Voo 007.
Voo 007.
Era manhã na cidade ou ao menos era assim que eu me lembrava. Não sei dizer com certeza se era sonho ou se era realidade!
Certeza mesmo era quanto ao local que estava. Não duvidei disso. Lembro-me de ter bebido durante a noite. Bebida é para chamar o sono e afastar as preocupações, para alguns é alívio. Pois, o dia sempre vem e com ele os temores e as incertezas, raríssimas exceções. Profissão de risco!
Estava hospedado em um hotel em São Paulo. Já havia permanecido naquele local em missão anterior, porém não me lembro do nome. Mas, era próximo à policia federal. Era na Lapa.
Levantei-me com a cara de papel quando não se tem mais utilidade. Subi e desci. Do banheiro à cozinha. Lavei o rosto e olhei para a gaveta aberta e se ainda estava lá...
Estava! Senti um alívio que não consigo explicar, pois se perdesse a pasta acredito que também perderia. Mudei os pensamentos. Era torturante saber das possibilidades de futuro e de que tudo dependeria de terminar o negócio.
Guardei o uniforme na mochila. As pessoas não devem saber o que eu faço. O segredo importa mais que a divulgação. Esta só em último caso, pois aprendi que a defesa se faz no silêncio, assim como o processo, frio, silencioso e letal. De alguma maneira afeta o comportamento.
Ouvi um barulho de vidro quebrado. O copo havia caído com o trepidar da casa. O trem estava passando. Peguei a pasta que deveria ser entregue e sai.
Entrei no automóvel elétrico e dirigi-me até o local do encontro. A missão era de reconhecimento e apresentação dos documentos.
Cheguei primeiro e aos poucos os demais chegaram. Cada qual acompanhado por outras pessoas que não sei dizer se sabiam ou não do serviço que era para ser realizado.
Alguém acenou para que eu me aproximasse.
- Trouxe o combinado? O sujeito perguntou em tom de ameaça.
- As instruções seguirão por e-mail, continuou.
Olhei inconscientemente – uma espécie de instinto de sobrevivência – percebi tudo ao redor e pude compreender a extensão territorial e as pessoas que poderiam oferecer perigo. Contei mentalmente! Corresponde ao número de apóstolos: doze como os meses de um ano e doze como os trabalhos de Hércules.
Acenei de maneira positiva apenas com o movimento de cabeça. Entreguei a pasta que estava na mão. Sem dizer mais nada sai da sala sem olhar para traz temeroso com o que poderia acontecer.
Foi rápido e estava de frente para o prédio da polícia federal. Entrei. Entreguei os documentos ao atendente.
- O que aconteceu? Perguntou o agente.
- Passaporte! Respondi.
- Vai para aonde?
- Grécia.
- Trabalho, estudo ou viagem apenas.
Vacilei por um instante e permaneci mudo. O agente olhou com desconfiança e fez sinal para outros agentes. Percebi o que estava para acontecer. Coloquei as mãos na cintura. O celular tocou. Era a mensagem.
Apertei um botão do relógio e a inteligência artificial surgiu e deu-me bom dia. Apresentei para o agente a ementa do doutorado em mitologia grega. Nada mais foi dito e perguntado. Seguimos por caminhos opostos.
A viagem estava agendada. Nome: James Oliveira, horário: às 24 horas, voo: 007.
Sentei-me na poltrona indicada. Liguei a televisão e um episódio dos agentes da S.H.I.E.L.D. era apresentado. Por algum tempo assisti sem interesse até que o poder mágico da televisão se fez presente: dormi. Acordei depois de algumas horas. Lembrei que era uma viagem longa de mais ou menos 24 horas até o destino. Ao menos a metade do caminho fora percorrido. Olhei sem motivo pela janela do avião. Extensão de água salgada.
A aeromoça sorriu de maneira voluptuosa e perguntou se queria algo. Fuzilei os olhos de modo que pudesse compreender o não dito. Decifrar as intenções por detrás dos olhares fora algo que aprendi na academia de treinamento. Esconde-se e se dissimulam as intenções. Um observador inexperiente acharia que havia algum interesse ali que não o interesse do fim dos trabalhos, carne na carne. Monotonia.
Desembarquei na Grécia às 24 horas após ter embarcado rumo ao destino.
Osasco, 09 de setembro de 2024.
Fábio Oliveira Santos.