INTELIGÊNCIA APLICADA
Severino de Souza Costa, 43 anos, 60 quilos e estatura de 163 centímetros moram na Colônia de Pesca do Gradim, São Gonçalo. Sua esposa, Maria Joaquina, com a mesma idade, faz tipo gordinha e pouco mais baixa, é doméstica no vizinho município de Niterói.
O casal tem dois adolescentes, com doze e treze anos respectivamente, estudantes de escola municipal próxima à Colônia.
Os quatro levam vida simples, sem oscilações financeiras tão comuns aos vizinhos da comunidade, principalmente depois da liberação das apostas on line, mais conhecidas como BETs, que absorve inclusive os repasses governamentais como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada – BPC.
Por incrível que possa parecer, Severino ainda arranca das poluídas águas da Baía de Guanabara peixe suficiente para a dieta alimentar da família e vende a sobra para interessados, que regularmente aparecem bem cedinho, ali no Píer do Gradim em busca de pescado fresquinho.
Todo mundo sabe que toda comunidade a maioria dos moradores é composta por gente de bem, mas claro, tem também os espertalhões de plantão, que acabam funcionando como aquela única laranja passada, estragando o sabor da jarra de suco de laranjas boas.
Os PMs do 7º Batalhão já tinham passado uma espécie de pente fino pela comunidade procurando indícios das mercadorias furtadas de navios ali perto ancorados, que aguardam o sinal verde para se aproximarem do cais do porto do Rio de Janeiro.
Agora foi a vez da polícia marítima federal investigar o caso, a estratégia escolhida foi deixar um barco sem identificação dotado de câmara que grava qualquer objeto em movimento num raio de 150 metros, em cada das duas colônias de pesca do município.
Parece que alguém vazou a notícia, e os predadores retiraram seus barcos das proximidades do Gradim, levando para a foz de um pequeno rio, fora da agitada noite da orla da baía com seus quiosques e restaurantes populares.
No último furto, marinheiros acordaram com a movimentação dos gatunos, que atabalhoadamente abandonaram a embarcação, ao se jogarem ao mar perderam boa parte da pilhagem, nadaram até o barquinho ancorado na popa da embarcação, o melhor local para escalar o navio.
O motor de baixa potência demorou a se afastar do navio, correram risco de serem baleados, ou mesmo algum projétil vir a danificar o motorzinho de popa, os deixando à deriva, o que facilitaria o trabalho de captura pela polícia marítima federal.
Pedro e João filhos de seu Zé Oliveira 65 anos, pescador já aposentado, e que ganha complementação da aposentadoria, ajudando na limpeza dos pescados de quem chega do mar. Seus filhos nunca demonstraram interesse na pesca, e sonhavam acordados com bens de consumo, algo fora da realidade dos moradores locais.
Agora a dupla circulava em motocicletas grandes pelo entorno da favela. Já tinham até tentado ingressar na facção que domina o tráfico local, pisaram na bola, e contaram com a sorte de não partirem para uma melhor, pois a justiça do tráfico é rápida e eficiente, oposto de sua irmã gêmea que opera no campo formal.
Os espertinhos, quando saiam para entregar pedidos, aumentavam à quantidade da droga misturando ora talco à cocaína, ora mato seco à maconha, e sugeriam ao consumidor uma gorjeta pela quantidade extra incorporada ao pedido original.
Até que alguém descobriu a fraude e denunciou a dupla ao responsável pela boca.
Agora a dupla mudara o foco de seu negócio, furto, roubo de carga e de marinheiros em navios ancorados na Baía de Guanabara, logo ali a frente da comunidade.
Ambos chegaram à conclusão que precisavam de uma traineira, tanto para depositar a carga apropriada, como também para agilizar a fuga. Como sabiam que Seu Severino, trabalhava apenas em dias alternados, propuseram pagar o combustível da embarcação, sempre devolvendo com o tanque cheio, depois de usá-la para passeios turísticos, que ocorreriam tanto durante o dia, como no período noturno.
Como todo mundo na comunidade conhecia o barco do Seu Severino, suas constantes saídas e chegadas não levantavam suspeitas dos moradores sobre a maior movimentação da embarcação.
Entretanto, tudo isso foi filmado pelo barco robô da polícia. Não demorou muito para que policiais a paisana posicionassem sua lancha a pelo menos 500 metros do local, onde habitualmente pescadores ancoravam seus barcos, aqui vale lembrar que a escuridão que vigora no mar não permite identificação de nada a partir dos 100 metros de distância.
Como as ações dos piratas sempre ocorriam à noite, a lancha ficou disposta ao largo, esperando o momento de seguir a distância a traineira suspeita. Apenas observariam a movimentação da traineira.
Ficaram de longe, assistindo tudo através das lentes desse binóculo para uso noturno e que também capta o calor dos corpos se deslocando, no caso subindo escadas de corda para atingir o convés da embarcação.
A ideia era intervir apenas no retorno à traineira, já de posse do material furtado.
Não foi necessário o disparo de um único tiro, a lancha da polícia marítima federal se posicionou a frente da traineira, com seus holofotes praticamente cegando a dupla de meliantes, em seguida veio a voz de prisão em flagrante, através de potente alto falante, informando também que toda operação foi documentada por câmaras especiais.