IMPACTO POLICIAL | Final
ngelo Negrão
Final
A casa noturna a qual Jane faz da maioria de suas noites seu ponto de diversão garantido localiza-se no centro de um dos bairros mais ricos de toda Helenópolis. O lugar realmente não é para qualquer um. Além dos preços estarem bem acima da tabela, o comportamento de seus moradores deixa claro o quão alto é o seu estilo de vida. Mesmo estando rodeada de pessoas cuja as contas bancárias são quem dita as regras, a Coelho ainda assim prefere passar algumas horas entre esses seres.
Assim que entrou ela percebeu a presença de uma negra incrivelmente linda ocupando um dos bancos do balcão. Vale ressaltar que Jane Macedo tem verdadeira tara por homens, mas também nunca dispensou uma brincadeirinha entre pessoas do mesmo sexo. Sorrateira feito uma serpente, a assassina de Fred Sampaio encostou seu abdômen no balcão de mármore marrom já pedindo seu drink favorito. Enquanto aguardava a chegada do pedido ela trocava olhares com a negra de vestido justo branco batendo acima dos joelhos.
— Eu nunca a vi aqui. — começou Coelho.
— Sou nova na cidade. Este lugar é incrível.
— Também acho. Posso te pagar uma bebida? — Jane se aproximou um pouco mais.
— O que você pediu?
— Um Negroni.
— Pode ser uma limonada italiana. Estou tomando remédio.
Coelho esboçou um sorriso.
— Como quiser.
*
Jane abriu a porta do seu apartamento deixando que a negra maravilhosa entrasse primeiro. O tempo todo Coelho sentia a adrenalina percorrer seu corpo inteiro diversas vezes.
— O que achou do meu cafofo?
— Muito legal. Eu também curto bandas de rock antigas. — apontou para o pôster do Guns n Roses.
— Além de música, você curte sair com meninas? — Jane a segurou pela cintura.
— Claro.
— Vou pôr uma música.
A negra sorriu envergonhada.
— O que foi?
— Eu tenho fantasias. Gosto de estar no comando. Se importa de ser algemada?
Ela bem que tentou, mas Jane não conseguiu segurar a onda de gargalhadas.
— É a primeira vez que ouço isso.
— Podemos ou não? — perguntou novamente a negra.
— Vamos ver se você é o que parece ser.
A música já preenchia todos os cômodos do apartamento quando Jane aguardava a volta de sua convidada especial do banho algemada na grade da cabeceira da cama. Sua excitação era tamanha que ela mal conseguia ficar deitada.
— Vamos logo meu anjo, estou subindo pelas paredes.
Antes mesmo que a criminosa pudesse terminar a frase, Negrão adentrou ao quarto mostrando seu distintivo e dando voz de prisão.
— Jane Macedo. A senhora está presa pelo assassinato de Fred Sampaio.
Coelho não esboçou reação alguma, apenas olhava para o policial parado na porta do quarto.
*
Rubens Sodré fez questão de parabenizar seus dois agentes publicamente. Mesmo com sua velha expressão fechada era possível ver em seus olhos o orgulho que sentia no momento. A prisão de Jane Macedo trouxe dois benefícios a cidade: em primeiro lugar, a retirada de circulação de uma assassina contumaz e também, através desta prisão, a polícia chegará ao maior chefão do tráfico de entorpecentes do país na atualidade.
— A nossa missão ainda não está completa. Precisamos fazê-la falar quem está por trás da morte de Fred. — Declarou Sodré entrando em sua sala.
— Coelho é uma bandida vivida. Com certeza ela vai querer algo em troca. — Completou Duarte.
— Tá certo. — começou Negrão. — eu falo com ela. Vamos ver o que ela tem a dizer.
*
Olhos claros bem abertos. Pernas cruzadas. Aparentemente Coelho parece não se importar muito em se encontrar algemada a uma mesa de aço inox dentro de uma sala de paredes escuras aguardando para ser interrogada. De repente a porta se abriu e por ela entrou um agente de aparência saudável e rosto sereno. Negrão quase perdeu o rumo diante da beleza estonteante da fora da lei.
— Sou ngelo Negrão. Podemos conversar?
— O senhor está em sua casa, detetive Negrão.
— Ótimo! Para quem está trabalhando?
— E o que eu ganho com isso? — esboçou um sorriso.
— Veja bem, senhora Jane…
— Prefiro que me chame pelo meu vulgo.
Apesar da marra, Negrão não conseguia sentir raiva dela.
— Veja bem, Coelho. A senhora não está em posição de exigir nada aqui, então…
Coelho descruzou as pernas proporcionando ao policial uma visão pra lá de sensual. Negrão não conseguiu evitar o olhar.
— Acho que o senhor gostou do que viu, não é, detetive?
— Estou no exercício do meu trabalho. Podemos terminar logo com isso?
— Vai depender muito do que o senhor tem a me oferecer.
Houve um silêncio bastante barulhento aos ouvidos de Negrão que precisou ser rápido, ele estava perdendo o controle da negociação.
— Você matou um dos maiores chefões do tráfico e com isso contraiu inimigos dentro e fora da prisão. Se você falar para quem trabalha e o que ele está tramando, consigo fazer com que a senhora cumpra sua pena num presídio bem distante de Helenópolis. Fechado?
Jane pensou na proposta demoradamente e só então algo lhe veio à mente.
— Vou querer pelo menos duas visitas íntimas na semana. Sou uma mulher sexualmente ativa.
Negrão cruzou os braços.
— Já pode começar a falar.
*
Assim que o já previsível e temido nome Osmar Ruas foi mencionado por Coelho, imediatamente o cérebro do detetive deixou a zona defensiva para a ofensiva. A polícia de Helenópolis precisa agir rápido e com inteligência para desarticular a quadrilha de Ruas. Rubens Sodré convocou toda sua equipe para uma reunião de última hora na sala de conferências e ali despejou a bomba sobre seus oficiais.
— Osmar Ruas tem um plano que precisa ser aniquilado. A nossa cidade, mais do que nunca precisa de nós, então, conto com cada um dos senhores para essa grande missão. A guerra vai começar.