UM CAMINHO SEM VOLTA, FINAL
Nossa história prossegue, embora Dr. Jorge não desse importância às constantes ameaças sofridas, pelo menos relatava os acontecimentos ao Maurinho, que preocupado com os fatos, acionou de imediato o delegado Moscoso da 9ª DP, que alguns anos atrás sobrevivera a um confronto nas proximidades do hospital dos Nogueira, que lhe ofereceram pronto atendimento, e posteriormente abriram as portas da instituição para a fisioterapia necessária à sua recuperação integral.
Maurinho tinha alguns suspeitos em potencial, função das ações levadas a cabo pelo superintendente, e fez questão de passar integralmente essas informações para a autoridade policial.
A estratégia do Dr. Moscoso, esses delgados gostam de incluir esse título indevido a frente de seu nome profissional, foi assim que infiltrou dois policiais nas dependências do hospital como médicos vinculados a produção e controle de estatísticas de procedimentos médicos e ambulatoriais.
Em suas constantes visitas aos departamentos, até faziam anotações de controle, mas os ouvidos estavam afinados para conversas em paralelo, e assim iniciaram a montagem de uma teia dos funcionários descontentes e suas atitudes e posturas.
Numa madrugada, instalaram uma câmara em árvore próxima à vaga reservada ao superintendente, logo descobriram quem efetivamente transformava o descontentamento em ação.
Chamado a delegacia para depor, o auxiliar de serviços gerais negou veemente o fato, e foi desmentido por uma foto extraída da filmagem. Para não ser demitido e responder por ameaça a terceiros, resolveu abrir o bico, denunciante o mandante.
Agora, o cerco seria sobre o mandante. Conseguiram quebrar o sigilo telefônico dele, e aí sim tiveram acesso às conversas do grupo, que incluía a participação também de fornecedores, que, aliás, assumiram a maior cota de participação no rateio para contratação do matador profissional.
Mais sigilos telefônicos quebrados, a polícia já tinha argumentos suficientes para agir com destreza e dar um final feliz a essa história, que caminhava para um homicídio planejado por algum profissional da área.
Os dois agentes mantinham o delegado informado de cada paço dado, e por consenso, resolveram deixar o grupo levar o planejamento até o último momento. Já tinham a relação de envolvidos, que a seu tempo seriam detidos, faltava conhecer quem seria o profissional contratado para solucionar de vez o problema.
Na data marcada para execução do plano, delegado Moscoso pediu reforço da polícia militar, e o objetivo era a montagem de uma blitz no acesso ao túnel Santa Bárbara para quem sai da Rua das Laranjeiras, local pouco iluminado e sem câmaras, que não desse chance de revelar placa e modelo da viatura usada ou até mesmo seus ocupantes.
Ao final da tarde toda estrutura estava montada, e contava inclusive com aquela espécie de colchão de pregos, para garantir a impossibilidade de fuga dos criminosos.
Os dois policiais ficaram a espera da saída do Dr. Jorge no estacionamento do hospital, saíram logo após, mas foram surpreendidos pela presença de uma motocicleta, além do carro que já acompanhava de perto o veículo da futura vítima.
Por rádio os policiais solicitaram que a viatura do Dr. Moscoso interceptasse a motocicleta, lembrando que o carona carregava uma dessas metralhadoras automáticas com alto poder destrutivo.
Ao cruzar o Largo do Machado o motociclista perdeu o controle da motocicleta ao receber um totózinho da viatura oficial, foram ao chão, e sequer tiveram tempo de reação, policiais desceram imediatamente do veículo armados e já dando voz de prisão.
O outro veículo, com dois ocupantes aturdidos devido a ausência dos motociclistas foi detido pela PM, e posteriormente confessaram que sua contratação tinha como finalidade dar cobertura aos ocupantes da motocicleta e assim agilizar sua fuga.
No final das contas, não foi preciso disparar um único tiro para prender contratados e mandantes de um crime que felizmente não ocorreu.
Que essa ação da inteligência sirva de modelo para futuras intervenções policiais. Detalhe importante, Dr. Jorge nem soube do ocorrido.
Maurinho Nogueira mais tarde reuniu o corpo de funcionários para agradecer o empenho dos servidores da 9ª DP, e em seguida informar o porquê da demissão de alguns funcionários, inclusive alguns com muito tempo de casa e aproveitou também para discorrer sobre deslizes financeiros que quase levaram o hospital a bancarrota.