Capítulo 4: A TEIA DE MORETTI

Na penumbra de seu esconderijo, Rafael Montenegro olhava fixamente para a tela do laptop. As informações que havia acabado de receber do Tenente Moreira, seu contato dentro da polícia, pulsavam diante de seus olhos como uma bomba-relógio prestes a explodir. O relatório codificado que ele acabara de decifrar trazia detalhes de uma operação criminosa tão audaciosa e bem orquestrada que, por um momento, até mesmo Rafael, com toda a sua experiência, se viu espantado pela magnitude do esquema de Silvio Moretti. O documento detalhava um esquema complexo da rede de lavagem de dinheiro, que fazia uso de todos os elementos possíveis do submundo do crime. Silvio Moretti, ao longo dos anos, havia construído um império baseado na corrupção, suborno e manipulação. Para lavar as fortunas obtidas por meio de tráfico, extorsão e outros crimes, Moretti criou uma teia intricada de transações financeiras que envolviam múltiplas camadas de proteção. A operação começava com a criação de fichas falsas em nome de pessoas fictícias ou falecidas. Essas identidades eram cuidadosamente construídas para parecerem legítimas, utilizando documentos reais obtidos de servidores corruptos do cartório e da justiça. Os dados dessas pessoas, que oficialmente ainda existiam no sistema, eram usados para abrir contas bancárias em paraísos fiscais e criar empresas de fachada. Moretti mantinha sob seu controle uma rede de advogados e escritórios de contabilidade altamente respeitados na sociedade. Esses profissionais, sob o manto da legalidade, criavam contratos falsos, documentos fraudulentos e operações empresariais fictícias. As transações eram registradas como empréstimos, investimentos ou vendas de propriedades, e os documentos criados eram tecnicamente perfeitos, difíceis de serem contestados. Nas movimentações internacionais o dinheiro lavado era transferido para contas no exterior por meio de empresas offshore. Essas transferências eram realizadas em pequenas quantias, passando por várias etapas intermediárias, para evitar que qualquer padrão pudesse ser identificado. Algumas dessas empresas eram registradas em nome de falecidos, cujos herdeiros desconheciam as transações, enquanto outras pertenciam a laranjas controlados por Moretti. O esquema de Moretti ia além do mero suborno. Ele havia infiltrado agentes dentro do sistema judiciário. Juízes, promotores e funcionários do tribunal que estavam em sua folha de pagamento garantiam que quaisquer investigações sobre suas atividades fossem rapidamente abafadas ou desviadas. Eles manipulavam processos, atrasavam investigações e até mesmo plantavam evidências falsas para incriminar rivais ou possíveis ameaças ao império de Moretti.  A lavagem de dinheiro através de imóveis e obras de arte era uma das táticas mais brilhantes e menos suspeitas de Moretti. Através de leilões fraudulentos e negócios imobiliários, ele era capaz de transferir grandes somas de dinheiro sem levantar suspeitas. Os imóveis eram comprados e vendidos entre suas próprias empresas, inflando artificialmente os preços para justificar a circulação de grandes quantias de dinheiro.  Dentro da operação, servidores corruptos desempenhavam um papel crucial. Funcionários de bancos, cartórios, e até mesmo da Receita Federal, recebiam generosos pagamentos para fechar os olhos ou alterar registros. Esses servidores garantiam que os documentos falsos fossem processados sem questionamentos, e que as transferências financeiras passassem despercebidas pelos mecanismos de controle tradicionais.

Rafael (pensando): - Silvio não construiu apenas uma operação de lavagem de dinheiro. Ele construiu uma fortaleza de corrupção tão bem articulada que parecia impossível de desmantelar. Ele não apenas subornava, ele comprava almas e consciências. Mas toda fortaleza tem suas fraquezas. Rafael sabia que cada passo que desse a partir daquele momento seria vital. O relatório deixava claro que a operação era tão extensa que envolvia não apenas criminosos comuns, mas pessoas com poder e influência nas mais altas esferas da sociedade. Havia muito em jogo, e ele precisava agir com extrema cautela. No entanto, havia uma incógnita que Rafael ainda precisava resolver: Ana Moretti. O relatório mencionava que Ana estava ciente de algumas partes da operação, mas não do todo. Parecia que Silvio, mesmo desconfiando de tudo e de todos, ainda protegia sua filha da parte mais suja do negócio. Porém, a visita de Ana na noite anterior sugeria que ela estava tentando descobrir mais do que seu pai gostaria.

Rafael (pensando): - Será que Ana está tentando se afastar do pai? Ou será que está apenas ganhando tempo para descobrir quem realmente sou?   Enquanto refletia sobre isso, seu telefone emitiu um breve sinal. Era uma mensagem codificada de Tenente Moreira, confirmando que as transferências mencionadas no relatório estavam de fato acontecendo, e que ele estava a postos para agir assim que Rafael desse o sinal. O cerco estava se fechando, mas ainda havia muitas variáveis desconhecidas. Rafael sabia que para derrubar Moretti, precisaria criar uma armadilha perfeita. Ele teria que usar as sombras do próprio labirinto contra o homem que o havia construído. A primeira etapa seria fingir que estava executando as ordens de Silvio, mantendo todas as aparências de lealdade. Ele continuaria a operar como "Rodrigo Alves", mas simultaneamente começaria a minar a base da operação por dentro.

Rafael (pensando): -Vou deixar que Silvio acredite que tudo está indo conforme planejado, enquanto preparo o terreno para expor cada peça do seu esquema. Vou usar suas próprias ferramentas contra ele, e quando ele perceber, será tarde demais. Com o plano em mente, Rafael começou a traçar suas próximas ações. Ele precisava se mover rapidamente, mas de forma invisível, como uma sombra. Cada movimento seria decisivo. O jogo estava longe de terminar, e Rafael sabia que para sair vencedor, precisaria ser ainda mais audacioso e calculista do que Silvio Moretti jamais poderia imaginar. Mas uma coisa era certa: Rafael Montenegro estava preparado para enfrentar qualquer coisa que viesse de dentro daquele labirinto de sombras. E, dessa vez, ele não sairia sem respostas — ou sem vingança.  Rafael Montenegro olhando para a tela do notebook começa a pensar nas informações recebidas, estava tudo ali prontinho para fazer Silvio Moretti cair do salto, aliás, estava tudo certo demais e ele aprendera   que tudo que é bom pode não ser bem assim, estaria ele sendo manipulado? Estaria o tenente na folha de pagamento de Moretti? Dúvidas e mais dúvidas, começou a lembrar como se infiltrara na organização disfarçado de hacker e conhecedor do mercado financeiro, quando vira Moretti pela primeira vez e as circunstâncias que o levaram a isso, resolveu investigar um pouco mais, estava desconfortável, ainda não havia decifrado a atuação de Ana, e não esquecia a morte de Clara.

 

 

 

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