SOLUÇÃO INESPERADA, A SEQUÊNCIA
A cena inicial dessa nossa história se passa no quarto do casal, onde o silêncio associado à perplexidade enchiam o ambiente de ansiedade, Roberto ensanguentado após três facadas certeiras, ainda pálido e estático como um palmito, conseguiu finalmente sentar à cama, bem ao lado do pai, agora inerte.
Marli, assustada, processava naquele instante um turbilhão de ideias, ante uma realidade assim dilacerante, e antes de tudo, sabe que precisará de calma, muita calma até tomar alguma decisão em definitivo.
Os demais meninos ainda dormiam tranquilos no quarto adjacente, por enquanto não fazendo parte da tormenta de ideias que explodiam na cabeça de Marli.
Roberto também tentava dizer alguma coisa para mãe com um olhar de profundo desespero, mas garganta seca não emite sons.
Começava a entrar no quarto as primeiras luzes, de um dia que amanhecia sombrio, Marli, então, pela primeira vez e lentamente verbaliza o que passa por sua cabeça.
Leitora eclética e voraz entende, que de nada adiantará adulterar a cena do crime, pois bem sabe que investigadores da polícia especializada dispõem de conhecimento e equipamentos, que conseguem evidenciar quase tudo que aconteceu no momento do crime.
A primeira ação efetiva foi ligar para sua irmã Maria, solicitando que viesse buscar seus dois outros filhos, e assim poupá-los de tudo que estava por vir, inventou uma desculpa esfarrapada para a irmã, mas pediu urgência.
Sugeriu a Roberto que permanece no quarto, enquanto arrumava seus irmãos, antes de despachá-los para a casa da tia para o final de semana.
Interessante como o relógio pode funcionar de maneira diferente entre cômodos da mesma residência. Para Roberto aquele pesadelo parecia pesar sobre os ponteiros do relógio, quase os impedindo de funcionar normal. Para Maria, agitada como nunca, minutos voavam, enquanto ajudava Ronaldo e Rogério a trocar de roupa e juntar seu material escolar.
Logo, os três desciam as escadas, cruzavam a lateral do prédio para em seguida, transpor a diminuta ponte e alcançar à calçada, onde Maria os aguardava.
Marli nem deu tempo para que Maria formulasse perguntas, alegando que os meninos estavam atrasados para a primeira aula, depois conversariam com mais tempo.
Eliminado esse problema, voltou em passos lentos para o apartamento, subiu as escadas no automático, pensando que ainda precisaria dar solução para tanta coisa!
Agora sim, não dava mais para adiar a sequência natural das coisas, pegou o telefone e acionou a polícia.
Em pouco mais de meia hora, o interfone tocou, do outro lado da linha o Delegado Praxedes, da 13ª delegacia, acompanhado de dois auxiliares, que chegavam ao local do crime.
O clima no apartamento era de calma, e tão logo tomaram contato com a cena do crime, acionaram o Instituto Médico Legal – IML para a remoção do corpo, um serviço normalmente demorado, função da reduzida frota disponível na instituição, que atende a esse tipo de evento em todo território carioca.
Enquanto Marli e Praxedes conversavam sobre o acontecido na madrugada, buscando o melhor para a família, ela tomou conhecimento do protocolo para crimes dessa natureza, inclusive dos aspectos, que poderiam atenuar a pena para um menor, que provavelmente agiu em defesa da própria mãe, que na sua cabeça corria sério risco de vida.
Tudo isso, se poderia posteriormente comprovado, tanto pelo número de acionamentos da polícia por vizinhos, como por futuros depoimentos desses mesmos vizinhos.
De momento, Roberto seria encaminhado para uma casa de detenção de menores, por onde passaria por um batalhão de exames, e a princípio aguardaria julgamento em regime fechado.