CRIME OU ACIDENTE, FINAL

Em pensar que às vezes o mundo se torna injusto com quem sempre prezou a gentileza, Dona Teresa era uma espécie de unanimidade entre pessoas que com ela se relacionavam . Na igreja católica que frequentava era considerada uma espécie de conselheira de apoio do padre Jorginho. Ele confiava no taco dela, dispunha de forte intuição, e assim conseguia dar solução, mesmo a problemas cabeludos.

Não foram poucas as vezes que tirou do próprio bolso o valor para compra de um medicamento, ou do berço de segunda mão de algum devoto em dificuldade financeira.

Os comerciantes do bairro davam tratamento diferenciado quando entrava em seus estabelecimentos, sabiam da sua peculiar generosidade, fazia questão de gratificar quem a servisse, independente do serviço prestado. Até mesmo os raros mendigos do bairro, sabiam que se dessem uma passada em sua casa logo após as 13 horas, conseguiriam refeição fresquinha, resultante das sobras do almoço das senhoras.

Foi num sábado ensolarado que recebeu pela primeira vez Marcela, a namorada de Diego, uma esguia morena de olhar atento, para enfim comemorarem juntas, pela primeira vez o aniversário de Diego. A festa seria gastronômica, com requintado churrasco bancado pela tia, foram também convidados alguns colegas de faculdade.

Fazia tempo que o casarão de Santa Teresa não recebia tantos convidados, e, além disso, jovens. Nos tempos de turista inveterada Dona Teresa chegava a juntar muita gente, porém com características bem diferentes, a maioria formada de senhoras com mais de sessenta anos.

Nas conversas de Marcela com Dona Teresa, o olho da primeira cresceu, morava com os pais num compacto apartamento de dois quartos, desses que paredes não impedem que você participe involuntariamente da conversa no cômodo adjacente, não importando se o espaço é interno, ou o apartamento do vizinho.

Dali para frente, Marcela se mostrou interessada em conhecer mais detalhes da vida de Dona Teresa. A idosa, se sentindo a vontade com a namorada do sobrinho, abriu as portas de seu coração.

Mal sabia que tudo que relatava a jovem serviria de motivo para o que viria pela frente. Marcela começou a convencer Diego de acelerar a partida da tia, pois receberiam como herança além do casarão, outros imóveis alugados na Zona Sul carioca e dinheiro em aplicações, acumulado desde que desistiu de suas dispendiosas viagens internacionais.

Diego achou que a namorada estava pirando, e não deu importância a esse papo sem noção. Ela insistia, tinha inclusive bolado um plano, a pedra no sapato era Dona Mariquinha, que poderia jogar areia em sua estratégia de mudar subitamente de vida.

Tanto encheu o saco de Diego, usando artifícios que tão bem as mulheres sabem manipular, para assim hipnotizar um homem apaixonado.

Sentindo que seria complicado estragar a relação das idosas, e sabendo da vida de privações de Dona Mariquinha até vir morar ali, ofereceu valor considerável para que testemunhasse inocência de Diego, em caso de um acidente em casa.

No domingo anterior ao acidente, Marina chegou a casa quando todos dormiam, esperou acordada até a chegada da madrugada, quando então entrou no quarto de Dona Teresa, alegando forte dor de cabeça.

A idosa se prontificou a descer com ela até a cozinha, onde lhe daria água para facilitar a descida do comprimido. Quando Dona Teresa começou a descer a escada foi desequilibrada, e rolou degraus abaixo, parou desacordada no andar térreo. Visando se certificar da morte, Marcela vestindo luvas ainda bateu com força a cabeça da idosa contra uma quina da escada.

Em seguida, discretamente deixou a casa pela porta dos fundos. Foi então que saíram de seus quartos Dona Mariquinha e Diego.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 19/09/2024
Reeditado em 19/09/2024
Código do texto: T8155016
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