Nos bastidores da história - parte I: Moisés
Moisés é chamado às pressas.
Quando chega percebe toda aquela arruaça, e ao ver o ocorrido, pronuncia em tom profético:
- Puta que pariu, hein, Severino!! Mas que bosta!
Severino, o aspone, não sem antes resmungar algo próximo de “isso que ele não viu antes da gente limpar o mais grosso...”, responde:
- Pois é, Dotô Moisés... Acabou que deu merda...
Sob os olhos acusadores de todos, e após uma breve alisada na barba, Moisés retruca, com um tom um pouco mais tranqüilo:
- Pois é... Eu falei que ia dar galho, moçada... Mas agora já era.
Interrompendo o velho sábio, Wilberson, o Office-boy, um jovem não muito sagaz, mas sempre atento, retruca:
- Podemos dizer que já estava desse jeito quando chegamos aqui... O que acham?
Moisés, que até então se mostrava sereno, bradou em tom ameaçador:
- Porra, Wilberson! Já falei pra você, energúmeno! O chefe é onipresente, onisciente, onipotente, e coisa e tal! Não vai rolar de enganar o cara! Ou então vai ficar pequeno pro nosso lado! Ninguém tem alguma outra idéia?
Todos se calaram. Eis então, que ecoa uma voz convicta no meio da multidão, quebrando aquele silêncio tão constrangedor:
- Cola com durepox, mané!
Em meio a xingamentos, risadas, tapas na nuca e gritos de “pedala!”, o infeliz sujeito foi devidamente calado.
Após o breve alvoroço, o silêncio embaraçador foi retomado, sendo quebrado novamente apenas pelo velho ancião, que proclamou, para espanto de todos:
- Façamos assim... Caso alguém perguntar alguma coisa, falamos que o mar se abriu e nós passamos, e fica tudo por isso mesmo... Procurem não entrar em detalhes, que ninguém vai desconfiar de nada, beleza? Mais alguém viu alguma coisa?
Uma voz anônima responde prontamente:
- O cara da guarita viu tudo! E agora?
Moisés, que dentro daquela velha carcaça encobria um espírito jovial e astuto, respondeu sem titubear:
- Larga duas garoupas na mão do cara, e diz que é pra ele ficar na miúda. Estamos acertados?
Em meio ao murmúrio coletivo, Moisés se retirou do local pra enrolar mais um cigarrinho, a fim de tentar fazer contato com o chefe.
Nada mais foi dito, nem perguntado.
Os presentes acataram unanimemente a sugestão de Moisés, o cara da guarita levou seus duzentos mangos pela boca de siri, e tudo parecia estar resolvido.
No entanto, ninguém conseguia parar de pensar: Como será que iriam contar toda essa história dali a uns 3000 anos?
05/03/2008