Quase 80 anos de mistério - A insólita morte de Charles Walton
Um assassinato brutal é relatado em um pacato vilarejo nas West Midlands.
As autoridades locais não conseguem encontrar suspeito ou motivo.
A Scotland Yard envia seu melhor detetive para ajudar a desvendar o caso, no entanto, a investigação desse homicídio logo tomaria um rumo inesperadamente estranho.
Hoje nós vamos conhecer o intrigante caso de Charles Walton, que ocorreu no vilarejo de Lower Quinton, Inglaterra, em 14 de fevereiro de 1945.
Charles, então com 74 anos, era conhecido na comunidade como um homem reservado, mas com habilidades incomuns como, supostamente, comunicar-se com animais.
Alguns moradores até suspeitavam de que ele estivesse envolvido com bruxaria.
Charles Walton nasceu em 12 de maio de 1870, no pequeno vilarejo rural de Quinton, no condado de Warwickshire, era filho de Charles e Emma Walton.
Pouco se sabe sobre sua criação, mas se sabe que ele trabalhou como treinador de cavalos enquanto jovem, antes de começar seu trabalho vitalício como trabalhador agrícola.
Não se tem a informação de quando ou com quem ele se casou, mas sua esposa faleceu em 9 de dezembro de 1927.
Charles era um homem reservado, não tinha muitos amigos ou se envolvia em atividades comunitárias, porém ele era descrito como muito como honesto, trabalhador e bem-educado.
O viúvo morava apenas com sua sobrinha, Edith Isabel Walton, que a criou como filha. Ele a adotou, quando ela tinha apenas três anos de idade, logo após sua mãe ter morrido.
Na época dos fatos contados hoje, ela tinha 33 anos.
Charles Walton, mesmo com certa debilidade pela idade, de andar com ajuda de uma bengala e aparentar fragilidade física, ainda era uma pessoa ativa e trabalhava em diversas fazendas da pequena comunidade.
Charles tinha a reputação de notável treinador de cavalos, mas também era visto como um personagem incomum, pois, também era reconhecido por ter alguns dons estranhos, como fazer com que pássaros voassem até sua mão para serem alimentados nela e, também, tinha a habilidade de domar cães selvagens apenas com sua voz.
Por tudo isso, verdade ou não, alguns moradores do vilarejo comentavam que ele sabia falar com os animais e isso não era visto com bons olhos por todos, afinal era década de 1940, quando muitas pessoas ainda temiam a bruxaria ou coisas do tipo.
O que é incontestável é que Charles era um verdadeiro homem do campo, conhecia muitos contos e tradições rurais, além dos costumes antigos do local.
Quinton que, ainda hoje não passa dos dois mil habitantes, em 1945, apesar de não termos dados oficiais, provavelmente, não tinha muito mais que 500 habitantes naquela época e era um local cheio de folclore e alguns na aldeia acreditavam nas superstições e no envolvimento de Charles com algum coven local.
Coven, explicando rapidamente, é um grupo ou uma reunião de bruxos e bruxas de uma certa localidade.
A maioria dos moradores, entretanto, acreditava que ele simplesmente tinha sabedoria da idade, uma vida de experiência rural e que tudo era fruto do conhecimento adquirido ao longo de décadas dedicadas as campo.
No dia de seu assassinato, quatorze de fevereiro de 1945, Charles cuidava de cercas vivas em Hillground, um campo no sopé da Meon Hill, com uma foice e um forcado, que é um garfo de campo, tipo um tridente, mas não necessariamente com 3 dentes.
Ele tinha saído muito cedo como era de seu costume, disse à sobrinha que provavelmente passaria o dia fora na lida do campo.
Durante os últimos nove meses de sua vida, Charles trabalhou na fazenda The Firs, propriedade de Alfred Potter.
A sobrinha de Charles também saiu para trabalhar e, quando chegou de volta do trabalho, ao final do dia, já era por volta das dezoito horas, estranhou que seu tio, que sempre chegava antes dela, ainda não tinha chegado.
Ele era um homem de hábitos, solitário em sua vida e não costumava mudar sua rotina e por essa razão ela ficou preocupada e com medo de que algo tivesse acontecido com o velho homem que tinha como pai.
Então procurou o vizinho, outro trabalhador rural, o senhor Beasley, mas ele nada sabia de Charles, porém, se prontificou a ajudar Edith a encontrá-lo, jjuntos eles foram para a fazenda The Firs para checar com Alfred.
Ao chegar à fazenda, o senhor Alfred disse que viu Charles pela última vez no início do dia e que não sabia onde ele estaria naquele momento, mas permitiu que eles entrassem na sua propriedade para procurá-lo.
E logo descobriram o motivo de Charles não ter voltado para casa.
Charles Walton estava morto e pela cena assustadora ficou claro que se tratava de um assassinato.
Edith tão ficou histérica, pois o homem que ela amava como pai estava ali grotescamente caído inerte no chão, a cena era brutal e incomum, ela teve que ser retirada dali e levada colina abaixo para se acalmar.
A polícia foi chamada, enquanto um morador da região ficou sozinho na cena com o corpo de Charles.
Charles tinha sido vítima de um ataque terrível, vítima de uma violência assustadora, ele não tinha sido apenas assassinado, foi algo, de certa forma, insano, cruel, quem acabou com a vida dele daquela maneira, se utilizou das próprias ferramentas que Charles.
Ele teve sua garganta cortada três vezes com sua foice e, com muita selvageria, o agressor o apunhalou logo no peito com seu forcado e, por fim, enfiou o garfo do forcado na garganta de Charles, prendendo o corpo do homem no chão e travando a alça sobre a transversal da cerca.
O garfo permaneceu preso em sua garganta, tanto que, quando Charles foi encontrado, ele estava de pé escorado por esse forcado.
Algumas pessoas afirmam que uma cruz foi cortada no peito da vítima, no entanto isso não é mencionado no exame cadavérico de Charles.
Também foi dito que a força do agressor era tanta que foram necessários dois policiais para arrancar o forcado do chão e da cabeça de Charles.
Os detetives do departamento de investigação criminal de Stratford-on-Avon chegaram pouco depois das 19 horas e o detetive inspetor começou a tomar as declarações imediatamente.
Enquanto conversava com a polícia, Alfred Potter afirmou que havia retornado por volta do meio-dia para sua fazendo, quando viu Charles trabalhando a uns 500 metros de distância.
Ele tinha cerca de 10 metros restantes de cerca viva para cortar naquele dia.
Alfred descreveu Charles como um “tipo de homem inofensivo, mas que falaria o que pensa se necessário”.
Depois disso, ele foi liberado.
Durante a autópsia, o Doutor Webster encontrou inúmeras coisas que foram vistas na cena do crime, mas, sua análise completa revelou a extensão dos ferimentos que Charles recebeu.
Duas armas foram usadas: uma arma de perfuração, acredita-se que o forcado, e uma arma de corte, possivelmente a foice.
Charles foi atingido na cabeça com sua bengala que foi encontrada a três metros e meio de seu corpo, coberto de sangue e com o cabelo da vítima grudado nele.
Charles tinha ferimentos defensivos como um corte na mão esquerda e hematomas nas costas da mão direita e antebraço.
Provavelmente, na luta, as costelas de Charles foram quebradas e ele tinha hematomas no peito, além de um corte no pescoço, tão profundo que o corte chegou à traqueia.
Mais tarde, houve rumores de que uma cruz foi esculpida no peito de Charles, o que não foi incluído no relatório do médico legista e, por isso, não se sabe se isso é verdade ou não.
Outro fato revelado pela polícia é que um relógio de metal havia sido roubado da vítima.
Os investigadores, até então, seguiam duas linhas: uma que o assassinato provavelmente fora cometido por um louco; a segunda é que um dos prisioneiros italianos que estavam em um campo de prisioneiros de guerra que existia bem próximo do vilarejo.
O ocorrido foi no ano de 1945, o mundo ainda estava enfrentando a Segunda Guerra e os italianos eram inimigos dos ingleses e por isso havia esse campo na região.
A investigação seguia até que, em 15 de fevereiro, o vice-chefe de polícia de Warwickshire fez uma declaração em que dizia:
“O chefe de polícia me pediu para obter a assistência da Scotland Yard para auxiliar em um caso brutal de assassinato que ocorreu ontem."
O caso realmente exigia conhecimento especializado da polícia metropolitana, pois era visível que aquilo não tinha sido um crime, digamos, normal, era algo muito além do que os policiais locais estavam preparados a enfrentar.
O caso estava tomando tamanha proporção e importância que a Scotland Yard acabou escalando o detetive inspetor Robert Fabian como chefe daquela investigação, naquela época, ele era um dos principais nomes da polícia inglesa.
O conceito dele era tão positivo que, após se aposentar da força policial, em 1949, ele trabalhou como escritor de crimes e seu trabalho foi dramatizado na série da BBC, Fabian of the Yard, que foi ao ar de 1954 a 56, a serie era baseada em seu livro de mesmo nome, além de ser o escritor, ele também participava, pois, cada episódio terminava com um epílogo no qual Fabian descrevia o caso da vida real no qual a história anterior havia sido baseada.
Voltando ao caso, assim que o detetive Fabian chegou em Lower Quinton, ele foi atingido pela atmosfera tensa.
Os moradores estavam cautelosos, e alguns eram hostis à investigação, temendo que qualquer investigação sobre as crenças da comunidade perturbasse superstições antigas.
Sem se deixar intimidar, Fabian interrogou dezenas de moradores, buscando pistas sobre a vida de Charles, seus hábitos e quaisquer possíveis inimigos que ele pudesse ter.
Enquanto isso, circularam rumores de que Charles havia irritado certos indivíduos na comunidade ao supostamente praticar “bruxaria branca”, magia popular associada à boa sorte e proteção.
Essa alegação era difícil de verificar, mas o investigador observou que Charles realmente havia sido visto com amuletos e tinha a reputação de ter uma habilidade incomum com animais, comportamentos que poderiam ter levado ao ressentimento ou medo entre aqueles com uma visão religiosa mais ortodoxa.
Fabian e sua equipe conduziram uma investigação exaustiva, vasculhando o campo onde o corpo foi encontrado em busca de qualquer evidência.
Apesar de seus melhores esforços, eles encontraram pouco para prosseguir.
Evidências forenses eram escassas, e enquanto alguns moradores alegaram ter visto estranhos perto de Meon Hill na época do assassinato, esses avistamentos não puderam ser confirmados.
Ele também investigou o tal campo de prisioneiros italianos, lá ele descobriu que os prisioneiros geralmente podiam andar livremente pela área, embora isso possa parecer incomum para nossa realidade, naquela época não era uma prática estranha e, casualmente, no dia crime, alguns dos prisioneiros de guerra tinham ido a Lower Quinton para assistiram uma peça e outros viram um filme no cinema de lá.
Mas, usando mapas da área para rastrear os movimentos declarados de todos os envolvidos e até fotos aéreas da RAF, a Royal Air Force, ele conseguiu em pouco tempo descartar esses prisioneiros de serem os autores daquele crime grotesco.
A frustração aumentou quando Fabian percebeu que o silêncio da vila, motivado por superstição e medo, estava atrapalhando a investigação, que acabou não progredindo.
Após essas investigações, duas teorias principais surgiram sobre o motivo pelo qual Charles pode ter sido assassinado.
A primeira foi a teoria de que ele havia sido vítima de um assassinato ritual.
Aqueles que aderiram a essa crença argumentaram que a cruz esculpida no peito da vítima e o uso de seu próprio forcado como arma eram simbolicamente significativos para serem mera coincidência.
Eles sugeriram que o assassinato pode ter sido uma forma de sacrifício ou uma maneira de "quebrar" uma maldição, possivelmente motivada pela crença de que o próprio Charles estava praticando bruxaria.
Essa teoria foi reforçada pelo fato de que assassinatos semelhantes teriam ocorrido na região séculos antes, conforme documentado por historiadores.
No entanto, permaneceu possível que o assassinato tenha sido motivado não por superstição antiga, mas por queixas humanas comuns, como explica a segunda teoria, em que o assassinato de Charles decorreu de uma vingança pessoal.
Alguns moradores sugeriram que o homem havia se envolvido em uma disputa com outro trabalhador local, mas nenhuma evidência concreta dessa inimizade jamais surgiu.
O caso ficou ainda mais desconcertante quando a polícia descobriu que Charles havia testemunhado a morte de outro homem no mesmo campo décadas antes.
De acordo com essa história, um homem havia morrido em 14 de fevereiro de 1885, ou seja, exatamente sessenta anos antes do assassinato do próprio Charles Walton. Essa coincidência bizarra alimentou a especulação local de que a morte de Charles tinha um elemento sobrenatural, talvez uma "dívida" cobrada por alguma força antiga.
Fabian, no entanto, ficou frustrado com esse sensacionalismo.
Ele permaneceu cético quanto ao ângulo da bruxaria, convencido de que havia uma explicação racional por trás do assassinato.
No entanto, apesar de sua determinação, ele não conseguia se livrar da sensação desconfortável de que estava lidando com forças que não entendia completamente.
O silêncio contínuo dos moradores apenas agravou sua frustração; ele sentiu que testemunhas poderiam estar escondendo informações, por terem medo de maldições do além-túmulo.
Por fim, apesar dos esforços de Fabian, a investigação não conseguiu identificar um suspeito, e o assassinato de Charles Walton permanece oficialmente sem solução.
Em suas memórias, Fabian refletiu sobre seu tempo em Lower Quinton com uma sensação de desconforto, relatando a hostilidade inexplicável que encontrou e o "véu de segredo" que cercou o caso.
O povo de Lower Quinton, embora orgulhoso de sua aldeia, continua a se lembrar da tragédia com um sentimento de mau agouro.
Mesmo depois de décadas, o campo perto de Meon Hill é visto com cautela, um lugar onde os moradores evitam permanecer após o anoitecer.
E. até hoje, a morte de Charles continua sendo um dos assassinatos não resolvidos mais misteriosos da história britânica.
https://vocal.media/criminal/the-mysterious-death-of-charles-walton
https://www.wikiwand.com/en/articles/Robert_Fabian
https://www.wikiwand.com/pt/articles/Midlands_Ocidentais_(regi%C3%A3o)a
https://www.bbc.co.uk/coventry/features/weird-warwickshire/1945-witchcraft-murder.shtml
https://www-vice-com.translate.goog/en/article/charles-walton-murder-victim/?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-BR&_x_tr_pto=sc
https://cvltnation-com.translate.goog/ritual-murder-rural-england-strange-case-charles-walton/?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-BR&_x_tr_pto=sc