NEM TUDO SÃO FLORES

Os casais Albuquerque e Figueira estavam prestes a fazer bodas de pérola (30 anos) de convivência a quatro, amizade que veio desde os áureos tempos da faculdade de Direito da UFRJ.

Na universidade Lucia e Débora, disputavam o troféu de primeira aluna da turma, na realidade se revezavam na liderança, e assim se passaram os quatro anos letivos. Mateus namorado de Lucia e Leandro namorado de Débora, que ao contrário das moças, já encaravam o batente de dia inteiro, chegando diariamente para as aulas, como jogadores de futebol se sentem quando precisam encarar a prorrogação numa partida de futebol.

Os felizardos além de desfrutar do amor das meninas, sempre sentavam juntos, a assessoria pessoal delas se transformou literalmente na bóia de salvação para ambos. Conheceram-se ainda no segundo semestre do curso, e quando concluíram o bacharelado em Direito, tanto Mateus, como Leandro acumulavam uma dívida acadêmica impagável em papel moeda.

Três meses depois de formados dividiram os custos de um casamento com festança, seguido de lua de na então glamorosa Buenos Aires.

Compraram o primeiro imóvel, na planta na badalada Rua Dias da Cruz, no nervoso coração do lado esquerdo do Méier.

Depois de algum tempo de experiência em escritórios de direito, os quatro resolveram chutar o balde, e criar o Albuquerque e Figueira Associados, facilitado pelas opções de formação dos casais: Mateus e Lucia se especializaram em direito tributário, enquanto Leandro e Débora se dedicaram ao Direito Civil, com viés na Família.

Eram sócios em praticamente tudo que faziam. Quando resolveram comprar uma casa de serra, para fugir do calorão da Zona Norte do RIO, e o Méier com suas ilhas de calor, convive naturalmente com termômetros que no verão, superam cotidianamente os 40°.

Como nem tudo são flores em nossa trajetória por esse plano, o acaso aconteceu, desarticulando esse sólido quadrilátero de cooperação e por que não de empatia envelhecida em barris de Carvalho.

Um acidente de trânsito na Serra dos Órgãos deixou Lucia viúva, em seguida uma depressão abateu toda vitalidade da amiga querida. Depois de muita conversa entre os três, uma conclusão quase natural aconteceu, Lucia aceitou morar momentaneamente com o casal de amigos. Leandro e Débora agora poderiam dedicar mais atenção a querida Lúcia.

Com muita paparicação do casal, Lucia logo retornou não só ao trabalho, também queria voltar à vida noturna e as viagens a aconchegante casa da serra, com suas noites de temperaturas amenas, mesmo na estação mais quente e chuvosa.

A vida a três ia gradativamente se assentando, e Lucia não se fazia de rogada, sempre aprontava uma surpresa para o casal, que vinha tanto pela via gastronômica, como por viagens que ela eventualmente oferecia ao casal de amigos.

Depois de uma sombria nuvem escura chover sobre os casais, agora a tentação acabou falando mais alto, e tudo aconteceu após repentina viagem de Débora para um congresso em São Paulo.

Leandro resolveu se engraçar para cima da Lucia, que prontamente reagiu com agressividade, para dar um ponto final no assédio. Ela de alguma forma já vinha sentindo um clima, toda vez que estavam a sós, mas que acreditava, achando que era coisa de mulher.

À noite, enquanto lia um livro na varanda, novamente voltou a assediá-la, ela levantou da poltrona e tentou abandonar o ambiente rapidamente, foi impedida por um forte abraço, seguido de mãos tocando partes íntimas.

Ela fingiu não resistir ao assédio, e quando ele se sentiu mais a vontade, concentrou toda raiva nos braços e empurrou Leandro contra o guarda corpo da varanda, que não resistiu à pressão exercida e despencou do oitavo andar, se estatelando no playground do condomínio.

Lucia inconsolável, ainda teve forças para ligar para Débora, com um relato sintético dos fatos ocorridos naquele fatídico final de semana.

Nos próximos meses, não vão ter opção, ambas precisarão frequentar tribunais, desta vez tentando provar a própria inocência da amiga assediada.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 09/10/2024
Código do texto: T8169812
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