-na em um veículo ou aeronave, que Cefaléia não conseguia identificar e rodaram ou voaram por locais desconhecidos. Por mais que se esforçasse não conseguia ver com nitidez as criaturas que seguiam em silêncio em sua companhia. Com muito esforço, perguntou com a voz fraca sobre o paradeiro da filha. Uma das criaturas aproximou-se e falou em seu ouvido:
- Não existe nenhuma filha. Fique quieta.
Cefaléia ficou muda. Precisava agir com cautela, pois, a julgar pela resposta ameaçadora, poderia colocar em perigo a sua vida e a da filha. Fingiu dormir para distrair a atenção e observar os movimentos dos companheiros de viagem. Um, que parecia ser o chefe da expedição dava instruções aos demais, contudo, Cefaléia não entendia o que ele falava. Ele trajava um casaco preto, longo, cobrindo o corpo todo, e tinha uma enorme gravata borboleta vermelha. Sobre a cabeça um chapéu de bico longo e de abas curtas. Cefaléia abaixou a vista devagar e notou que ele tinha uns pés de pato descoberto. O nariz era longo e arrebitado, que usava para recolher pequenas bolinhas vermelhas que caiam do teto do veículo ou aeronave. Observou que os outros três tinham uma estatura menor e obedeciam ao comando do chefe. Tinham, também, pés de pato, vestiam roupas idênticas, uniformes. Os semblantes pareciam com o do chefe, porém, menos desenvolvidos. Não usavam chapéu, deixando à mostra o despontar de um chifre, o que explicava o uso do chapéu longo do chefe: esconder o longo chifre.
O veículo ou aeronave parou. Cefaléia fingiu continuar dormindo. Mas, foi acordada por um dos acompanhantes com um leve estalar de dedos em cujas mãos só existiam dois. Ela foi levada a uma sala de luzes azuis onde cerca de cem desses seres encontravam-se de pé em silêncio. “Fique aqui e aguarde as instruções”. Foi então que Cefaléia percebeu que eles falavam em diversos idiomas.Reconheceu o francês, o espanhol, o latim, o grego, o inglês e o português, idiomas que ela falava fluentemente.
O silêncio tomou conta do recinto, um silêncio tão forte, que as batidas do coração e a respiração de Cefaléia pareciam incomodar os presentes.
Neste momento uma luz vermelha foi projetada em um ponto da sala e de dentro dela uma criança surgiu. Cefaléia reconheceu Lúcula e quis ir ao seu encontro, mas conteve-se, com receios dos acontecimentos. Ficou quieta, aguardando.
Em seguida iniciaram um ritual com cânticos e sons de harpas. Lúcula sorria e do seu sorriso brotavam gotas de luzes que se espalhavam pelo ambiente. Todas as criaturas presentes erguiam os narizes, recolhendo-as e à medida que se fartavam evaporavam. Até que não restou mais ninguém no amplo salão além da mãe e da filha. Cefaléia pegou a filha e ergueu-a feliz.Em seguida deitou-a no berço.Lúcula começou a brincar com um boneco de pano de pés de pato, casaco preto, gravata borboleta vermelha e com a cabeça coberta por um chapéu de bico longo e abas curtas, fazendo quac quac quac aos apertos da criança.
Cefaléia percebeu que a dor de cabeça passara e, por um momento, teve dúvidas de sua sanidade. Correu até o berço e viu que a filha dormira com o boneco preso nas mãos.
Estrelário, o pai, esvaiu-se no espaço antes do nascimento da filha.
Lúcula não veio integrar-se ao Cosmo através de um parto normal. Cefaléia encontrava-se no jardim, cuidando das bromélias, enquanto um sol de primavera se punha no horizonte, reverberando nas nuvens cores múltiplas, quando notou um brilho intenso se movimentando no útero. Não sentia contrações, nem dores, pois Lúcula nasceria, para trazer a cura a todas as dores.Encantada, Cefaléia, interrompeu o trabalho, sentou-se sobre a relva, sem perceber que o sol se escondera inteiramente e que a noite chegava mansamente, trazendo junto, a escuridão. Em seu útero, a luz ia intensificando o brilho e à sua volta, vaga-lumes e pirilampos se aglomeravam, formando uma imensa tocha, impedindo que a noite vencesse o dia.
Cefaléia podia ver os movimentos da filha, lentamente, emergindo de dentro do útero. Podia ver o sorriso da criança e os fragmentos de luzes saindo da boca e se espalhando no lusco-fusco. Podia vê-la esfregando os dedos luminosos nos olhinhos brilhantes. Podia ver a alegria estampada em seu semblante. Cefaléia não sentia o chão, seu corpo estava suspenso, tomado de um prazer inominável.
Findo o parto, Lúcula alçou um vôo, pousando em um galho de árvore, sem ouvir o chamado da mãe, que recolhia a placenta, comendo-a em êxtase.
Lúcula deixou o galho da árvore, voando sobre o jardim, para recolher uma rosa vermelha e oferecê-la à mãe, num gesto de agradecimento e carinho.
Cefaléia chamava pela filha que teimava em ficar de galho em galho, voando e mudando de cor a todo instante. Contudo, Lúcula não dava ouvidos à mãe, voando cada vez mais alto. Cefaléia não sabia se chorava ou se ria diante das proezas da filha, enquanto o seu coração pulsava em ritmo acelerado.
Foi então que um clarão se fez na noite, rasgando o céu, seguido por estrondos descomunais. As nuvens despejaram sobre a terra uma torrente de água, inundando tudo. Cefaléia, que tinha sido atingida por uma forte dor de cabeça gritava pela filha e o seu grito foi ouvido por aves negras que voavam na noite, seguindo as trilhas dos raios luminosos.
Assim como vieram, as nuvens e a chuva se foram de repente e uma lua esplendorosa surgiu no céu. Uma mulher em trajes vermelhos, com um enorme chapéu negro e com asas parecidas com as de morcego encontrava-se postada ao lado da mãe, que não parava de chorar e de gritar pela filha. Cefaléia quis saber quem era aquela mulher que lhe acariciava os cabelos, mas ela apenas balançava a cabeça negativamente, recusando-se a responder. Perguntou o que estava acontecendo, mas recebia como resposta o mesmo movimento. Nesse instante, tomada de um profundo cansaço, adormeceu.
Ergueu os olhos e percebeu ao redor vultos que se movimentavam. Ao colocar-se de pé sentiu duas mãos amparando o seu corpo, que cambaleava. Perguntou:
- Quem são vocês?
- Não se preocupe, somos seus guias. Apenas siga as nossas instruções.
Em seguida colocaram-na em um veículo ou aeronave, que Cefaléia não conseguia identificar e rodaram ou voaram por locais desconhecidos. Por mais que se esforçasse não conseguia ver com nitidez as criaturas que seguiam em silêncio em sua companhia. Com muito esforço, perguntou com a voz fraca sobre o paradeiro da filha. Uma das criaturas aproximou-se e falou em seu ouvido:
- Não existe nenhuma filha. Fique quieta.
Cefaléia ficou muda. Precisava agir com cautela, pois, a julgar pela resposta ameaçadora, poderia colocar em perigo a sua vida e a da filha. Fingiu dormir para distrair a atenção e observar os movimentos dos companheiros de viagem. Um, que parecia ser o chefe da expedição dava instruções aos demais, contudo, Cefaléia não entendia o que ele falava. Ele trajava um casaco preto, longo, cobrindo o corpo todo, e tinha uma enorme gravata borboleta vermelha. Sobre a cabeça um chapéu de bico longo e de abas curtas. Cefaléia abaixou a vista devagar e notou que ele tinha uns pés de pato descoberto. O nariz era longo e arrebitado, que usava para recolher pequenas bolinhas vermelhas que caiam do teto do veículo ou aeronave. Observou que os outros três tinham uma estatura menor e obedeciam ao comando do chefe. Tinham, também, pés de pato, vestiam roupas idênticas, uniformes. Os semblantes pareciam com o do chefe, porém, menos desenvolvidos. Não usavam chapéu, deixando à mostra o despontar de um chifre, o que explicava o uso do chapéu longo do chefe: esconder o longo chifre.
O veículo ou aeronave parou. Cefaléia fingiu continuar dormindo. Mas, foi acordada por um dos acompanhantes com um leve estalar de dedos em cujas mãos só existiam dois. Ela foi levada a uma sala de luzes azuis onde cerca de cem desses seres encontravam-se de pé em silêncio. “Fique aqui e aguarde as instruções”. Foi então que Cefaléia percebeu que eles falavam em diversos idiomas.Reconheceu o francês, o espanhol, o latim, o grego, o inglês e o português, idiomas que ela falava fluentemente.
O silêncio tomou conta do recinto, um silêncio tão forte, que as batidas do coração e a respiração de Cefaléia pareciam incomodar os presentes.
Neste momento uma luz vermelha foi projetada em um ponto da sala e de dentro dela uma criança surgiu. Cefaléia reconheceu Lúcula e quis ir ao seu encontro, mas conteve-se, com receios dos acontecimentos. Ficou quieta, aguardando.
Em seguida iniciaram um ritual com cânticos e sons de harpas. Lúcula sorria e do seu sorriso brotavam gotas de luzes que se espalhavam pelo ambiente. Todas as criaturas presentes erguiam os narizes, recolhendo-as e à medida que se fartavam evaporavam. Até que não restou mais ninguém no amplo salão além da mãe e da filha. Cefaléia pegou a filha e ergueu-a feliz.Em seguida deitou-a no berço.Lúcula começou a brincar com um boneco de pano de pés de pato, casaco preto, gravata borboleta vermelha e com a cabeça coberta por um chapéu de bico longo e abas curtas, fazendo quac quac quac aos apertos da criança.
Cefaléia percebeu que a dor de cabeça passara e, por um momento, teve dúvidas de sua sanidade. Correu até o berço e viu que a filha dormira com o boneco preso nas mãos.
Imagem google.com
Do livro Crônicas do Cotidiano Popular ´- Edição do Autor - 2006.Esgotada.