O desaparecimento de Suzy Lamplugh
Suzy Lamplugh era uma agente imobiliária inglesa de 25 anos que morava e trabalhava em Londres, vivia no bairro de Putney e trabalhava do outro lado do rio, no bairro de Fulham.
Ela desapareceu em 28 de julho de 1986 e foi oficialmente declarada morta oito anos depois, em 1994.
Embora seu corpo nunca tenha sido encontrado.
Suzy era uma jovem profissional independente totalmente independente, morava sozinha e tinha um emprego bastante bem-sucedido.
O ocorrido foi na década de 1980, quando as mulheres estavam ainda começando a entrar no mercado de trabalho até então com muitos setores dominados por homens.
Embora as mulheres obviamente já trabalhassem há anos, os anos 1980 foram uma espécie de revelação para as mulheres no trabalho.
Suzy era tida muito poderosa, profissional e independente, aparentemente tinha uma boa vida.
Na época do desaparecimento, ela trabalhava na Sturgis and Sons Estate Agents em Fulham há mais de um ano.
Na manhã do dia 20 de julho, Suzy vestiu uma blusa cor pêssego, saia cinza e sapatos pretos e foi para o trabalho como fazia todos os dias.
A manhã seguia normal, até que às 12 horas e 40 as coisas mudaram assim que ela saiu do escritório para mostrar uma casa a um cliente.
Suzy saiu com as chaves e sua bolsa, tinha 15 libras em dinheiro e cartões de crédito, mas ela deixou sua bolsa de mão no escritório, e isso demonstra que ela pretendia voltar ao escritório em algum momento.
O diário do escritório de Suzy registrou os principais detalhes do compromisso.
Naquela época, a maioria das coisas, ainda, eram feitas à mão, nada era realmente feito em computadores ou eletronicamente, como estamos acostumados atualmente.
E em seu diário, ela havia escrito: 12 horas e 45, senhor Kipper, 37 Charles Road, O/S, o O/S significava encontro fora.
Dez minutos depois, ou seja, quase às 13 horas, uma testemunha relatou que viu Suzy esperando do lado de fora da propriedade, conforme planejado.
Então, às 13 horas, um vizinho estava olhando pela janela e viu um jovem homem se juntar a Suzy, provavelmente, o senhor Kipper.
Esse homem estava vestido de forma impecável, usando um terno e sapatos elegantes.
O vizinho que o viu disse que ele era na verdade um “cara” muito bonito e estimou sua idade entre 25 e 30 anos.
Esse mesmo vizinho viu o senhor Kipper e Suzy saindo da propriedade alguns minutos depois, ou seja, a visitação a casa foi bem rápida.
A partir de agora que a linha do tempo se torna menos nítida.
Em um relatório há a informação que algumas testemunhas viram Suzy discutindo com esse mesmo homem em Sherrod's Road.
Depois de discutirem, ambos foram vistos entrando em um carro, o Ford Fiesta branco de Suzy.
Um motorista de van relatou mais tarde que estava dirigindo pela Stevenage Road e teve que parar e buzinar porque o Ford Fiesta branco de Suzy veio em alta velocidade na esquina e quase colidiu com ele.
Esse motorista disse que chegou a ver Suzy no carro, e ela parecia angustiada, com um homem, um homem bonito, sentado ao lado dela.
Esse homem correspondia à mesma descrição de Kipper.
E como havia outra propriedade semelhante à venda na Stevenage Road, os investigadores supuseram que Suzy tenha ido mostrar ao senhor Kipper a primeira propriedade e depois pensado em levá-lo para ver essa outra propriedade semelhante a pouco mais de 2,5km de distância na Stevenage Road.
Algumas outras testemunhas relataram ter visto Suzy e um homem bonito sentados em um parque próximo com uma garrafa de champanhe.
Porém essas testemunhas disseram que não pareciam angustiados ou que Suzy parecia estar sendo forçada de alguma forma.
Um lojista, mais tarde, informou às autoridades que naquela manhã, ele havia vendido a um homem bonito uma garrafa de champanhe, sendo essa a mais cara e melhor que ele tinha na loja.
Suzy era considerada uma boa profissional, confiável e sempre seguia as regras e regulamentos, então, quando ela não voltou ao escritório, seus colegas começaram a se preocupar.
Por isso, naquela tarde, o gerente de Suzy ligou para Diana Lamplugh, mãe de Suzy, e perguntou se ela tinha visto ou ouvido falar de sua filha, porque Suzy não tinha voltado ao escritório.
Diana nada sabia da filha e entrou em pânico, pois ela sabia que sua filha sair sem avisar ninguém de onde estaria era algo muito incomum.
Às 18 horas e 45, ainda não tinham notícias de Suzy, já havia passado pelo menos seis horas.
Então, seu gerente chamou a polícia.
A polícia imediatamente começou a procurar, refizeram todos os passos conhecidos de Suzy daquele dia.
Por volta das 22 horas, encontraram o Ford Fiesta branco de Suzy estacionado na Stevenage Road.
A porta do motorista estava destrancada, o freio de mão estava solto, sua bolsa estava no porta-luvas e suas chaves haviam sumido.
Não havia sinais de luta e não havia impressões digitais no carro que não fossem dela.
No entanto, o banco estava recuado em uma posição que Suzy não teria usado para dirigir, e parecia que outra pessoa havia dirigido seu carro.
A busca por Suzy Lamplugh foi uma das maiores buscas por pessoas desaparecidas já realizadas pela polícia do Reino Unido, uma operação em grande escala.
Naquela época, as redes sociais não existiam e o boca a boca não funcionava da mesma maneira, então a polícia imediatamente recorreu à mídia.
No dia seguinte, as manchetes de todos os grandes jornais eram sobre a busca por Suzy Lamplugh.
A polícia implorava para que testemunhas se apresentassem e muitas se apresentaram, mas isso não levou a nada.
Embora tenha sido uma operação policial massiva, a investigação foi considerada, por muitos, até pela própria polícia como cheia de problemas e não avançava e, aos poucos, foi caindo no esquecimento da maioria das pessoas, sem nada ser esclarecido.
Mas, em 1998, a polícia reabriu a investigação sobre o desaparecimento e então uma série de novas informações surgiram.
Uma delas foi de uma pessoa que, em 1999, apresentou-se dizendo que no dia do desaparecimento havia visto um homem e uma mulher lutando em um BMW preto, em um local muito perto de onde o carro de Suzy foi abandonado na Stevenage Road.
E essa nova testemunha disse que o carro provavelmente tinha o volante à esquerda, o que não é algo muito na Inglaterra, pois lá os volantes são à direita, fato que deveria ter ajudado nas investigações, pois diminuiria a quantidade de suspeitos, porém não deu em nada.
Por outro lado, um fato que trouxe muita dificuldade para os investigadores é que, embora Suzy tenha anotado o nome Sr. Kipper, não havia nenhum registro com esse nome na Sturgis and Sons Estate Agents. Eles nunca tiveram um cliente com esse nome. Ele era apenas uma pessoa completamente aleatória.
Muitas pessoas acham que Kipper é um trocadilho e na verdade é uma abreviação de "kidnapper", que me português quer dizer sequestrador, pois, Kipper não é um sobrenome tão comum na Inglaterra, e isso seria uma prova de um planejamento prévio do crime, não sendo, assim, um crime de oportunidade e sim algo muito bem planejado.
O que indica que quem fez isso com Suzy provavelmente a estivesse perseguindo há um bom tempo antes do golpe final.
Muitos anos depois do fato, foi admitido publicamente pela polícia que eles cometeram muitos erros na investigação original.
Havia muitas pistas que não foram seguidas e, na verdade, nem seguiram a pista dada pelos pais de Suzy, que passaram à polícia algumas informações, como a que meses antes de seu desaparecimento, Suzy havia conhecido alguém com quem estava saindo, um homem de Bristol, uma cidade que fica a umas duas horas de Londres.
Os dois se conheceram em um bar em Fulham, e o relacionamento começou de forma empolgante para Suzy.
Ele era um cara bonito e atraente, e ela gostou dele.
No entanto, as coisas tomaram um rumo diferente rapidamente, e ela começou a se preocupar.
Ela questionava se, lá Bristol, esse homem não tinha uma esposa, porque ele estava constantemente ao telefone com alguém de Bristol e frequentemente saía dos encontros mais cedo e simplesmente ia embora.
Ela disse à mãe que esse “amigo” a havia levado para uma corrida de carros em um encontro e que ele realmente a assustou, pois ele estava agindo de forma muito errática e não como alguém deveria em um encontro.
Ela ficou tão assustada que conversou com os pais sobre isso e chegou à conclusão de que isso não ia dar certo, afinal, por que ela gostaria de estar com alguém que a assustava?
Então, ela estava planejando encontrar o homem, levá-lo para almoçar e dizer que estava tudo acabado.
Porém, nunca se soube se isso aconteceu, pois Suzy desapareceu.
Mas mesmo com todas essas falhas investigativas, a polícia chegou a um suspeito, mas para entendermos completamente a história, temos que falar sobre o assassinato de outra mulher.
Shirley Banks, no dia 8 de outubro de 1987, cerca de um ano e alguns meses depois que Suzy desapareceu essa mulher estava fazendo compras no centro comercial Bristol Broadmead e planejava se encontrar com o marido para tomar um drinque.
Shirley nunca apareceu, o marido, então, chamou a polícia.
Na manhã seguinte, o marido de Shirley ainda sem notícias, ligou para o local de trabalho dela e perguntou se ela tinha ido trabalhar e eles disseram que, apenas 15 minutos antes, Shirley havia ligado dizendo que estava doente com dor de estômago e que não iria trabalhar naquele dia.
O marido de Shirley contou todas as informações à polícia e eles começaram a procurá-la.
Até que no dia 29 de outubro de 1987, um homem chamado John Cannon foi preso por tentar assaltar duas assistentes de loja com uma faca.
Os policiais encontraram o carro de Cannon, um BMW preto, perto da loja onde ele tentou assaltar as duas assistentes.
Dentro do carro, havia uma corda e uma arma falsa e, ao revistar o carro, logo encontraram um disco de imposto no porta-luvas.
Esse disco de imposto pertencia ao carro de Shirley Banks, disco de imposto ou taxa era um pequeno pedaço de papel circular que os condutores colocavam no vidro do seu veículo para indicar que tinham pagado o imposto para utilizar o carro nas estradas públicas.
Logo depois, a polícia encontrou o veículo Mini Clubman de Shirley na garagem dos apartamentos de John Cannon.
Ele havia pintado o carro de azul e trocado a placa para SLP 386.
Cannon, é claro, negou qualquer envolvimento no desaparecimento de Shirley Banks, alegando que tinha comprado o carro de um vendedor de carros de Bristol por cem libras apenas alguns dias antes.
O corpo decomposto de Shirley Banks foi encontrado seis meses depois, no Domingo de Páscoa, nas Colinas de Quantock, em uma área conhecida como "Dead Woman's Ditch", em português “Valeta da Mulher Morta”.
Cannon foi considerado culpado pelo assassinato de Shirley Banks e condenado à prisão perpétua.
Mas o assassinato de Shirley Banks não foi a única coisa pela qual ele foi acusado, ele também foi acusado de assaltar as duas assistentes de loja e de estuprar uma mulher em Reading.
E, por algumas conexões, John Cannon se tornou o principal e único suspeito do assassinato de Suzy Lamplugh.
Algumas dessas conexões é que ele corresponde a todas as descrições das testemunhas que viram o senhor Kipper, o homem que Suzy encontrou naquele fatídico dia.
Como mencionado anteriormente, Cannon trocou a placa do carro de Shirley Banks para SLP 386, e muitas pessoas fizeram uma conexão com Suzy, dizendo que SLP significa Suzy Lamplugh e 386 seria o ano em que ela foi assassinada.
Não se sabe o que o 3 representa, mas pode ter sido aleatório, pois ele precisava de números extras para seguir as normas de trânsito.
Claro, essa é uma ligação muito fraca e pode ser apenas uma coincidência, mas é interessante.
Algo muito interessante aqui é que, antes de Suzy Lamplugh desaparecer, John Cannon já havia estado na prisão.
Ele havia cumprido cinco anos de prisão por estuprar uma mulher e havia sido liberado em um regime de liberdade diurna há bem pouco tempo, ou seja, ele podia sair e trabalhar durante o dia, mas tinha que voltar à noite para cumprir o toque de recolher.
Essa liberdade condicional era em Fulham, muito perto de onde Suzy trabalhava e morava.
Isso explicaria por que, se John Cannon fosse o homem com quem Suzy estava saindo, sempre tinha que sair repentinamente dos encontros do casal.
Suzy mencionou aos pais que conheceu esse homem enquanto estava em bares em Fulham, e pessoas que estavam na casa de reabilitação com John na época disseram que ele saía escondido à noite para ir a bares e se gabava das mulheres jovens que conhecia nesses bares, ous seja, mais uma coincidência.
Algo muito importante a notar é que John Cannon foi totalmente liberado de sua prisão de liberdade diurna apenas três dias antes de Suzy Lamplugh desaparecer.
Alguns outros erros, falhas da polícia foram a falta de investigação das conexões com criminosos sexuais locais ou pessoas que haviam sido recentemente liberadas da prisão, algo básico neste tipo de crime.
Os pais de Suzy também deram à polícia informações vitais sobre o homem que estava saindo com a filha naqueles últimos meses, que depois começou a temê-lo, mas a polícia simplesmente ignorou.
Eles não fizeram nada com as informações, o que levou ao pedido público de desculpas aos pais de Suzy em 2002, dizendo que a polícia cometeu erros.
Em outra medida sem precedentes, na mesma coletiva de imprensa de 2002, a polícia confirmou que John Cannon era o único e principal suspeito neste caso.
Outro fato assustador nesta investigação é que ainda, em 1990, uma ex-namorada de Cannon, ou seja, sua namorada naquela época, uma mulher chamada Jilly Page, contatou a polícia dizendo que Cannon havia dito que enterrou Suzy.
Eles estavam passando pelos quartéis de Norton e Cannon apontou para os campos e disse que Suzy Lamplugh estava enterrada lá.
Jilly contatou a polícia e depois retratou sua declaração, seja porque achou que estava enganada ou porque estava com medo, isso nunca foi informado, mas ela se retratou.
Mas, mesmo assim, uma equipe de busca massiva, com 30 policiais, levou cinco dias para vasculhar completamente a área dos quartéis de Norton.
Porém, quando as autoridades fizeram isso, já havia passado tantos anos, que a área estava totalmente construída, com casas, concreto e asfalto, o que tornou a busca pelo corpo de Suzy muito mais difícil.
Mesmo com tudo indicando que John Cannon tenha sido o assassino de Suzy Lamplugh, ele sempre negou, porém, em uma entrevista, ele admitiu que foi ele, mas depois disse que estava apenas brincando com a polícia.
Como ele retratou sua declaração e não puderam usar isso como prova sólida.
Seus colegas de cela na prisão disseram que ele admitiu a eles que matou Suzy, mas, novamente, isso não pode ser considerado prova sólida, pois poderia estar apenas se exibindo aos colegas de cela.
Ele também disse aos colegas de cela que nunca poderia admitir onde o corpo de Suzy está enterrado porque está em uma casa e ela não está sozinha, o que significa que ele provavelmente matou outras pessoas também.
Outro fato insólito desse caso é que o apelido de John Cannon na prisão é "Kipper".
Embora pareça que há muitas evidências aqui e ele poderia ser facilmente acusado do assassinato de Suzy Lamplugh, tudo é circunstancial e não há nenhuma evidência sólida que o ligue ao caso.
Não há nada sólido, uma peça real de evidência forense, e não há nenhuma.
Com todas essas evidências, Cannon foi oficialmente preso e interrogado em conexão com o assassinato de Suzy, mas em novembro de 2002 foi declarado que não havia provas suficientes para ligá-lo ao caso, nessa época, ele já estava na prisão pelo assassinato de Shirley Banks.
Após tanto sofrimento, foi criada a Suzy Lamplugh Trust uma instituição de caridade pioneira no Reino Unido, focada na segurança pessoal e na conscientização sobre perseguição.
A instituição fornece suporte direto às vítimas de perseguição através da National Stalking Helpline, que já ajudou mais de 75.000 vítimas desde sua criação em 2010.
A Suzy Lamplugh Trust trabalha para garantir que o que aconteceu com Suzy não aconteça com mais ninguém, promovendo um ambiente mais seguro para todos.
John Cannon morreu na prisão em 06 de novembro de 2024 aos 70 anos de morte natural, sem ter assumido formalmente ter tirado a vida de Suzy Lamplugh.
Fontes:
https://www.suzylamplugh.org/what-we-do
https://www.suzylamplugh.org/
https://en.wikipedia.org/wiki/John_Cannan
https://www.bbc.com/news/articles/cy9jxpj2lypo
https://www.bbc.com/news/articles/c04l112q94go
https://www.theguardian.com/uk-news/2024/nov/06/suzy-lamplugh-suspect-dies-in-prison-at-70