UMA VIDA DEDICADA À PRAIA
Vou contar a história de um ícone da Praia de Ipanema, Torquato de Menezes, vulgo Taquinho, um sujeito que tem maresia no seu DNA.
Mas vamos ao início, seu pai José Ribamar migrou para a capital do país em busca de uma melhor qualidade de vida, era pescador em São Luís. Até tentou sair do mar, mas a falta de estudo e experiência em carteira o conduziu de volta à água salgada.
Morando provisoriamente, que depois virou definitivo no Pavão/Pavãozinho, favela que se estende pelo alto dos morros que separa os bairros de Ipanema e Copacabana. Falastrão, logo conseguiu se integrar a colônia de pescadores do posto seis, naquele cantinho da Praia de Copacabana, vizinha ao forte homônimo.
Conheceu Maria das Dores, sua esposa, no comércio dos pescados, que acontece cedinho na peixaria da própria colônia. Foi amor ao primeiro linguado com camarão, que Ribamar insistiu em presentear a formosa doméstica.
Muito interessante o amor dos dois, de binóculos na janela do apartamento da patroa na Avenida Atlântica conseguia acompanhar os passos do namorado e depois marido. Sabia os horários de partida para o mar, e ficava na janela para acenar para aquele corajoso desafiante do mar.
Com a chegada de Taquinho, as despedidas passaram a ser feitas a dois, desde cedo o filhote foi apresentado ao mar, e Ribamar ansiava em ter a companhia do filho nas suas incursões mar adentro.
Mas foi só quando completou 15 anos, que Maria permitiu pela primeira vez que os dois encarassem juntos aquele marzão. Para desespero e frustração de Ribamar pegaram uma mudança repentina de tempo, e o mar se transformou numa espécie de tobogã desorientado. O moleque botou os bichos para fora e garantiu ao pai que não botaria mais os pés naquela casca de ovo, que o barco se transformou durante o mau tempo.
Taquinho gostava de apreciar o mar, do ponto de vista da areia. Jogava vôlei, o esporte mais popular nas areias naquela época. Um colega da mesma favela, o Robson, com pouco tempo para administrar as três quadras que administrava em Ipanema, convidou Taquinho para sócio do seu empreendimento.
Como Taquinho estudava na parte da tarde, caberia a ele a montagem das redes e a delimitação da quadra antes das sete da manhã. Em pouco tempo sacou que existia um espaço para dar aula de vôlei para interessados.
Além do que tinha acordado Taquinho agora passaria a dispor de nova fonte de renda. No início atendia só crianças, numa quadra menor e com rede mais baixa. A isca das crianças incentivou muito marmanjo a solicitar esse novo serviço praiano oferecido.
A parceria deles ia de vento em popa, criaram uma nova facilidade para os usuários, duas caixas de isopor com bebidas e frutas. Mas aí entra o acaso na história, e muda seu curso radicalmente.
Foi ainda na madrugada, com pouca luz natural, ao escutar os primeiros disparos de fuzil, fruto dessas tresloucadas incursões da PM para confrontar facções que dominam o tráfico da cidade, Taquinho apressou o passo e rapidamente e incólume, deixou a favela para trás.
Interessante, essa disparidade do quesito insegurança, nesse caso específico, duas realidades distintas tem como elo de ligação, ou barreira o elevador que liga a Rua Barão da Torre à comunidade do Pavão/Pavãozinho.
Mais tarde, através de um amigo comum, Taquinho recebeu a notícia da morte do parceiro, vítima de bala perdida (seria mesmo perdida?), enquanto recolhia para dentro de casa seu cachorro, que insistia em latir da varanda da casa, assustado que estava com a barulheira dos tiros desferidos sem pausa no confronto.
Mas amanhã felizmente tudo voltará ao normal, e Taquinho agora contagiado pela moda do beach tênis estará lá cobrando a diária de uso da quadra, e se aparecer algum aluno vai se transformar em professor.
Taquinho, com seu tino comercial, comprou a concessão da barraca próxima às suas quadras de um colega da comunidade, e agora monopoliza aluguel de barracas, cadeiras e bebidas de seu canteiro de atividades esportivas, que conta com um pano de fundo que só os moradores da Avenida Vieira Souto podem desfrutar cotidianamente.