O Ditador (Parte 1)

Prólogo

Dia 16 de maio de 2057 d.C.

Dia chuvoso, frio e cinzento, clima perfeitamente correspondente à tensa tarde que se teria pela frente. Onze membros do Conselho Superior decidiriam o futuro de um jovem soldado que cometera um dos piores crimes relativos à sua função: Deserção, em plena concentração para treinamento. Aflito com a demora do início da audiência, o réu não parava de suar e fixava os olhos na portas pelas quais entrariam os jurados e o juiz. O quanto desejava não ter cometido aquela conduta e nunca passar por momento tão assustador. Lori, o jovem soldado, ficou ainda mais assustado na chegada dos agentes julgadores ao salão do Tribunal Penal Militar, mal conseguia respirar. Seu defensor o acalmou e garantiu que daria tudo certo. A acusação começou falando sobre a grave infração do réu a um dos artigos mais importantes do Código Militar e que não poderia haver escapatória da morte, pena prevista para aquele crime específico. O advogado do réu, na defesa, alegou ter o jovem soldado sofrido graves ameaças de agressões à sua integridade física, teria sido este o motivo de sua fuga. A alegação do acusador de não existir provas de fundamento para a defesa causou uma discussão acalorada que só foi acalmada pela intervenção do juiz.

Depois de duas horas de falatório, troca de argumentos e mais discussões acaloradas, chegou o momento decisivo, em que o júri daria o veredicto. Para isso saíram do salão para a sala reservada para eles. Após meia hora de pura tensão suar de mãos das duas partes, uma querendo saber o seu destino, a outra, dependendo disso para erguer sua carreira na acusação, os jurados voltaram aos seus lugares com a decisão quase pronta. Dos onze, dez membros tinham empatado em 5 a 5, faltava o voto do último, o membro especialmente convidado, que não era membro oficial do conselho, o Tenente Wilhelmsom, comandante de uma divisão para operações especiais que levava o seu nome, Companhia Wilhelmsom. Preferiu dar o voto e o discurso na frente do réu:

– Em sua defesa, alegou que sofreu graves ameaças por parte de colegas do batalhão e fundamenta assim a sua fuga do campo de concentração, mesmo sabendo da infração gravíssima que cometia praticou o ato. Digo assim que procedeu de maneira totalmente errada, pois era seu direito e dever informar o superior da companhia das ameaças que sofreu, para que este pudesse tomar uma atitude em seu favor, mas foi medroso e fraco, preferiu cometer um crime do qual tinha pleno conhecimento a exercer um direito seu de reclamar. Você fez um juramento no momento em que entrou para o exército e quebrou-o por ser fraco e medroso, um sujeito como você não merece continuar a exercer as suas atividades e muito menos andar livremente por aí. Pagarás pelo seu ato com a punição adequada. Terminou seu discurso e passou a palavra ao juiz.

– Observada a quantidade de votos pela condenação do réu, sentencio Lori Duff à pena de morte, prevista no Artigo 49 do Código Militar e seguindo as regras do processo, ordeno que levem-no daqui para a prisão e o mantenham-no lá até a execução da pena.

Com o término da audiência, o tenente foi embora sem dar qualquer palavra e se juntou a outro oficial que o esperava do lado de fora para conversar. Foram a um café próximo ao Tribunal, Wilhelmsom estava aliviado, tinha feito sua parte no julgamente e agora fumava tranquilamente. Conversava com um amigo seu e mentor na carreira militar, o Coronel Sid.

– Conseguiu dizer tudo que queria lá dentro? Perguntou o Coronel.

– Sim, acho que os membros ficaram satisfeitos com o meu desempenho, acredito que me comportei da maneira que eles esperavam.

– Que bom, agindo assim você logo será convidado para participar de mais júris, é muito boa essa iniciativa do Conselho Superior de sempre convidar uma pessoa de fora para integrar o corpo de jurados.

– É mesmo, mas você sabe que eu quero muito mais do que isso.

– Quer ser membro oficial do Conselho, entendo, mas saiba que esse desejo não é apenas seu. Muitos querem e vão concorrer com você para conseguir a vaga que estará vazia daqui a um tempo, O General Viddon vai se aposentar e uma cadeira estará em aberto. Se você a quer mesmo, terá que treinar muito e fazer o impossível em pouco tempo para conseguir.

– Vou fazer mais do que o impossível.

O tenente voltou para seu escritório na base onde estava domiciliado, sentou-se, pegou o jornal daquele dia, mas não teve paciência para ler seu conteúdo, pensava apenas em sua meta, e aquilo seria apenas o começo. Levantou-se, fez a higiene e foi deitar, teria pela frente o primeiro dos longos dias.

Farah
Enviado por Farah em 18/05/2008
Código do texto: T995158
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