O CRIME COMPENSA?
Wescley Nunes da Silva, 23 anos, mulato, do tipo magricelo, ensino fundamental terminado aos trancos e barrancos, nascido e criado no conjunto habitacional da Vila Kennedy, Bangu, localidade que convive com clima similar ao do deserto, marcando sempre a temperatura máxima da cidade no verão e muitas vezes convivendo com a mínima do inverno.
Num bairro que se desenvolveu a partir da Fábrica de Tecidos Bangu e sua prodigiosa produção rural, onde mais tarde foi escolhida para receber boa parte da população removida das favelas da zona sul carioca.
Nos periódicos da cidade, o Bangu Esporte Clube frequentou com destaque as páginas de esporte, a partir de equipes que conseguiram ser campeões da primeira divisão do futebol.
A região também se popularizou como berço do lendário Castor de Andrade, bicheiro estiloso, que além de apreciar alguns animais, nutria devoção especial ao time local, onde foi a logo alçado ao patamar de patrono do clube.
Wescley assistia passivamente esse cenário onde destino de seus colegas, que como ele com pouca propensão aos estudos, tinha consciência que seu destino logo a frente se resumiria a duas possibilidades de crescimento profissional, ambas com alto risco, a primeira passar no concurso para polícia militar, a outra bem mais fácil, porém com risco significativamente mais alto, filiar-se ao exército do tráfico e ações sociais paralelas.
Pela primeira vez na vida ele finalmente tinha uma meta a ser alcançada, a aprovação no concurso da PM, influenciado que estava sendo por dois de seus vizinhos.
Com menos de um ano de farda Davidson e Erickson, podiam ser vistos regularmente circulando bem acompanhado pelas acanhadas ruas do bairro, ora em motocicletas destas com mais de mil cilindradas, ora em reluzentes carrões seminovos. Existe estímulo maior?
Isso enchia de admiração os olhos de Wescley, sonhava acordado com essa nova realidade para si também, e não escondia de ninguém, inclusive de seus colegas da repartição pública municipal onde trabalhava.
Não tinha a menor vergonha de confessar, sabia que não seria com o vencimento da carreira militar que conseguiria subir na vida, essa verba extra viria mesmo da corrupção.
Depois de sofrer a frustração em dois concursos seguidos, não desanimou, e a sorte finalmente lhe sorriu no terceiro. Despediu-se de todos eufórico, prometendo uma visitinha de médico, assim que abandonasse de vez o precário transporte público oferecido na cidade.
Bastou um semestre na PM, para que o determinado Wescley aparece no antigo trabalho, cumprindo a promessa da agora transitar sem a companhia de motorista.
Esperava em breve deixar a Vila Kennedy para trás, conseguira um financiamento para ocupar um apartamento daqueles construído para a corporação, ali na Rua Frei Caneca, no bairro do Catumbi.
Para os mais chegados, mostrou até fotos com louraça que tem circulado na noite da zona oeste, e que mais a frente pretende casar e ter filhos.
Interessante esse comportamento blasé que naturaliza a corrupção, fazendo em muito lembrar a trajetória de boa parte de nossos políticos. Para essa parcela da população ninguém duvida de que: “o crime feito dessa maneira compensa”.