NADA SERÁ COMO ANTES

Acidente envolvendo motos de grande cilindrada não é fato comum, bem diferente do enxame de motoqueiros que passam zunindo suas buzinas nos corredores intraveiculares, e passaram a liderar o campeonato nacional de acidentes de transporte, fazendo crescer o tempo médio de estadia em hospitais públicos, afinal, para-choque de motocicleta são os joelhos dos intrépidos pilotos urbanos.

Esse acidente ocorrido na Rua Intendente Magalhães, zona norte do RIO, passaria despercebido, não fosse a agressividade do motorista da pick-up, que além de atropelar o motociclista, engatou a ré, e atropelou o motociclista novamente, engatou agora a primeira marcha e mais uma vez passou por cima do corpo já inerte, naquele asfalto quente, de uma tarde tórrida que amoleceu a pavimentação, que a princípio deveria ser rígida.

As pessoas hoje em dia passaram a ficar inertes, mesmo em situações escabrosas como a que acontecia naquele momento, muito em função dos jornais televisivos que algumas vezes ao dia despejam na sala do espectador, crimes absurdos, como se isso fosse entretenimento ou informação relevante.

Quando o delegado chegou ao local do acidente, e constatou como ficou o corpo da vítima, não teve dúvida, aquilo foi um assassinato, que o próprio executante não fez a menor questão de pelo menos disfarçar a intenção.

Alguns pedestres que presenciaram esse atropelamento sequencial, informaram ao delegado Romualdo Prata, titular da 29ª DP, que o comparsa do motorista pulou da viatura, e resgatou a mochila da vítima, que pareceu pesada, mas foi ágil para cortar suas alças daquele corpo inerte, e retornar ao veículo, que em seguida partiu em disparada.

Mais tarde, boatos se espalharam pelas mídias eletrônicas e pelo comércio do bairro que haveria confusão, a mochila continha dez quilos de pasta de cocaína, que corresponde a aproximadamente 1,2 milhão de reais. Pode ser que há alguns anos atrás esse valor não fosse tão relevante, hoje a concorrência cresceu, e a rentabilidade do tráfico caiu drasticamente.

Não é pra menos que agora, independente do grupo que domine a região, a “prestação de serviços” foi ampliada, e todo mundo paga mais caro pela água mineral, o botijão de gás e a internet, já para comerciantes rola um adicional de segurança privada compulsória.

Conta a lenda, que o pacote de serviços hoje “oferecido” à comunidade, já supera a renda auferida pelo tráfico, que neste caso não precisa ser mais negociado com o batalhão da PM mais próximo. Aliás, essa desaceleração do consumo, pelo menos na versão do tráfico, tem deixado descontente à cúpula do 9º BPM, acostumada a receber montante bem mais gordo no passado recente.

A própria polícia civil solicitou aumento do contingente naquela região que agrega parte do bairro de Madureira e da Praça Seca, onde convivem em pé de guerra duas fortes facções, o comando vermelho e uma milícia ainda anônima.

Enquanto o crime tenta se organizar em grupos mais consistentes, as duas facções das polícias continuam as turras, enquanto a civil preconiza a inteligência, apesar da limitação de seu corpo técnico, a militar cresce a um ritmo semelhante às favelas cariocas, e conta com um comando que sempre procura o confronto, esquecendo que desde que o capitão impôs uma flexibilidade para a compra de armas e munição, tanto a milícia, como comandos detém um arsenal melhor equipado e com munição livre para esse exército sem farda.

Bastou o sol baixar no horizonte para moradores da região, passarem ver as luzes dos traçados e ouvir o ratatatá de fuzis. E a PM, com sua costumaz limitação de munição e armas que muitas vezes não funcionam, fico inerte entre o fogo cruzado das duas facções, e torcer para que nenhuma bala perdida encontre uma vítima infantil, fato que sempre sensibiliza a mídia e de tabela a população que já tem um pé atrás com a forma de agir da PM.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 09/11/2024
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