MUDANÇAS QUE NÃO ACONTECEM
Outro dia assistindo a um filme desses que tentam recriar a atmosfera dos ambientes palacianos do século XVIII, onde a corte e súditos conviviam continuamente juntos em suntuoso ambiente, se separando exclusivamente para dormir, e em alguns casos, nem nessa hora.
Nas refeições cotidianas e nas intermináveis e badaladas festas tudo se confidenciava, transformando o ambiente numa espécie de Big Brother, porém sem uso de câmaras, mas com todos elementos que compõem essa eterna briga pelo poder, independente da instância almejada.
Naquele momento, a concorrência visando ocupar instâncias de poder era mais sutil e discreta, embora o objetivo fosse sempre o mesmo, eliminar o ocupante do cargo desejado. O método predileto era envenenamento, preferencialmente com substâncias que iam gradativamente minando as resistências da vítima, como se fosse alguma das muitas doenças que matavam precocemente os infectados.
Nos dias atuais, a depender da área de atuação, as coisas acontecem mesmo às claras, sem sutileza para despistar a autoria, o melhor exemplo para tipificar essas ações vem da máfia que se originou no jogo do bicho e posteriormente incorporou esses caça níqueis, que depois de manipulados por especialistas, praticamente eliminam a possibilidade de algum sortudo conseguir uma combinação vitoriosa.
Os herdeiros destas minas de dinheiro, além das roupas de grife, estão sempre acompanhados de policiais em seu dia de folga e invariavelmente pilotam veículos especiais, normalmente blindados, buscando assim minimizar danos em caso de ciladas. Portanto, esses manda-chuvas convivem com a sombra da morte, e isso acontece a partir do momento que saem da adolescência, principalmente entre aqueles com irmãos ou primos ambiciosos na família.
Outro segmento onde trocas do líder acontece com frequência, e onde cada vez mais jovens atingem esse posto é na hierarquia do tráfico, nessa casa a fatalidade vem dos próprios agentes do Estado, no caso a PM, que faz contínuas extorsões, que em muitos casos inviabiliza o negócio, e acaba levando ao confronto direto.
Nesse caso, agentes estatais tratam de demonizar a figura do chefe, imputando a essa vítima crimes antes em aberto, por desinteresse em esclarecer os reais mandantes das execuções, muitas vezes efetivadas por membros da própria corporação, incumbida de investigar o caso.
E novamente vamos observar a história se repetir, a nova chefia vai negociar termos de cooperação mútua entre os supostos, pelo menos em tese, criminosos e sua força repressora.
Interessante saber que essa negociação envolve sempre a figura de um policial cascudo por um lado, enquanto do outro lado da mesa, encontraremos um personagem cada vez mais jovem e inexperiente, tendo apenas intimidade com armas pesadas, não dispondo de argumentos plausíveis para contra argumentar as descabidas propostas do suposto órgão repressor do varejo do tráfico.
Afinal de contas, atacadistas e produtores de drogas estão fora do radar da polícia, sua interlocução acontece em instâncias mais poderosas do governo, não importando sua ideologia política.
E assim tudo permanece como dantes no quartel de Abrantes!