O Monstro do Turvo

O MONSTRO DO TURVO

Cláudio Udine andava de saco tão cheio do marasmo que existia naquela Delegacia de Polícia, que , no fundo até gostou quando o Cabo Pedreira foi lhe chamar em casa para informar de ocorrência.

Na verdade, quando se dispôs a seguir carreira na polícia, logo depois de terminar a faculdade de direito, pensava em alguma coisa, mais emocionante. Qualquer coisa pelo menos parecida com aqueles filmes americanos, em que o delegado era sempre apontado como um defensor da sociedade contra as forças do mal.

Passava de "Kojak" a " Miami Vice" quando o Cabo Pedreira anunciou que o "home tava ai". O "home" no caso era Erodites dos Santos, o popular "Lingüiça"

- Manda entrar o Sr. Erodites, Cabo.

- Quem?

- Merda! Manda entrar o seu Lingüiça.

O sujeito só podia ser chamado de "Lingüiça". Alto, magro pra cacete, curvado e vermelho de dá gosto. Veio com o chapéu de palha na mão e com uma voz anasalada, cumprimentou o Delegado:

- Taarde!

- Boa tarde, Sr. Erodites, tudo bom?

- Bão!

- Eu mandei chamar o escrivão, mas enquanto ele não chega, eu queria que o sr. contasse o que foi que aconteceu. Por favor.

- Intão, Seu Craudio. Tava já tomando a penurtima na beira do Turvo, quando eu ascutei ela grita. Tadinha! grito de disispeiro, sabe grito di dô. Fiquei desacorçoado e fui atrás dela feito louco.

- E ai o senhor não viu mais sua mulher/

- Qui mué, Dotô?

- A sua, ora! Não foi ela quem gritou de dor/

- I o sinhô acha que se aquela pesti dus infernu tivesse gritado de dô, eu ia corre traiz dela. Eu quero é qui ela si dani! Miséria de muié!

- Afinal, seu Erodites, quem é que sumiu?

- Craro qui foi a minha égua, a "Cheristão".

- Como é que é?

- Cheristão. Inquar aquela artista de cinema. Aquela boazuda.

- Cheristão. Caaabo !!.

Pedreira entrou pela porta de vidro canelado, fazendo continência.

- Pois não !

- O senhor vai até a minha casa em pleno domingo a tarde. Me faz abrir a delegacia, acordar o escrivão por causa do sumiço da tal de ...

- "Cheristão" completou Seu Lingüiça

- ... dessa merda de égua, seu Pedreira?

- Mais seu Delegado, ele já entrou na parte do monstro?

- Qui nada, cabo, parei na parti do grito de dô da Cheristão. Depois o homi ai virou uma onça.

- Que monstro, Seu Lingüiça? Que história é essa de monstro?

- Pois é ! O sinhô fica brabu, inté briga ca genti?

- Tudo bem, Seu Erodites, eu peço desculpa. Pode contar a sua história.

Lingüiça se espreguiçou na cadeira, tirou o cigarrinho de palha da orelha e continuou:

- Intão, cheguei no lugar ondi eu tinha amarrado a bicha e nem sinar. Foi ai qui ela berro de novo. Eu gritei prela: - Carma, Cheristão, qui eu vô sarva ocê. Nessa ora, qui eu vi o baita!

- Qui baita, Seu Erodites?

- O monstru, uai!

Pedreira se agitou todo.

- Num falei que tinha monstro!

- Fica quieto, Cabo. Muito bem Seu Lin... Erodites que história é essa de monstro.

- Pois é seu Dotô. Quando eu oiei na direção do grito da Cheristão, eu vi aquele mosntrão qui dá gosto.Enorme , duas veiz , suas não, quatro veiz o tamanho dessa sala.Ca boca aberta , ele pinotizava ...

-Não entendi?

-Não entendi?

-Pinotismo.Iguar de circo , que faiz a gente drumir.

-Ah! Prossiga , Seu Erotides.

-Intão! Ca boca aberta ele pinotizva a égua , que ia entrando nele .Eu gritava prela -Cheristão, Cheristão, vorta pru papai , minha santa , mas ela nem ligo.Foi indu, foi indu , até que , inhoc! O bicho papou ela . Dispois, acendeu uma luz mais forte que a do sór e vuo.

-Voou?

Isso mesmo que eu fale .Vuou.

Cláudio , abanou com a mão a fumaça fedorenta do cigarro de palha e sorrindo para o cabo perguntou:

-Seu Erotides, quanta manguaça o senhor mandou ver na beira do rio, hem?

-Juro por tudo que é mais sagradu, que eu tomei uma garrafa de pinga só.

-Só umazinha , Seu Erotides?

-Só! O Alisbero tomou mais .Deve ti tomado umas duas.

-Pera lá.Pera lá. Qui Alisberto é esse que apareceu nessa história

-Eu num fale que tava com o Alisberto. Pois é ,Seu Dotô, , tava eu mais o Alisberto. Eli viu tudinho.Ele que me disso tar du nome du monstro.

-E como é que o Aliberto disse que chamava o monstro?

-Ovis , ovinis,quarqué coisa assim .

-Ovni , objeto voador não identificado. Cabo , quem é esse tal de Alisberto?

-Alisberto Picão, Doutor , mais conhecido como "Notícia Ruim"

-E porque o senhor não intimou o homem para prestar depoimento?

-Bem que eu tentei, mas não achei ele .

Linqüiça levantou a mão que nem menino de grupo escolar:

-Dá licença , Seu Dotô?

-Pode falar , Seu Erodites .

-Intão, o "Notícia" viajou. Ele disse que vender nossa história pra televisão. Ele disse que a Cheristão ia fica mais conhecida que o tar de Et de Vagina.

-Não é Vagina , seu Erotides, é Varginha .

-Intão , ele disse que nóis ia fica rico, mas eu queria memo é a Cheristão de vorta.

-Tudo bem , seu Erotides, nós vamos tomar as providências necessárias .Cabo!

-Sinhô?

-Leve o Sr. Erodites para outra sala , para aguardar a chegada do escrivão.

Cláudio esperou que saíssem e discou apressadamente um número de telefone.

-Alô, Tereza? Eu , Cláudio, tudo bem? Graças a Deus. Escuta me chama o Helinho.Não está!Visitando obras? No domingo! Tá legal, se ele chegar , por favor, pede para ele me ligar. Tá , um beijo.Tchau.

Visitando obras , resmungou o delegado, enquanto discava outro número.

-Alô, Clotilde. Me chama o Helinho.Que negócio é este do prefeito não está.Chama logo o Helinho ou eu mando fechar esse bordel hoje mesmo.Tá bom , eu espero.

Cláudio tinha certeza que o cunhado estava lá no bem bom com aquela morenona nova , a tal de Zuleika. Safado, continuou resmungando, visitando obras .

-Alô? Hélio? Sou eu , Cláudio. Falei com a minha irmã e ela disse que você ia visitar umas obras.Que obras, cara. A prefeitura não tem dinheiro nem pra pagar salário e você dá uma desculpa esfarrapada dessa. Olha que minha irmã de burra não tem nada ....Viu na televisão. Sei.Escuta , larga da franga e vem pra cá urgente . Aconteceu uma coisa esquisita. É , pô! Esquisita . Vem logo. Tá, Tchau

Mal desligou o telefone e o Cabo Pedreira entrou :

-Licença! A imprensa chegou.

-O que! Já? Quem é? A Globo?

-Não. Seu Alfredinho da comunitária.

Alfredinho era dono da FM Comunitária local, a Rádio Princesa do Turvo. Como toda boa FM Comunitária , era clandestina. Até aí nada de demais. Toda cidade do interior tem a sua FM clandestina. O problema é que Alfredinho foi candidato a prefeito derrotado nas últimas eleições e desde então resolveu usar a emissora para fazer oposição ao governo de Hélio.

-Diz que mais tarde eu falo com ele.

-O home não vai gostar.

Pedreira aproximou-se do ouvido do delegado e sussurrou:

-Ele já sabe do monstro...

-Mas como? Quem contou. O "Notícia" queria exclusividade e não ia ser besta de contar pro Alfredinho. O seu Lingüiça veio direto para cá ...

Cláudio olhou fixo para o cabo :

- Além dessa pessoas só eu e o senhor tínhamos conhecimento dessa história. Eu tenho certeza que não contei pra ninguém.Vamos lá , Seu Pedreira , foi o senhor que contou essa história maluca pro Alfredinho?

-De maneiras. Juro por Deus, Seu Dotô, não contei pra ninguém . Só contei pra Zirdinha, porque o senhor sabe , né, a gente não pode menti pra muié. Mas eu fiz ela prometer que guardava segredo.

-O senhor, em Seu Cabo, conta logo para a Dona Izildinha.Todo mundo sabe que ela é a maior fofoqueira da região.

-O povo inxagera , Seu Dotô.

-Chega de papo e vai lá dá o recado pro Alfredinho.

Cláudio olhou para o velho relógio que ficava na parede em frente a sua escrivaninha.Tina certeza que em menos de um minuto iria começar o show de Alfredinho.

-Isso é um absurdo.Vou a A.B.I. Estão tentando impedir que o povo desta cidade tome conhecimento da gravidade dos fatos .Será que estamos ainda sob a égide do Ato Institucional n. 5?O povo unido jamais será vencido ...

Exatamente no meio dessa gritaria chega o Prefeito Hélio. De bermuda , camiseta regata e óculos escuros . Nessa altura do campeonato, a praça em frente da delegacia estava cheia de curiosos.

O caldo era perfeito. . A fofoca de Dona Izildinha , mais a gritaria do Alfredinho e a presença do prefeito na Delegacia . O povo estava em polvorosa . Queria saber o que de verdade estava acontecendo . Tanto para Alfredinho , como para Hélio o momento era de política . O radialista saiu na frente .

- Povo de minha terra. estava eu tentando cumprir o meu sagrado dever de informar , quando fui impedido pelo cunhado do prefeito . Prefeito , Hum! Olhem só que figura grotesca essa. Esse homem que deveria representar nossa cidade, tranqüilizá-los nesta hora difícil , quando nossa cidade está sendo invadida por alienígenas .

Como o povo fizesse cara de quem não entendeu o que seriam aqueles tais de alienígenas , Alfredinho remendou :

- ...invadida por homens de outro planeta, etês , que como todo mundo sabe seqüestraram o nosso querido " Lingüiça" . Por isso, peço a todos vocês que nesse momento façamos juntos uma oração pelo pobre "Lingüiça" .

Se tem uma coisa que político que se preze não pode deixar de fazer é se solidarizar . Por isso , Hélio, já cuidou de gritar para multidão , interrompendo o inimigo.

-Meus eleitores , todos sabem que não morro de amores pelo Seu Alfredo, que não passa de um fora da lei,pois opera clandestinamente rádio, que entre outros riscos pode interferir com o tráfego aéreo local.

Naquele instante o povo todo olhou para o céu. A coisa mais parecida com tráfego aéreo naquelas redondezas era quando jogava o time local , o glorioso América e o beque do time , Demerval, dava um bicão para aliviar a defesa e jogava a bola na estratosfera.

-Mas sou obrigado a informar que estava eu em peregrinação pelos subúrbios da cidade , e não tomei conhecimento desse infausto acontecimento.Desde já quero deixar claro , que caso se confirme essa irreparável perda para nossa cidade, darei o nome de Praça Lingüiça a atual Praça da Matriz .É o mínimo que eu poderia fazer.

Foi nesse instante que o velho sacristão, o Zé Figueira , já puxou um terço e o povo já ia entrando no primeiro mistério , quando o Delegado Cláudio berrou :

-Parado aí gente. Não tem seqüestro nenhum, bem ,pelo menos de gente.Também não tem nenhuma invasão de etês . O seu Lingüiça não foi seqüestrado coisa nenhuma.Ele está aqui na delegacia esperando o escrivão Rodrigo pra prestar queixa do desaparecimento da Sharon...quero dizer ,de sua égua.

De repente, vindo sabe se lá de onde apareceu um megafone, que foi imediatamente agarrado por Alfredinho .

-É mentira , povo de minha cidade, o seu Lingüiça , foi seqüestrado por um disco voador que invadiu nossa cidade .Agora , querem vos enganar, dizendo que o Sr.Lingüiça está qui na delegacia .Mentira!

-Cabo, gritou Cláudio, traz o homem!

E voltando para o Alfredinho:

-Agora eu quero ver a tua , quando o povão descobrir que o Sr. Erodites não foi seqüestrado bosta nenhuma .

De repente , Pedreira , volta mais branco do que vela de cemitério:

-Dotô,Dotô! O homi sumiu!

-Como sumiu?

-Num tá mais lá , escafedeu-se

Cláudio puxou o cabo para dentro e juntos viraram a delegacia de perna para o ar , sem qualquer resultado . O Lingüiça tinha se mandado.

Logo era Hélio, que preocupado,vinha querer saber o porque da demora:

-Cadê o homem.O povo tá impaciente, ainda mais com o Alfredinho incitando.Traz logo o cara , pô!

-Esse é o problema , prefeito, o Lingüiça sumiu, mas eu posso dar meu testemunho , minha palavra de honra, que ...

-Deixa de se besta , Cláudio, Nessa altura do campeonato, o povo só acredita na história do Alfredinho. Acho que só se o Papa...

Hélio parou. Abriu um sorriso largo e bateu com o punho fechado na mão espalmada :

É isso aí, o Papa!

-Deixa de besteira, Hélio, o Papa tá em Roma e o nosso problema é aqui.

-Eu sei , Eu sei! Mas o seu representante está qui. Virou-se para o Cabo e gritou:

-Caaaaabo! Corre buscar o Frei Tonho.Diga que é urgente, que a maior autoridade do município que falar com ele !

O Cabo ia saindo , mas voltou e cochichou com o delegado :

-Aonde tá essa tar de otoridade que o prefeito falô?

-Deixa de bobagem , rapaz e trás o Frei aqui, vamos!

Frei Tonho era uma figura muito querida na cidade.Pároco há anos , tinha uma sólida obra em favor dos pobres e para tanto nunca tomou qualquer partido político , ficando sempre do lado de quem estava no poder .

O grande problema do velho padre é que com a idade avançada , já não tinha mais a memória privilegiada de antes e além do mais estava praticamente surdo, fato que lhe causava inúmeros transtornos.

-Senhor Delegado , Senhor Prefeito, o que está acontecendo? A multidão reunida na praça! Caiu a monarquia? Viva a República .

-Não Frei Tonho, não caiu a monarquia, gritou o Delegado.O povo está pensando que estamos sendo invadidos por alienígenas.

-Ataque de indígenas!? Façam um c´=círculo com as carroças , eu e as mulheres ...

Nesse instante se ouvia o vozerio do povo, certamente incitado pelo Alfredinho. Helinho, o prefeito, puxou o velho pela mão e saiu.

O velho padre se deparou com a pequena multidão que gritava :

-Lingüiça , Lingüiça, Lingüiça ...

E aí , Frei Tonho levantando a mão silenciou a multidão, que respeitosamente aguardava as palavras do religioso querido:

-Povo de fé,Queridos filhos! Ouvi os vossos gritos e atenderei o vosso pedido. Nesse instante começa a celebração da Santa Missa.Em nome do Pai ...

Para desespero do prefeito e do delegado , Alfredinho, microfone em punho , anunciava :

-Nesse instante , a sua Comunitária interrompe a sua programação normal para apresentar ,diretamente da Praça da Ma,,,,digo da Praça do Lingüiça, a missa pelo desaparecimento e provável passamento do nosso querido herói , Lingüiça.

Desesperado o Delegado virou-se para o Prefeito e Cunhado, perguntando:

-E agora? Que nós vamos fazer !

Quando tudo parecia perdido, um relinchado e passos de cavalo chamaram atenção da multidão. Na frente , em seu garboso cavalo branco, Cabo Pedreira vinha trazendo um homem deitado na garupa e mais atrás , feliz da vida , vinha o seu Lingüiça, montando Cheriston.

Sem entender nada , o Delegado esperava a chegada do cabo para as explicações , enquanto Alfredinho, com cara de bobo , depois de tentar, sem êxito , vários argumentos ,tais como, -Milagre , milagre, ele ressuscitou ou -este não é Seu lingüiça , mas um clone fabricado pelos alienígenas - anunciou ao microfone:

-E nesse instante a Comunitária volta a sua programação normal...

Frei Tonho, por sua vez gritava o nome do herói :

-Salchicha , Salchicha ...

Na sala da delegacia , Cabo Pedreira explicava:

-Pois então, Dotô. Dispois que eu busquei o Frei, disconfiei da mão e fui lá pras beira do Turvo, onde tinha aparecido o tar monstro..

Como o Cabo parou , esperando alguma pergunta , o Delegado , ansioso pediu que prosseguisse :

-Nem precisei procura muito , prá acha o seu Notícia Ruim, bêbado qui nem peru, roncando debaixo de uma árvore. Catei o homi.Botei na garupa do Rigoleto. Rigoleto é o nome do meu cavalo...

Prossiga , Cabo, todo mundo na cidade sabe que seu cavalo chama Rigoleto .

-Já tava de saída quando ouvi um barulho muito estranho.

-Era o ovni? , perguntou o delegado.

-Qui "ovis" nada. Era o seu Lingüiça que tinha tido a mesma idéia qui eu e tinha vortado pra cena do crime .

-E aí , Seu Erotides!

-Intão!Enquanto eu esperava na salinha a chegada do seu Iscrivão, eu fiquei pensando: Será que eu tomei uma garrafa ou um garrafão de pinga?

Erotides puxou o cigarrinho de palha da orelha , pediu fogo pro prefeito, deu uma baforada e continuou:

-Pensei, pensei e aí si mi lembrei. A coisa veio limpinha na cacunda. Quando eu mais o Notícia saímu pra bera do Turvo, a minha véia gritou pra mor deu i a pé, que ela percisava da Cheristão pra ir na cidade.

Nesse instante o Delegado e o Prefeito se entreolharam, enquanto o seu Lingüiça continuava.

-Intão! Pra passa o tempo, enquanto a gente caminhava , o Notícia me contou uma história desse tar de "ovis" que ele viu na televisão.

E daí, perguntou o Prefeito:

-E daí que mandei vê meio garrafão da mardita" branquinha do "lambique" do seu Girbertu e drumi e acho que sonhei.Por isso , que eu saí correndo da salinha pra casa só pra confirmar. Graças a Deus quando eu cheguei , vi a Cheristão pastando.

Por alguns segundos , ficou todo mundo em silêncio. O primeiro a se manifestar foi o Prefeito, que virou-se pro cunhado e quase enfiou o dedo no seu nariz:

-É isso aí, Doutor Cláudio, por causa dessa merreca de história de bebum, o senhor me tira do bem bom lá na casa da ...percebendo a presença do Cabo...quero dizer , o senhor me tira da caminhada cívica que fazia na periferia da cidade . Queira , por favor respeitar a maior autoridade do município.

Nesse instante Cabo Pedreira não se conteve:

-Cadê, Cadê, Cadê essa tar de otoridade.

O Prefeito, esbravejando , saiu batendo a porta .

Nesse instante o Sr.Erotides, levantou-se, tirou o chapéu, fez uma mesura e anunciou:

-Intão, a conversa tá muito boa, mas eu já vou indo qui é pra mor de bota a Cheristão pra pastá.Licença!

-Caaaabo! Prende esse infeliz e o bebum imediatamente.

-Fragante, Seu Dotô, disse o Cabo já agarrando o seu Lingüiça pelo cangote.

-Flagrante.Perturbação do domingo alheio, quero dizer do sossego alheio.

Verdade ou não, ninguém foi mais pescar lá pra aquelas bandas do Turvo. Há quem diga , que em certas tardes ouve-se um rugido estranho , que embora para os entendidos não passe do vento cortando o canavial, juram aqueles , que é a respiração do Monstro do Turvo, a procura de suas vítimas .