DEVANEIOS...

Os anjos cantam. O clima é de festa naquele lugar... Estão todos de branco, há balões por todos os lados e no centro da festa, um grande palco. As vozes, em coro, contagiam as almas presentes. A paz é plena!

As luzes se acendem e iluminam o grande palco.Todos se calam... O silêncio, profundo, permite que as batidas mais leves do coração sejam percebidas. As cortinas puxadas por cordões de náilon, abrem-se devagar. O suspense é apaixonante! A curiosidade, explosiva. Passam-se os minutos...Nada acontece!

Quando pensam retornar ao diálogo, eis que surge a figura de um rapaz, cujos olhos, de um azul infinito, hipnotizam...

Fascinado pelo acolhimento, o jovem olha para todos, sorri para um e outro, depois se volta para o céu, estala os dedos, transformando-se numa bela águia, que ávida cruza o horizonte...

Emocionados, os anjos voltam a cantar, agora com mais fervor...

É tanta a vontade de alcançar o desconhecido, que a águia vence os próprios limites e acaba por se cansar antes de findar o trajeto. Exaurida cai... cai...Quando parecia estar entregue ao fracasso, uma mão a acolhe, salvando-a da morte!

Agradecida, a frágil ave se volta para a face de seu salvador e pergunta:

_ Quem é você?

_ Sou o tempo, o vento, a vida, o mundo!Sou um pouco de tudo!- responde o enigmático personagem, numa voz tão melodiosa quanto às fascinantes árias de Bach.

Com os olhos tocados por um brilho descomunal, a águia deixa uma lágrima lhe cair à face. Comovido com o gesto humilde da bela ave, o estranho lhe dá um beijo...Tal beijo lhe devolve a força que precisava para voltar a voar.

Confiando na esperteza da frágil criatura, o incógnito personagem a lança contra o ar e, como por magia, ela retoma seu caminho e atravessa o horizonte, numa velocidade incalculável.

A alegria da águia se converte em tristeza no coração do estranho, que sofre por sua ausência. Um mago próximo, ao conhecer essa história pela boca de um camponês, resolve conceder um pedido ao desconhecido, que agora se revela na figura de uma bela mulher, em cujos olhos verdes, há luz e fé, adjetivos inerentes à imortalidade do espírito.

Sem titubear, a garota opta por transformar-se numa pomba e partir, incansável, atrás daquela outra criatura que lhe levara o coração.

Dias e dias se vão, até que cansada, a jovem também cai... Dessa vez não há mão para segurá-la, mas as penas de uma outra ave que lhe vem ao auxílio, num nítido gesto de gratidão. Vendo que encontrara sua águia, a pomba sorri!

Com ternura, a águia lhe acaricia e, alguns segundos depois, ambas retornam ao céu. A viagem deve continuar, ainda que os objetivos continuem tão incógnitos quanto antes...