Nas Ruas de São Paulo
Meu nome é Mário. Sou contador em uma pacata cidadezinha do interior. Tudo era previsível na minha vida até que meu amigo Carlos me convidou para trabalhar em São Paulo. A proposta parecia irresistível, e aceitei sem pensar duas vezes.
Com a passagem na mão e uma mala pequena, embarquei rumo à capital. Após horas de viagem, desembarquei no terminal rodoviário, sendo imediatamente envolvido pelo turbilhão da metrópoles: barulho incessante, prédios altos, polícia para todos os lados e pessoas apressadas. A realidade urbana era avassaladora.
No balcão de informações, pedi orientações sobre o endereço que Carlos me deu. O atendente explicou que eu deveria pegar um ônibus fora do terminal. Agradeci e segui para o ponto. Era apenas o começo de uma jornada que me colocaria no centro de algo muito maior do que eu poderia imaginar.
Caminhando pelas ruas, absorvendo as cenas que me rodeavam: vendedores ambulantes, artistas de rua imitando estátuas, pessoas almoçando em lanchonetes enquanto mendigos reviravam latas de lixo. Tudo parecia um espetáculo de contrastes.
De repente, ouvi um grito:
— Socorro! Socorro! Polícia!
Uma mulher desesperada disse que havia sido roubada por dois adolescentes. A descrição dela ficou na minha mente, mas a polícia já parecia anestesiada por tantas ocorrências semelhantes.
Continuei minha jornada até que, vi um homem correndo e ajeitando as calças. Logo depois, uma jovem saiu cambaleando, chorando:
— Por favor, me ajude! Ele me atacou... fui estuprada.
O pavor nos olhos dela me paralisou por um instante. Disse que se chamava Maria e implorava que a levasse para casa antes de qualquer outra coisa. Concordei, e juntos seguimos até sua residência. Sua mãe, ao vê-la, correu para abraçá-la, tomada pelo medo e pela dor.
Convenci Maria a ir à delegacia para denunciar o crime. Lá, a cena era um reflexo da cidade: caos, pessoas gritando e oficiais exaustos. Maria falou sobre o agressor: um homem alto, de cerca de 1,80 m, barba por fazer, e olhos que transbordavam maldade. Enquanto ela realizava os procedimentos, os policiais tentavam buscar pistas, mas o progresso parecia lento.
A noite passou em claro. Quando o dia amanheceu, levei Maria de volta para casa. Antes de ir embora, falei com sua mãe, garantindo que faria tudo ao meu alcance para ajudá-las, mesmo sendo um estranho em uma cidade tão imensa.
Finalmente, fui ao encontro de Carlos, que parecia mais preocupado com meu atraso do que com minha exaustão.
— Onde você estava Mário? Você disse que chegaria ontem!
Olhei para ele, cansado e frustrado:
— Carlos, você me trouxe para essa cidade louca! Passei a noite ajudando uma garota que foi atacada. Aqui tudo é perigoso, e eu não estou disposto a trocar meu sossego por isso.
Carlos ficou em silêncio enquanto eu levava ao aeroporto. Antes de embarcar, deixei claro:
— Se algum dia você quiser paz, vá para minha cidade. Aqui, eu não volto tão cedo.
Enquanto o avião decolava, senti um rompimento inexplicável. São Paulo era fascinante, mas também perigosa demais para mim. Eu queria distância de sua modernidade e violência, mesmo sabendo que a memória daquela noite ficaria comigo para sempre.
Os dias seguintes em minha pacata cidade ainda são pacíficos mais calmos, como se o retorno de São Paulo tivesse deixado uma cicatriz em mim. Eu não consegui parar de pensar em Maria, em seus olhos desesperados, em tudo o que ela queria e como eu, mesmo com boas intenções, sabia que era impotente diante daquele cenário.
Resolvi escrever para ela. Peguei o endereço que havia guardado e, em uma carta simples, disse que esperava que estivesse bem e que, caso precise, poderia contar comigo. Algumas semanas depois, recebi uma resposta. Era a mãe de Maria, agradecendo pela ajuda naquela noite e contando que a filha estava se recuperando, embora ainda traumatizada. Fiquei aliviado, mas o peso daquela experiência ainda me acompanhava.
À noite, ao caminhar pelas ruas tranquilas da minha cidade, descobri algo diferente. As sombras das árvores já não são tão acolhedoras, os filhos ao longo trazem uma inquietação que antes não existia. O São Paulo tinha deixado sua marca.
Foi então que me dei conta: fugir da violência e do caos não era o suficiente. Eles poderiam surgir em qualquer lugar, de formas diferentes. A pergunta que me atormentava agora era se eu tivesse força para enfrentá-los ou se seguiria vivendo como um espectador, esperando que outros lidassem com o pior.
E assim, uma semente foi plantada: talvez a tranquilidade da minha cidade já não fosse suficiente. Talvez fosse hora de sair da minha zona de conforto novamente, mas desta vez com um propósito maior do que apenas mudar de emprego.
Sinopse:
Nas Ruas de São Paulo , Mário, um contador do interior, aceita um convite tentador para trabalhar na capital paulista. Porém, o que promete ser uma nova etapa de crescimento e realização profissional rapidamente se transforma em um turbilhão de experiências inesperadas. Na chegada, ele é confrontado pela intensidade e pelos contrastes da cidade grande, mas sua jornada ganha um rumo completamente diferente quando testemunha e se envolve em eventos dramáticos, incluindo o auxílio a uma jovem vítima de violência. Entre caos, desesperança e momentos de humanidade, Mário descobre o verdadeiro peso da metrópoles e é levado a reconsiderar suas escolhas.