O desaparecimento de Bruno Gentiletti

Uma criança desaparece durante um passeio com sua família enquanto estava brincando com seus irmãos em uma praça próxima à área de lazer de um balneário particular.

Apesar de intensas buscas no local e arredores, nenhum vestígio dele foi encontrado.

Uma investigação que sofreu e ainda sofre críticas por atrasos e falta de empenho das autoridades.

Um caso que, mesmo depois de mais de 3 décadas, continua aberto e com a esperança de ainda ter um final feliz.

Intro

Bruno Alberto Gentiletti nasceu no dia 18 junho de 1988 em Santa Fé Argentina.

Na época de seu desaparecimento, Bruno tinha apenas 9 anos de idade e por isso não se tem muito o que falar de sua vida pregressa, além de que ele morava com sua família na cidade de Las Rosas, província de Santa Fé, seus pais são Cláudio Gentiletti e Marisa Olgin e, também, tem quatro irmãos, sendo Bruno o terceiro filho da família, ele tem dois irmãos mais velhos, Belén, que tinha 11 anos na época e Martinho, 10; e seus dois irmãos mais novos, Franco com 7 e Gisela de 6.

Sobre sua família podemos dizer que é composta por pessoas trabalhadoras, seu pai era carpinteiro e sua mãe administrava um negócio.

Uma das atividades favoritas nos finais de semana desta família era sair fazer trilhas e é neste contexto de uma família normal que tudo começou a acontecer.

Era dia 2 março de 1997, um domingo quente na província de Santa Fé e por esse motivo Cláudio e Marisa acharam que seria uma boa ideia saírem para passar o dia na beira de um rio com seus filhos, além de que aproveitariam para comemorar o aniversário de Franco que estava de aniversário na semana anterior.

Eles viajaram de carro por mais de uma hora até a costa do rio Paraná e entraram no Balneário La Florida, na cidade de Rosário.

Chegaram por volta das 11 da manhã na enorme propriedade na qual são realizadas diferentes atividades divididas por zona.

A Zona um é destinada a descidas náuticas e é onde estão as praias privadas.

A zona dois é a mais popular, é aquela que a maioria das pessoas costuma usar para descer até a praia, já que o seu acesso é gratuito.

Já a terceira zona é um spa privado, o que significa que você paga entrada e tem algum conforto a mais, com uma estrutura mais completa em comparação com a área anterior, como, por exemplo, segurança privada na entrada e no interior da zona.

E foi nessa área, a zona 3, que os pais de Bruno escolheram para ficarem.

Depois de pagarem a entrada, estacionar o carro e pegarem suas coisas, a família montou um típico acampamento que geralmente se faz quando se chega à praia, ou seja, abriram as cadeiras, colocaram guarda-sol, depois passaram protetor solar.

Um detalhe importante é que Bruno não gostava de água, pois desde bem pequeno sofreu de otite, que é uma inflamação ou infecção no ouvido, que pode ser causada por bactérias, fungos, vírus ou alergias e causa muita dor na região.

Na verdade, há poucos meses, ele tinha sido operado para se livrar da otite, e se aproximar da água não era uma opção para ele, embora ele já estivesse completamente recuperado dessa intervenção, Bruno levava muito a sério as recomendações médicas de que, para evitar qualquer prejuízo, ele nunca poderia entrar na água sem os seus tampões especiais de ouvido.

E, por essa razão, seu plano era não entrar na água.

Mas os irmãos mais velhos não tinham o mesmo plano e eles insistiram para o pai ir com eles ao rio, o que Cláudio aceitou, tendo chegado a convidar Bruno para ir nadar com eles, mas o filho respondeu que não iria por duas razões: a primeira foi porque ele não gostou daquela água marrom, parecia que estava sujo e a segunda razão é que tinha esquecido seus protetores de ouvido e ele não queria voltar a sentir dor e por isso não ia entrar na água em nenhuma circunstância.

Então, enquanto o pai e dois meninos foram nadar, Bruno ficou na margem brincando sob a vigilância de Marisa, sua mãe

Seus irmãos mais novos Gisela e Franco naquele momento também ficaram brincando fora d’água, explorando a praia em busca do que fazer sem entrar no rio.

Foi que as crianças viram, a poucos mais de 100 metros, uma pracinha com muitos brinquedos e correram pedir para a mãe se poderiam ir até lá.

Marisa localizou onde estava a praça e viu que não era muito longe e permitiu que eles fossem, pois daquela distância, ela conseguiria observá-los enquanto preparava a refeição.

Ela os lembrou das regras habituais, ou seja, não podiam se separar, eles não podiam conversar com estranhos, e não podiam nem ir para longe.

Elas consentiram, prometeram se comportar e saíram correndo para a praça.

Marisa se concentrou na preparação do almoço e, ocasionalmente, olhava para a praça e reconhecia seus filhos.

Da mesma forma também fazia olhando para o rio procurando por seu marido e ou outros filhos.

Depois voltava sua atenção para o que estava fazendo.

Quando finalmente tudo estava pronto, ele começou a chamá-los para que eles se reunissem para o almoço.

Ela começou a fazer sinais para seu marido que a entendeu de longe e saiu da água, os dois filhos acompanharam o pai.

Então Marisa se virou para a praça e repetiu os sinais para chamar os outros filhos, mas apenas Gisela e Franco vieram até ela.

A mãe perguntou-lhes onde Bruno estava e os dois responderam que eles o deixaram sozinho no escorregador.

Marisa olhou em direção ao brinquedo e rapidamente percebeu que Bruno não estava lá.

Ela perguntou novamente para seus dois filhos: “Onde está Bruno? Eu não o vi no escorregador”, e eles disseram que não era aquele escorregador, mas em outro que tinha um pouco mais distante.

Marisa, que ainda não tinha visto esse outro brinquedo, foi correndo até lá e, também, não encontrou Bruno.

Marisa começou a gritar que seu filho estava perdido e todos vendo o desespero dessa mãe começaram a procurar o menino no rio e nas margens, mas Marisa dizia que tinha certeza de que Bruno nunca se aproximaria do rio, porque tinha medo de que a otite voltasse.

Marisa foi para o estacionamento do spa para tentar encontrar o filho, mas disseram que seria impossível de ele ter passado por ali, pois o pessoal da segurança afirmou que nenhum garoto sairia sozinho, pois isso era proibido.

Buscas foram realizadas em todos os locais possíveis, porém, nada de encontrarem sinal qualquer de Bruno.

Os alto-falantes repetiam sem parar que havia um menino de 9 anos, de altura média, sem camisa e usando um short verde perdido.

Muitos dos veranistas que estavam por lá para passar o dia relaxando, deixaram isso para trás e ajudaram a procurar pela criança na água, convencidos de que talvez algo poderia ter acontecido com ele, já que essa era a resposta mais óbvia, mas seus pais insistiam que ele não entraria na água.

Cláudio foi fazer o boletim de ocorrência, enquanto os outros continuaram procurando.

Porém não achavam nada de anormal até que alguém percebeu que a cerca que circundava o Spa estava cortada, e esse corte era bem próximo do local onde os irmãos disseram que tinham visto Bruno pela última vez.

Dona Marisa confrontou à administração do spa em razão dessa falha na cerca, pois, segundo os seguranças era impossível sair e como tinham deixado um buraco daqueles?

Um detalhe importante que, provavelmente, fez muita diferença na investigação, é que mesmo com o pai de Bruno ter corrido à delegacia, um comissário da polícia chegou ao spa apenas 8 horas depois da denúncia do desaparecimento, daí já eram 22 horas e 30 e, claro, já estava escuro, o que dificultou muito a busca.

Até hoje a polícia nunca explicou a razão dessa demora de 8 horas.

A polícia iniciou os trabalhos de forma tardia e seguiu apenas uma linha investigativa: a de que Bruno foi em direção ao rio e, talvez, tenha se afogado, o que era contestado pelos pais.

E com o apoio da Prefeitura Naval, que é a força de segurança federal que se encarrega da segurança no mar e nos rios, a polícia revistou toda a área do rio por dias, porém nenhum vestígio de Bruno foi localizado.

Marisa continuou insistindo que procurar Bruno na água era um erro, perda de tempo, pois algo tinha que acontecido com o menino, ele devia ter se perdido ou ter sido sequestrado, mas a polícia não prestava atenção nas súplicas da mãe.

Em abril de 1997, ou seja, um mês após o desaparecimento de Bruno, seus pais, não aguentando mais a letargia das autoridades locais, viajaram a Buenos Aires para tentar dar mais notoriedade ao caso de seu filho e aumentar a pressão social.

Tudo o que eles queriam era fazer a polícia começar realmente a investigar o que aconteceu.

Eles também aproveitaram aquela viagem para buscar mais informações sobre o estado da investigação em escala nacional e foi assim que eles ficaram sabendo que até aquela data a polícia de Rosário não tinha noticiado o desaparecimento ao setor de migrações.

Sendo que essa informação evitaria a saída de Bruno do país, ou seja, não havia ocorrido o alerta de que havia uma criança desaparecida e por isso ele poderia ser levado para fora do país com facilidade.

Só a partir dali que a Interpol e a Polícia Federal intervieram no caso, o que gerou uma luz de esperança de que poderiam encontrar o menino.

Mas, de uma maneira inexplicável, as coisas só aconteciam quando havia muita insistência dos familiares de Bruno.

Como, por exemplo, só em junho, dia 4, foi feita, uma reconstrução dos últimos movimentos de Bruno no Spa.

Na reconstrução os pais de Bruno e seus irmãos contaram ao juiz do caso tudo o que aconteceu naquele dia.

As crianças disseram que foram para a cama elástica e Bruno para o escorregador, logo, Bruno veio e contou a eles que um homem e uma mulher lhe disseram que o escorregador tinha sido fechado, mas que Bruno não acreditou neles, então, ele decidiu voltou ao escorrega, enquanto eles ficaram ao trampolim até a mãe chamá-los.

Das pessoas presentes em La Florida no dia do desaparecimento, não houve depoimentos que pudessem fornecer informações sobre o ocorrido com Bruno, muitos alegavam nem ter visto um menino com a descrição informada.

E, mais uma vez, a investigação não progrediu.

Os esforços reais para procurar Bruno eram exclusivos da sua família, pois as autoridades pareciam não demonstrar nenhum tipo de apoio ou interesse e, em vez disso, eles voltaram sua atenção nos pais de Bruno.

Em uma entrevista, a Dona Marisa comentou que, como eles reclamavam abertamente do trabalho da polícia, a investigação se moveu em direção a eles, chegando a ponto de divulgarem que o pai de Bruno tinha uma vida dupla, uma com a família como carpinteiro e outra secreta de traficante de drogas e que, por ter dívidas, havia um pedido de captura por ele.

E a família teve que contratar um advogado não para ajudar a procurar por Bruno, mas para defender Cláudio.

Outra informação largada ao público foi que a esposa do pai de Marisa era paraguaia e que, em razão dessa facilidade de entrar naquele país, Marisa poderia ter dado o filho a essa mulher para que ela o vendesse no estrangeiro.

Nenhuma dessas denúncias se mostrou fundamentada em provas e acabaram sendo realmente usadas apenas para desviar o foco do que era importante, a busca por Bruno.

Com o passar do tempo o caso, que aparentemente nunca foi uma preocupação das autoridades argentinas, acabou definitivamente sendo deixado de lado.

Claro, que a família nunca desistiu de descobrir o que de fato aconteceu com o menino e seguiram investigando.

Com o passar do tempo, quando chegava uma pista, eles não hesitavam em segui-la.

Eles viajaram para Tucumán duas vezes seguidas.

Em San Nicolás, província de Buenos Aires, passaram quase um mês procurando por Bruno, porque houve muitos telefonemas de pessoas que diziam ter visto meninos semelhantes ali.

Estes são apenas dois exemplos de algumas das muitas chamadas que receberam, mas que não levaram a nada.

A angústia dos pais crescia mais ainda quando chegava a hora de voltar para casa, depois daqueles dias de buscas sem sucesso e sem saber o que dizer aos outros quatro filhos, que esperavam entusiasmados que eles trouxessem o irmão de volta em uma dessas viagens.

Mas, como um rio, a vida acaba seguindo seu fluxo e essas vidas também continuaram.

Um ano após o desaparecimento de Bruno, Marisa e Cláudio se separaram.

Ao longo desses 27 anos foram feitas duas reconstruções do rosto de Bruno Gentiletti para tentar aproximar sua imagem atualizada.

A primeira foi feita nos Estados Unidos, por meio do Missing Children e do FBI, que na época, diz sua mãe, eram os únicos que tinham tecnologia para fazer isso.

Uma provável imagem de Bruno foi alcançada aos 17 anos e outra, uma segunda reconstrução foi feita há algum tempo pelo Ministério da Segurança Nacional e é do seu rosto aos 33, 34 anos.

Nascido em 1988, no dia 18 de junho deste ano Bruno, se estiver vivo, como sua família espera, completou 36 anos.

Na Argentina, a organização “Missing Children” procura, atualmente, 40 pessoas que se perderam quando eram menores e agora são adultas.

Embora mais de 95% dos casos de crianças desaparecidas sejam resolvidos, há casos como o de Bruno em que prevalece a incerteza por décadas, mas uma nova esperança surgiu para a família de Bruno, pois em 2020, o caso do desaparecimento dele foi transferido para o Ministério Público e uma nova equipe foi montada para reinvestigar desde o início.

Outro fato que ajuda a família Gentiletti a acreditar que essa história ainda pode ter um final feliz, foi o fato de eles terem entregado amostras de DNA à Equipe de Antropologia Forense.

Tanto que em 2022, foram comparadas com os dados de um jovem de Mar del Plata que tinha características semelhantes às de Bruno e duvidava de sua identidade, porém, os resultados foram negativos, mas nem Marisa nem os filhos perderam a esperança de um dia reencontrá-lo: “Vemos histórias em outros países que através do DNA e dessas reconstruções foram encontradas pessoas depois de 40, 50 anos. São ferramentas que hoje dão esperança de que em algum momento isso possa acontecer.”

Realmente, existem muitas histórias de pessoas que se perderam quando crianças e foram encontrados muitos anos depois, quando já eram adultos.

E, hoje, nós divulgamos não apenas a história dessa família, como a imagem com a provável aparência atual de Bruno para ajudar nas buscas, pois em algum momento alguém pode se reconhecer ou fornecer alguma informação. (https://fotos.perfil.com/2022/05/12/bruno-gentiletti-20220512-1355638.jpg?webp)

Fontes:

https://www.perfil.com/noticias/policia/ninos-desaparecidos-mas-de-cien-menores-de-edad-se-buscan-en-argentina-y-40-de-ellos-hoy-ya-serian-adultos.phtml

https://www.perfil.com/noticias/policia/26-anos-de-una-desaparicion-sin-rastro-bruno-gentiletti-el-nene-de-8-anos-que-hoy-tendria-35-y-su-familia-sigue-buscando.phtml

https://www.brunogentiletti.com.ar/

Nilvio Alexandre Fernandes Braga
Enviado por Nilvio Alexandre Fernandes Braga em 17/11/2024
Código do texto: T8198850
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