A vítima da Rua das Flores (Detetive Beth e PM Roger)
Chovia bastante, noite de outono, mês de junho, era comum chover assim aqui em João Pessoa nessa época do ano. Fátima estava no quarto, toda enrolada num cobertor com a TV ligada. Já passava das 22 horas, ela estava sem um pouquinho de vontade de ir para o térreo cessar os barulhos insistentes da janela, devido à chuva, vindos da cozinha. Cochilou por alguns instantes. Acordou com o som da campainha. Estranhou o horário, já era tarde para ir à casa de alguém. Mesmo assim, criou coragem e foi ver quem era àquela hora. Antes disso foi até a cômoda e pegou sua belezinha.
Desceu as escadas devagar, meio sonolenta. Olhou a imagem pelo interfone e viu uma silhueta conhecida. “Mas porque vir aqui a esta hora, o combinado não é para hoje.” pensou. Bem, já que estava aqui, decidiu abrir a porta e saber o que houve, pois, haviam combinado de se encontrarem na próxima semana. Hesitou em abrir toda a porta, deixou entreaberta e falou:
- Oi, você aqui a esta hora, algum problema? – perguntou surpresa.
A pessoa apenas balançou a cabeça, em afirmativo. E ela decidiu deixá-lo entrar.
[...]
A diarista, como sempre estava atrasada, pois já passava das sete horas, desceu do ônibus correndo em direção a casa da Dona Fátima na Rua das Flores. Chegando lá, passou tranquilamente pelo portão que sempre ficava encostado, estranhou o fato da porta está destrancada. Olhou em volta e tudo no lugar. Entrou chamando por ela:
- D. Fátima, cheguei! Desculpe o atraso. – Repetiu três vezes e nada da resposta.
Ao passar pela segunda sala, próximo a escada, algo chamou sua atenção. Aproximou-se para ver melhor e deparou-se com o inevitável: o corpo da D. Fátima jazia estirada ao pé da escada, com um pequeno corte na cabeça, banhada em sangue. Em seu desespero, correu para a rua e começou a gritar, pedindo socorro. A vizinhança apareceu rapidamente e ficaram todos estarrecidos com o acontecido.
- Logo a D. Fátima? Tadinha – Uns falavam.
- Mas, ela tinha inimigos? – Queriam saber.
*****
Beth acordou com o toque insistente do celular. Resolveu atender já sabendo que deveria ser alguma ocorrência.
- Alô, Elisabeth Félix falando! – Atendeu sonolenta.
- Detetive Beth, precisamos de você. Uma mulher foi assassinada no bairro do Altiplano. Você precisa ir para lá, agora. – Determinou o delegado Pedro.
Imediatamente arrumou-se e sem ao menos tomar café dirigiu-se para a ocorrência. Conferiu o endereço e em menos de 15 minutos já estava em frente a cena do crime.
Pela posição em que o corpo se encontra, ela percebeu na hora que a vítima não esboçou nenhuma reação. Pelo jeito, foi pega de surpresa. Observou que a pessoa pelo qual fez isso com ela entrou pela porta da frente, espontaneamente.
Mais adiante viu o policial Roger que estava com uma prancheta nas mãos. Resolveu chamá-lo para obter informações sobre a vítima:
- Oi, o que descobriu?
- O nome dela é Fátima Cristina de Lopes, 55 anos, solteira, sem filhos; professora aposentada; sem parentes próximos. Todos, com exceção de uma prima, moram no interior, município de Cajazeiras. – Explanou o policial de forma pausada.
- Mais alguma coisa? – Quis saber detalhes.
- Sim, nada foi levado, o que descartamos latrocínio. Pela arrumação da casa, não houve luta corporal. Talvez ela conhecesse quem a matou. - Por fim, falou o PM Roger.
- Obrigada Roger pelas informações iniciais. O resto é comigo. Porém, não esqueça que precisarei da sua ajuda, como sempre, né amigão. – Piscou o olho ao terminar.
O policial apenas fez um aceno de cabeça e retirou-se para a entrada da residência. As informações repassadas para Beth já não eram novidade. Foi exatamente o que percebeu ao entrar na residência. Agora somente uma perícia minuciosa esclareceria mais detalhes sobre o crime. Percebeu que a fotógrafa criminalista e o perito criminal ainda não haviam chegado ao local do crime. Restava-lhe apenas aguardá-los. Falou com alguns policiais que impedissem a entrada de pessoas não autorizadas para não causar danos ao local onde a vítima se encontrava.
Um mistério envolvia este assassinato. Quem teria tirado a vida da Fátima? Pensou a policial sem tirar os olhos dela, estirada de bruços em meio a uma poça de sangue e um pequeno corte revelando-lhe um tiro na cabeça, aparentemente não teve tempo para se defender. Quem fez aquilo sabia exatamente com qual propósito foi até ali. Ouviu vozes e percebeu que os peritos haviam chegado. Foi ao encontro deles.
- Olá pessoal, até que enfim chegaram. Irei acompanhar a perícia. Espero que minhas suspeitas sejam confirmadas. – Falou com determinação.
- Já imaginávamos que a encontraríamos aqui. – Respondeu o perito Walter.
- Verdade! – Afirmou Ângela, a fotografa forense da cidade.
E seguiram em direção ao corpo estendido no chão da sala de jantar.
Enquanto isso, do lado de fora da casa havia um grupo de curiosos, pessoas da vizinhança ou que simplesmente alguém que passava e parou para dar uma espiadinha. Ali entre o amontoado de pessoas um homem alto, de boné preto e camisa azul concentrava-se em observar detalhadamente a movimentação na casa. Ficou por alguns minutos e saiu de fininho sem chamar a atenção. Ele estava tranquilo quanto ao acontecimento. Não existiam evidências suficientes para incriminar alguém. O serviço foi bem-feito.
- E aí? – Quis saber os resultados.
- A vítima foi morta por volta das 23 horas, sem agressões graves pelo corpo. Com certeza foi empurrada antes de ser morta. Provavelmente, tentou resistir, sem sucesso. – Continuou. – A pessoa que cometeu o crime foi cuidadosa, estava de luvas e camisa de mangas compridas. Veio preparado, sabe. – Concluiu despedindo-se da cena do crime.
Após o períciamento do corpo, a detetive Beth decidiu ir para casa, pois havia ficado o dia inteiro no caso “Fátima”. Um caso aparentemente sem pistas concretas. Pelo jeito levará algum tempo para ser solucionado. Com a mente cansada de tanto pensar sobre este assassinato, resolveu deitar-se um pouco. Logo após cochilar acordou assustada com um barulho de um trovão seguido por um relâmpago. Estranhou, era noite. Levantou-se da cama tentando entender onde estava e viu que próximo a janela do quarto havia alguém no escuro. Mais um relâmpago, o clarão a fez ver que era uma mulher magra de cabelos curtos, e estatura mediana. Também pode ver que o quarto não era o seu. Olhou em volta e não reconheceu onde estava. A chuva começou e mais relâmpagos riscaram o céu. A mulher apontou o seu dedo para a escrivaninha insistentemente, como se quisesse lhe dizer algo. Beth tentou entender o que ela queria dizer. Aproximou-se um pouco e um trovão estarrecedor ecoou no céu.
Ofegante, a policial acordou assustada, o coração acelerado ao lembrar-se do pesadelo que acabou de ter.
- Minha nossa! Aquela mulher não é estranha e aquele quarto de onde seria? – Falou consigo mesma na esperança de uma lembrança. Levantou-se da cama e resolveu arrumar o apartamento, pois, ainda era dia e não estava chovendo como no sonho.
No dia seguinte foi ao DP (Departamento Policial), cumpri seu horário normal e aproveitou para fuçar mais a respeito do caso “Fátima”. Lembrou-se do relato dos peritos que explicaram sobre o assassino não ter deixado digitais e que fora cuidadoso. A vítima também não foi estrupada e nada aparentemente havia sumido da residência, segundo alguns familiares. A detetive Beth precisava solucionar este caso de feminicídio. Pegou o fichário e passou a ler o relatório novamente em busca de alguma pista. Viu as fotos da vítima antes e depois de morta. E foi aí que se lembrou do sonho que tivera. Era ela, a Fátima, a mulher do sonho. Entendeu que ela tentou se comunicar. Isso era loucura. Precisava averiguar mais.
- Roger!!! – Ligou para a policial e falou apressadamente.
- Oi detetive, estamos aqui averiguando uma denúncia no bairro de Mangabeira. Algum problema? – Exclamou eufórico.
- Venha comigo até a cena do crime da Rua das Flores. Preciso coletar mais informações.
- O lugar já foi todo vasculhado. Creio que não encontrará nada satisfatório lá. – Argumentou em vão, ele já sabia da teimosia da policial e preferiu obedecê-la. – Daqui a 20 minutos estarei aí.
Em meia hora estavam em frente à residência do feminicídio. Havia lacres e faixas proibindo a entrada de curiosos por toda frente da casa. Passaram com facilidade. Quando entraram, o ambiente estava do jeito que deixaram da última vez. Seguiram em direção a cena em que o crime ocorreu, a sala de jantar. Beth olhou mais uma vez para onde o corpo estivera, e recapitulou por um momento:
- Bem, segundo a perícia, não houve luta corporal, apenas que foi empurrada e nem houve arrombamento no local . Ela deixou o assassino entrar, pois as digitais dela estavam na fechadura. O tiro foi na nuca. – Falou como se pensasse alto.
- As câmeras de segurança da esquina registraram apenas a silhueta de um homem de preto com boné também preto, alto, magro passando em direção a casa dela. Meia hora depois voltou apressado. – Concluiu Roger.
Olhou para as escadas e decidiu ir lá em cima. O quarto da vítima era o da esquerda. Ela entrou e ao acender a luz percebeu que o quarto lhe era familiar. Teve um susto e constatou ser o mesmo dormitório do sonho: o quarto da D. Fátima.
A escrivaninha, no sonho a vítima apontava para lá. Precisava olhar a escrivaninha. Seguiu em direção ao móvel, abriu a primeira gaveta, e nada.
- O que está procurando Beth? – Tudo isso aqui já foi inspecionado. Nada comprometedor foi encontrado.
- Sonhei com o espírito dela na noite passada e eu estava exatamente aqui neste quarto, enquanto ela, a vítima, apontava para esta escrivaninha tentando informar algo. – Respirou fundo, o encarou – Parece loucura, mas foi bem real. Você precisa acreditar em mim. Eu sinto que a resposta para esse crime está bem aqui neste quarto.
Continuou a vascular, desceu para a segunda gaveta e achou um caderninho de anotações escondido bem no fundo dela. Folheou cautelosamente em busca de alguma informação. Notou que da quinta página pulava para a sétima. Uma página havia sido arrancada.
- Será que era isto que o fantasma queria que eu achasse? – Pensou alto e o policial apenas olhou de soslaio. – Vamos, já basta! Demoramos mais que o necessário.
Seguiram para a delegacia, tranquilamente. Na hora do almoço, Beth resolveu ir em casa. Lembrou-se que a sua sobrinha sempre que ia visitá-la deixava algumas coisas, incluindo canetas fluorescentes que brilham no escuro. Talvez pudesse ajudar a revelar o que havia sido escrito naquela folha.
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- O quê? Por qual motivo ela iria àquele lugar novamente e não avisar nada? Vindo de Elisabeth tudo pode ser possível. – Falou aborrecido o delegado Pedro. Pensou em ligar para ela e averiguar essa história, porém, estava atarefado e deixou para depois.
Ao chegar em casa, Beth decidiu tomar uma xícara de descafeinado e procurar entre as coisas da sua sobrinha a bendita caneta milagrosa - Apesar de na delegacia possuir quimioluminescentes, preferiu não divulgar o achado por enquanto - Encontrando-a seguiu para seu quarto, pegou a cadernetinha e na página número sete, rabiscou a caneta fluorescente cor de rosa cintilante. Em seguida apagou a luz do quarto, dito e feito. Algumas palavras apareceram. Estava escrito “Próxima semana – combinado - JH – 20h30m (jantar) pizzaria D.”
A partir de agora restava-lhe tentar decifrar o que estava escrito. Uma coisa ela não entendeu: Será que esta informação tem a ver com o caso? JH é uma pessoa? Ligou para o DPI (Departamento Policial de Inteligência) imediatamente pediu para descobrir onde fica a pizzaria D., depois o resto seria com ela.
As informações ainda eram escassas, o nome abreviado não revelava absolutamente nada. Isso leva a crer que a vítima conhecia mesmo o assassino. O toque insistente do celular a assustou um pouco.
- Alô!
- Mocinha, posso saber o que a senhorita foi fazer na cena do crime na Rua das Flores hoje pela manhã? – A pergunta foi direta. Era o delegado furioso.
- Fui averiguar algo que achei ter deixado passar. – Mentiu, pois, sabia como o delegado é autoritário e só iria atrapalhar.
- E achou? – Parecia estar chateado. – Espero que não esteja aprontando nada. Este caso é meio complicado. Você sabe que não há pistas concretas a serem seguidas.
- Pensei ter deixado de analisar detalhadamente a cena do crime, contudo, estava enganada. Dei viajem perdida delegado. – Por fim continuou a mentir. Se ele soubesse que a informação veio de uma aparição em sonho, jamais acreditaria nela.
- Pois bem, cuide-se, e não se meta em encrenca. Qualquer informação, não deixe de informar. Sim, já ía esquecendo, depois de manhã teremos uma coletiva de imprensa. Não se atrase!
Assim que desligou decidiu que este caso não iria ficar sem solução. Faria o possível para descobrir quem é JH.
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Tudo pronto para a coletiva de imprensa sobre o caso d “Rua das Flores” como estava sendo chamado. Vários repórteres de cinco emissoras de TV e Canais de transmissão estavam a postos em busca de informações sobre o caso. O Delegado tomou a frente e apresentou a detetive Elisabeth como responsável pelas investigações:
- Iremos em busca de uma solução para este caso. Não sossegaremos enquanto não encontrarmos o responsável por este feminicídio. – A detetive falou com autoridade. - Temos poucas pistas que seguem em segredo para não prejudicar as investigações. – Saiu sem responder mais nenhuma pergunta à imprensa.
Nos dias que se seguiram, Beth com a ajuda do PM Roger entraram em contato com os familiares e os poucos amigos que a Fátima tinha. Ninguém conhecia alguém com aquelas iniciais e descobriram que ela era muito querida por todos. Também não tinha inimigos. As pesquisas pela pizzaria também não foram bem-sucedidas. O desânimo queria tomar conta de ambos, todos os esforços para desvendar o crime pareciam ser em vão. Entretanto, Beth estava determinada a não desistir tão fácil.
No dia seguinte, na delegacia, uma jovem pediu para falar com a detetive em particular. O ânimo da Beth não estava dos bons, mesmo assim, decidiu atendê-la. Aproximando-se da moça, reconheceu-a como sendo a prima da vítima.
- Olá, desculpe atrapalhar, sou Alice, preciso falar urgentemente com a senhora. – Ela estava meio aflita e desconfiada. – Após a liberação na casa da minha prima, nós, eu e minha mãe, fizemos uma faxina e uma arrumação numa sala onde ela chamava de biblioteca, era lá que Fátima também guardava documentos importantes. Encontrei algo entre estes documentos que creio ser útilpara vocês.
Imediatamente, Beth puxou-a para a sala ao lado para não serem ouvidas.
- Aqui não seremos ouvidas. O que você encontrou?
Alice entregou um papel para que Beth olhasse com mais detalhe. Assim que leu, argumentou espantada:
- Isto aqui é um Certificado de Registro de Arma de Fogo – CRAF, minha nossa!! Isso significa que se ela tem uma arma registrada, obviamente também tem porte de arma. – Ficou pensativa. – Temos que averiguar. Este documento ficará comigo.
- A casa foi toda vasculhada, fizemos a mudança ontem e nenhuma arma foi encontrada lá.
- Quem mais sabe dessa descoberta? – Perguntou.
- Apenas eu e minha mãe. Na verdade, foi ela quem achou. Queremos muito que o assassino da minha prima seja preso.
- Ótimo! Não revelem para mais ninguém, quanto menos gente souber, melhor para o andamento das investigações. E se aparecer mais alguma coisa, é só avisar. – Agradeceu por fim. Entrou imediatamente em contato com a PF para confirmar se o documento era verdadeiro. Após a confirmação, seguiu para a sala do delegado.
- A vítima do caso da Rua das Flores tinha porte de arma, um revólver calibre 38. – Relatou e mostrou o documento.
- O mesmo calibre da arma que a matou. Interessante! – Falou pensativo.
- Exatamente! O assassino usou a arma da vítima, não deixou vestígios. Fez tudo sem deixar nenhum rastro. Ridículo isso! Sem pistas, sem acusado. – Beth estava indignada.
- Pois é! – Delegado vociferou bufando de raiva. – E você mocinha fique sabendo que sem ter em quem acusar, enceraremos o caso da Rua das Flores antes do prazo. E nada de falar para os repórteres sobre este novo fato.
Saiu da sala deixando-a sozinha em meio ao turbilhão de pensamentos. No fundo a detetive sabia que o delegado tinha razão. A arma do crime sumiu, só pode estar com o suspeito.
*****
A gravação da coletiva de imprensa estava prevista para passar no noticiário das 20 horas. A movimentação na delegacia da Polícia Civil estava tranquila. Ela cobriria o turno até meia noite. A equipe do turno da noite era mais tranquila. Em frente ao computador, analisando algumas perícias que haviam chegado, meio sonolenta resolveu assistir ao noticiário e lembrou-se que ela iria ser o assunto da noite.
“Hoje tivemos a presença da Policial civil Elisabeth Silva e do delegado Pedro Gonçalves na coletiva de imprensa a respeito do caso “Rua das Flores”. As informações foram repassadas de forma simples e direta. Os detalhes correm em segredo para não prejudicar nas investigações”
A imagem dela foi projetada assim que a repórter fez o pronunciamento. Algumas imagens da cena do crime – a casa por fora, a rua cheia de curiosos e até uma imagem da câmera de segurança foi projetada mostrando a silhueta do possível assassino – tudo para completar a reportagem.
Enquanto assistia a reportagem, um homem no meio dos curiosos que estava na cena do crime, do outro lado da rua, chamou a atenção da policial. Saiu imediatamente da pasta dos arquivos perícias e entrou no youtube. Procurou o Telejornal pelo qual a reportagem foi apresentada e buscou por ela. Encontrando-a, tirou um print da imagem da reportagem. Assistiu mais uma vez a imagem da rua das Flores cheia de curiosos. E observou aquele indivíduo alto, magro, boné e blusão azul. Olhava muito sério para a cena do crime. Assim que a emissora passou a filmar em sua direção, ele saiu de cabeça baixa sentido contrário ao ocorrido. Talvez estivesse equivocada, mas aquele rapaz prendeu sua atenção. Seu porte físico lembrava a silhueta apresentada na câmera de segurança da rua. Seguiu rapidamente para o setor de informática para uma perícia detalhada.
- Sinto muito detetive, mas ao ampliarmos a imagem ela sai distorcida. É praticamente impossível fazermos um retrato falado do sujeito com rosto disforme. – Falou o rapaz do setor de inteligência da polícia.
Ela e Roger saíram de lá desesperançosos e ao mesmo tempo raivosos por não conseguirem avançar nas investigações. Beth por fim disse:
- O delegado adiantou que irá arquivar o caso.
- Mesmo depois de saber que a vítima tem porte de arma? – Perguntou frustrado.
- Do que adianta estender o caso se não temos a arma e nem suspeito? – Respondeu tristonha.
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Do outro lado da cidade, no bairro de Mandacaru, alguém também assistia ao noticiário despreocupadamente sentado no sofá da pequena sala de um conjugado.
- Ahahahahahahahah – Ria em voz alta – Não deixei rastros, só quero ver como me encontrarão. Dizem que ela é boa em descobrir casos. – Refletiu – Falou com muita convicção. - Deverei dar um jeito nela? Ou não? – Ahahahahahaha. – Continuou a tomar sua cerveja e recordou o dia em que antecipou a partida daquela coroa charmosa que queria prejudicá-lo, mas ele foi mais rápido. E se essa policial chegar muito perto, deverei realmente dar um jeito nela.
Apesar de ainda estar cedo, José Henrique precisava ir dormir. Iria pegar no primeiro horário na pizzaria. Durante a manhã serviam almoço. Estava de saco cheio do dono, mas por enquanto não tinha outro emprego. Dessa vez ele não precisava sair foragido. Sem provas, sem suspeito.
Beth saiu da delegacia, já passava da meia noite. Precisava chegar rápido em casa, sua ansiedade estava lhe matando. Um banho quentinho ajudaria a relaxar e a dormir melhor, pois ultimamente a lentidão do caso “Fátima” tem tirado um pouco do seu sono.
Algumas horas depois, já tomada banho, resolveu ligar para Roger e contar a descoberta. Ficaram de se encontrarem logo cedo no DP – departamento Policial- para comparar as imagens coletadas. Apagou as luzes, apenas o abajur ficou aceso. O sono chegou assim que se deitou.
Abriu os olhos, a casa escura dificultou a visibilidade. Mas, ela pode notar que não estava em sua casa. Relâmpagos anunciavam chuva. Alguém chamou seu nome “Beth”, no final do corredor escuro ela a viu em pé, o semblante triste e ao mesmo tempo zangada da Fátima. A chuva iniciou-se seguida de trovões e relâmpagos. Tentou segui-la, mas ela havia sumido. Foi mais adiante, coração acelerado, porque Beth sabia que Fátima estava morta. O vulto apareceu ao seu lado. Gritou de susto, mesmo assim foi atras dela. Estava na cena do crime. Entrou na sala onde viu o corpo da Fátima estirado no chão e um homem em pé, acabara de atirar. Arma em punho, tiro certeiro. Assustada, Beth não tirou os olhos daquela cena. Ele a viu. Estava escuro, apenas a silhueta era nítida. Relampejou. Ele a encarou, apontou a arma para ela, o espírito dela estava ao lado quando ele atirou. “NÃOOOOOO!!!”
- NÃOOOOOO!! – Beth acordou ofegante, desesperada aos gritos. Olhou ao redor e reconheceu seu próprio quarto. Olhou a hora e eram 04h30min. da madrugada. - Outro sonho com a vítima, dessa vez ele, o assassino, também estava. Droga, não consegui ver o rosto, lembro apenas os olhos castanhos. – Pensou por um momento em qual mensagem ela quis passar dessa vez.
No dia seguinte, na delegacia de Crime contra pessoa:
- Como assim você teve outro sonho? – Roger exaltou-se surpreso. – Você anda pensando muito nesse caso. Dizem que nossa mente reflete em sonhos o que pensamos durante o dia.
- Eu o vi tão de perto que lembro dos seus olhos. Acho que é uma revelação da cena do crime. – Argumentou enquanto olhava novamente para o arquivo do crime. – E um detalhe, o corpo fantasmagórico dela estava ao meu lado enquanto tudo acontecia e foi aí que ele virou, olhou e viu a imagem fantasmagórica dela, em segundos olhou para mim também. Um relâmpago refletiu do céu e pude vê-lo encarando em minha direção. – Uma sensação de medo tomou conta da policial.
- Beth, você contando assim, dá arrepios. E nem invente de irmos na cena do crime de novo. Nem detetive eu sou. O delegado olhou-me por duas vezes com uma cara de poucos amigos. – Questionou. – Meu trabalho é nas ruas prendendo pessoas, entendeu?
Os dias que se passaram foram no ritmo normal. Casos e mais casos apareceram, e nada de novo no caso da Rua das Flores.
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Três meses após o ocorrido, Beth e Roger seguiram a rotina normal, ela investigando outros crimes; ele resolvendo os problemas na rotina da cidade. Eram amigos desde sempre. Apesar das funções diferentes, Roger dava um de detetive nas horas vagas, sempre que a amiga precisava.
O delegado Pedro, decidiu por falta de pistas concretas, definitivamente, arquivar o caso contra a vontade dos dois. Porém, Beth ainda não havia desistido totalmente. A Inconformidade que existia dentro dela era mais forte.
Noite de sábado, decidiram sair para comer. Estavam exaustos e optaram por uma pizzaria que ficava na orla de Cabo Branco. Beth, Roger e os peritos Walter e Ângela pediram a mesa de canto, próximo a janela, assim poderiam ver o mar todo iluminado.
- Que maravilha esta pizzaria. O menu é variado. – Walter tranquilo e admirado pelo lugar.
- Foi ideia do Roger. Também não conhecia aqui. – Beth falou enquanto observava o espaço agradável e aconchegante. Pegou o cardápio e em comum acordo decidiram por um rodízio de pizzas.
Em meio as conversas e bebidas, Beth resolveu ir ao banheiro. Ao levantar-se da mesa, ela esbarrou em um garçom muito alto. Imediatamente, ao virar-se para pedir desculpas, olhou os olhos castanhos do homem e teve a impressão de já tê-los vistos. Olhou para o crachá estava escrito “José Henrique”. Um arrepio percorreu a espinha ao lembrar-se com quem aqueles olhos pareciam. Encararam-se por alguns segundos. Ele afastou-se, continuou servindo aos clientes, no mesmo momento, ela seguiu seu caminho ao WC feminino intrigada com o rapaz.
Ao sair do banheiro feminino, sua blusa ficou enganchada na fechadura da porta. Tentou se desvencilhar em vão, quando alguém aproximou-se, numa única tentativa puxou a blusa deixando-a livre. Beth olhou para cima e os mesmo olhos castanhos a encaravam curiosos. Empurrou-o num impulso:
-Obrigada! Parece que resolvemos nos esbarrar hoje né? – Agradeceu desconfiada.
- Por nada! Estou aqui para servir. – Respondeu educadamente.
- JH, deixe de enrolação e venha servir as mesas. – Chamou o gerente irritado.
Beth congelou ao ouvir o nome do rapaz. Seria coincidência? Pensou. O nome no crachá abreviado fica JH. Ele é alto, magro, pele clara e ainda estava sem boné. Olhou bem profundo para mim. Aflita perdeu-se em pensamentos. Aproximou-se rapidamente da mesa.
- Amiga, o que aconteceu? - Ângela quis saber em meio ao olhar de espanto da amiga.
- Nada demais. – Respondeu fingindo calma. Dentro dela estava borbulhando de aflição. Ela não tirava os olhos do suspeito. Roger percebeu e desconfiou que algo não estava certo ali. Cruzaram olhares e o sinal foi transmitido. Ela pegou um guardanapo e escreveu: “É ele, o cara da imagem.” Entregou a Roger. O amigo não entendeu foi nada.
Passava da meia noite quando resolveram ir embora. Na portaria do estabelecimento, um funcionário entregava uns cartões de visita para os clientes. Ao pegar um, Beth pode ler o nome da pizzaria “D+ DA CONTA”, sua mente deu um estralo, ao mesmo tempo lembrou-se do caderninho da Fátima. Olhou para Roger e piscou o olho para ele. Após os peritos criminais irem embora, os dois ainda ficaram em frente ao estabelecimento comercial.
- Roger, venha comigo até meu carro. – Saiu puxando-o feito uma louca. Ao entrarem no automóvel, ela não deu pausa na fala. – É ele o rapaz da caderneta. A pizzaria “D” é esta aqui.
- Espere aí, do que você está falando?
- Estou dizendo que o nome do garçom é José Henrique, vulgo JH e a pizzaria “D” é esta aqui. São aos nomes que estavam escritos na cadernetinha da Fátima. – Disse cheia de convicções.
- Você não tem certeza. E se for uma coincidência? Poderemos estar condenando um inocente. – Roger foi cético.
- Os olhos dele são idênticos aos olhos do homem do último sonho que tive, castanhos penetrantes. O porte físico é igual. E ele já deve saber que eu sei, pois ele aproximou-se de mim quando fui ao banheiro, encarando-me profundamente. Só saiu de perto porque chamaram-no.
- Elisabeth, veja bem, não temos provas. Nada foi encontrado na cena do crime que possa incriminá-lo. Não podemos ir a diante baseados em um sonho que você teve. – Olhou-a sério e continuou. – Nós temos experiências suficientes para sabermos que sem álibi não tem acusação.
- Você está certo, vamos, então, encontrar provas que possa incriminá-lo. Ficaremos aqui de prontidão à espera do suspeito. – Em tom jovial concluiu. – E mocinho, lembre-se que a arma do crime ainda não foi encontrada.
- Não, não, não!! Você só pode estar de brincadeira, né?
- Não estou não. Temos que descobrir onde ele mora.
Ficaram cerca de 40 minutos a espera dele dentro do carro dela. Já estavam impacientes, quando o sujeito saiu em direção ao estacionamento. Subiu na moto e saiu devagar. O carro de Beth estava estacionado do outro lado da rua. Passou a segui-lo na esperança de não o perder de vista. A perseguição foi um pouco agitada, moto é sempre mais rápida que um Onix Plus, mas ela fez o possível para não desgrudar dele. Roger estava quase morrendo de susto. Agarrou-se ao sinto sem tirar os olhos da amiga.
- Calma aí, Beth, você quer nos matar? Vai devagar. – Aos gritos, implorando. – Você é péssima ao volante. Aff!!
- (risos) Deixa de ser molenga, seu ridículo! – Continuou a perseguição.
A moto desacelerou. Parou em frente a uma vila de cinco casinhas. O rapaz abriu o portão da primeira casa, empurrou a moto e entrou. Beth imediatamente tirou várias fotos do local, do rapaz e da moto para saber a procedência.
- Já que sabemos onde ele mora, depois faremos uma visitinha improvisada.
- Ai meu Deus, espero que encontremos alguma coisa. – Roger não gostava nadinha dessas ousadias da amiga.
****
- Droga, será que ela percebeu alguma coisa? Olhou tão profundo em meus olhos que fiquei encantado, ela é bonita demais. Como pode isso? É praticamente impossível ela saber que fui eu quem atirou naquela mulher. Eu tive um motivo para isso. – Foi para o quarto. – O casal de policiais ficou muito tempo lá fora conversando, mesmo depois do outro casal ter ido embora. Espero encontrá-la novamente. - Foi para o chuveiro tomar banho. Os questionamentos não paravam na mente de José. Estava confiante que não seria descoberto, pois, segundo ele, não deixou pistas. Fora cuidadoso. Foi até um caixote embaixo da cama e colocou-o em cima da cama. Abriu-o. Retirou de la uma arma, apenas uma bala havia sido usada. E com sorte não precisaria usar as outras, por enquanto. Recolocou a arma no caixote e guardou no mesmo lugar.
Beth entrou em casa satisfeita, descobriu onde o suspeito mora. Agora só lhe restava a ousadia para infiltrar-se lá na casa dele para achar alguma prova que pudesse incriminá-lo. Teria que pensar com calma e sabedoria, já que o caso está arquivado. Tomou um banho e foi para a cama. Pegou seu livro de sempre e não demorou muito para que estivesse em sono profundo.
Beth abriu os olhos, estava num corredor escuro, próximo a cena do crime. Trovões e relâmpagos agitavam a noite. Gritos! Um barulho, um disparo e uma queda. Acordou assustada em sua cama. Havia sonhado com a cena do crime outra vez. Estava ofegante. Escutou um barulho, levantou-se, foi em direção a porta do seu quarto. Pegou na maçaneta e abriu-a, foi para o corredor. O que viu a deixou paralisada, Fátima estava lá no corredor. Beth tentou correr, mas suas pernas não obedeciam. O fantasma aproximava-se lentamente, com lágrimas a escorrer pelo rosto. Estirou os braços e gritou tão alto, um grito de dor. “Nãããããooooooo! “A detetive ajoelhou-se tapando os ouvidos.
- Deixe-me em paz!! – Beth acordou fora de si. Suada e trêmula viu-se em sua cama. Correu, abriu a porta, olhou o corredor e nada. Dessa vez estava mesmo acordada. Foi naquele momento que teve a necessidade de solucionar o crime de vez.
No dia seguinte, na delegacia:
- Vamos hoje na casa do suspeito. – Falou para Roger ao telefone. – Fez o que pedi?
- Fiz! Você endoidou de vez. Ao investigá-lo, vi que o rapaz é limpo. A moto não é dele, pertence a pizzaria. – Repondeu aflito. – Olha Elisabeth, somos amigos a bastante tempo. Amo-a como uma irmã e tenho que ser sincero, cuidado com essa ideia. O caso já foi encerrado e você poderá perder seu distintivo e eu ser exonerado da PM. – Beth parecia que não o ouvia.
- Roger, eu tenho certeza de que é ele sim. O homem que aparece nas imagens da rua e da reportagem tem o porte físico dele. Até o andar é parecido. Só não sei qual era a relação dele com a vítima. E além do mais, a alma dela quer que o prenda. – Exclamou eufórica. – A vítima está agonizando. Está atormentando-me em busca de respostas.
- Não me diga que teve outro pesadelo. Não aguento mais os seus sonhos.
- Sim! E dessa vez ela estava em minha casa, no corredor especificamente, aos prantos. E źela realmente me assustou. – Olhou para a cara de espanto dele. – É por isso amiguinho que preciso solucionar este caso, ou não me chamo Elizabeth Felix.
- O delegado jamais irá reabrir o caso baseado em seus pesadelos.
Ela sabia que Roger estava certo. Precisava encontrar algo urgente. Sem mais perda de tempo, combinaram de se encontrar próximo a pizzaria onde o suspeito trabalha. Roger aproveitou a hora do almoço e foi almoçar lá, pois também serviam almoço. Assim, ele poderia vigiá-lo enquanto comia. Beth foi até a residência do indivíduo. Ficou um tempinho dentro do carro e no momento oportuno, foi em direção a casa. Observou que o pequeno portão estava sem cadeado. Entrou. Como é um conjugado de casinhas, precisava ser rápida. Pegou um clipe no bolso forçou a fechadura. Destrancou a porta. Entrou com cuidado. Olhou ao redor, era uma casa pequena: um quarto, uma sala, um banheiro e uma minúscula cozinha. Não tinha área de serviço.
Mexeu em algumas gavetas na estante da sala, encontrou apenas alguns boletos pagos, uma cadernetinha com alguns telefones. Olhou embaixo do sofá, da mesinha de centro. Sem sucesso, seguiu para o quarto do indivíduo. Havia um guarda-roupa pequeno, uma bicama de solteiro.
-AFF! Aqui está uma bagunça. Como é que alguém consegue viver assim. – Abriu o roupeiro e remexeu para ver se encontrava o que queria. De repente deixou cair alguma coisa. Viu que era um caderno, folheou-o e achou uma foto dele com a vítima e uns cinco jovens, todos fardados. A fotografia datava do ano passado.
- Interessante, então JH foi aluno da Fátima. Agora entendi a ligação. – Continuou sua busca. Olhou embaixo da cama, retirou de lá um caixote de madeira. Quando levantou a tampa, achou o que ela tanto procurava, o revólver calibre 38. De repente, ouviu o portão. Alguém chegou, colocou a caixinha no lugar e correu para o roupeiro. Escondeu-se lá dentro.
Minutos antes...
Roger sentou-se num lugar estratégico dentro da pizzaria e restaurante, onde poderia observar toda movimentação do lugar. Inclusive os passos de JH. Tudo tranquilo, pediu a refeição, algo para beber. Vinte minutos havia se passado desde que a detetive foi até a casa do acusado. Após a refeição, olhou pela janela e viu JH em cima da moto com a caixa de entrega nas costas. Ficou de pé e chamou o gerente.
- Aquele é o seu garçom? – Perguntou.
- É sim. Ele também faz entrega. Inclusive ficou de passar em casa antes.
O policial ligou para Beth insistentemente, e nada dela atender. Estava em horário de almoço, e esse tempo acabaria em alguns instantes. Precisaria agir antes que uma tragédia ocorresse. Pegou a viatura e saiu em direção a casa do acusado.
Beth colocou as mãos na calça cargo e não sentiu o celular. Droga, havia deixado dentro do carro, pensou. Também não trouxe sua arma. Sabia apenas um pouco de defesa pessoal, se fosse o caso de se defender. Olhou pela brecha da porta e a pessoa ainda não estava dentro do quarto. Quem seria, afinal? Ele está em horário de trabalho, ou não? Vários questionamentos passaram por sua mente naquele momento.
José pegou a moto e seguiu para sua casa em Mandacaru. Esqueceu sua habilitação e precisava pegá-la. Estacionou a moto e ao entrar, notou o portão aberto. Seguiu e ao colocar a chave, viu que a porta abriu fácil. Entrou, fez uma vistoria, estava tudo igual em seus lugares. Mas, uma coisa chamou sua atenção, a porta do quarto estava aberta. Ele havia trancado antes de sair para o trabalho. Foi em direção ao quarto, olhou e viu a ponta da caixinha embaixo da cama. Correu e puxou-a, ao abri-la viu que o revólver ainda estava lá.
A detetive viu toda a movimentação dele dentro do quarto. Deveria ter pegou a arma, mas não imaginava que ele viesse aquele horário em casa, lamentou-se em seus pensamentos. O rapaz em pé olhava para o revólver. Sem querer ela engalhou seu dedo em algo dentro do guarda-roupa que fez a porta abrir-se um pouquinho. JH correu e escancarou-a. Apontou a arma para a policial.
- Olha só quem está aqui em minha humilde residência, a detetive Elisabeth.
- Vejo que me conheces bem! Eu não estou armada. – Respondeu levantendo as mãos encarando-o.
- Saia devagar. Não tente nenhuma gracinha, caso contrário, faço igual fiz com a professora. – Ameaçou sem tirar os olhos dela.
- Você a matou com a própria arma dela, esta que está em suas mãos. Por quê? – Respirou. – Gostaria de saber. Ela iria puxar conversa até surgir uma oportunidade para desarmá-lo.
- Ahahahahah, aquela professora roubou minha paz. Mereceu morrer. Foi fuçar onde não devia, igual você faz aqui agora invadindo minha casa. – Esfregou as costas da mão no rosto. Suava bastante. – Naquele dia fui até a casa dela para convencê-la a mudar de ideia quanto a algo que ela havia descoberto. Quando cheguei lá, fui surpreendido pela teimosia daquela cadela; e ainda por cima estava armada. Num vacilo dela a empurrei, tomei a arma das suas mãos e atirei.
- Você premeditou crime, pois fez tudo quase perfeito. – Beth confrontou-o.
- A intenção era esganadura, mas a arma foi me dada de graça e facilitou tudo. – Riu alto. Beth avançou um pouco. Ele apontou a arma e num segundo atirou.
Beth tapou os ouvidos, abaixou-se e fechou os olhos.
*****
Depois do Roger ter salvado a vida da detetive , chegando a tempo de atirar nas mãos do meliante antes mesmo dele causar uma tragédia, levaram-no escoltado para o hospital de Trauma para cuidarem do ferimento. Em seguida foram para a delegacia avisar que o caso estava encerrado.
- Como você fez isso comigo, trabalhar em sigilo e ainda por cima com o caso encerrado? Detetive Elisabeth, não tem condições de todas as vezes que a senhora resolve burlar as regras eu tenha que dar um jeito de livrá-la da corregedoria. – Vociferava o delegado Pedro. – Sinceramente!
- Ele foi pego, é o que importa, não é? Eu fui juntando os fatos. Se chegasse para o senhor sem provas, com certeza não irias reabrir o caso. Eu precisava de provas, delegado. – Desconfiada, esperava que ele não recolhesse seu distintivo.
- Você quase morreu tentando bancar a heroína. Se não fosse pelo PM Roger, estaríamos agora em seu funeral. Aliás, cadê ele? Incrível, ele sempre está com você, né. – Finalizou. – Mesmo assim, obrigada por ter solucionado o crime da Rua das Flores.
*****
Dias depois no cemitério da Boa Sentença, Beth e Roger estavam em frente o túmulo da professora Fátima.
- Agora ela ficará em paz. Embora como cristã, eu não acredite nisso de alma ficar vagando aqui na terra. Só sei que ela apareceu em meus pesadelos e ajudou-me a solucionar o seu próprio assassinato. – Falou melancólica.
- O verdadeiro motivo nunca saberemos. O nojento está hospitalizado e pelo jeito, não irá falar. A audiência de custódia será após ele receber alta. – Concluiu Roger alegremente.
- Ei, faça o concurso para a Polícia Civil, as inscrições estão abertas. Quero você realmente comigo. (risos)
Saíram lado a lado como dois amigos de verdade devem ser.
FIM
Débora Oriente