A Cidade da Meia-Noite

Escrito em uma placa velha de madeira, estavam os seguintes dizeres:

A CIDADE DA MEIA-NOITE LHE DÁ AS BOAS VINDAS

Esqueça toda luz que conhecera na Cidade Principal. Aqui o Sol não mais ilumina aqueles que buscam abrigo contra a hipocrisia das classes superiores, protegida pelos muros da Cidade. É nas sombras da eterna noite que nos protegemos como uma família, e buscamos paz e dignidade para nossa alma.

Se chegou até aqui, é porque tem algo a esconder e será uma honra guardar quem adentra aos velhos portões da Cidade da Meia-Noite. Se seus interesses são outros, pedimos que tome seu caminho e volte, de onde quer que tenha vindo.

Atenciosamente,

CIDADE DA MEIA-NOITE

- Intrigante, não inspetor?

- Sim, sim. Fomos alertados na Cidade Principal sobre esse lugar. Parece-me aquele momento em que teremos que criar uma boa mentira e rezar para sermos convincentes, Alice.

- Esse lugar me causa arrepios. Só de ouvir o nome...

- Talvez nosso diabo não seja tão feio quanto pintaram. Essa tal cidade está mais para um refúgio de desesperados, ladrões e assassinos que não sabem lidar com a culpa e a consqüência de suas escolhas.

- Mesmo assim, inspetor. Será que já não sabem de nossos reais objetivos?

- Alice, teremos que descobrir. Provavelmente o assassino de um dos líderes da Cidade Principal está aqui, o que não seria surpreendente diante do que lemos.

- Ou seja, um lugar ideal para um assassino ter abrigo e proteção?

Vinda de algum lugar entre as plantas que cobriam o muro em frente de onde leram a placa, uma voz diz:

- Quem está aí e o que deseja?

- Arthur e Alice.

- E o que desejam forasteiros?

- O mesmo que todos buscam.

- Hum... E o que fizeram para merecer proteção da Cidade da Meia-Noite?

- Matamos nosso padastro. Ele violentava nossa mãe mas, por amor ao desgraçado, ela ainda o defendeu e nos entregou a polícia. Fomos presos e condenados, e agora somos foragidos da justiça e...

- Procuraram a cidade. Entendo. Apenas mais uma alerta eu vou dar: não tentem nos enganar. Qualquer truque ou gracinha, serão também condenados por nós. Por hora, bem-vindos a Cidade da Meia-Noite.

Um barulho de madeira velha rangendo irritou um pouco o ouvido de Arthur e Alice, ao mesmo tempo em que perceberam uma manivela girando. As duas portas moviam-se em direções opostas com certa dificuldade por serem antigas. Um corredor surgiu diante dos olhos de Arthur e Alice.

- Padrasto? Assassinato? Se descobrirem nossa farsa...

- Calma, minha cara. Por hora, vamos manter essa história.

Gu Oliveira
Enviado por Gu Oliveira em 10/09/2008
Código do texto: T1170319
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