Detalhes são tudo

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Existe em Salvador um detetive conhecido como Charles. Todos só o conhecem por esse prenome. Aliás, ninguém sabe se esse é seu primeiro nome verdadeiro. Sua idade é um mistério, embora sua aparência indique que ele tenha entre 40 e 50 anos. O local de origem dele também é um enigma. Costuma-se analisar sua fisiologia para tentar inferir alguma coisa. Ele é um homem negro, o que sugere que ele pode ser de vários lugares pelo mundo. No entanto, ele domina com perfeição o idioma português-brasileiro. Não aparece nenhum resquício de sotaque estrangeiro quando ele fala. Isso indica que a sua nacionalidade é brasileira.

Charles estava em casa lendo jornal. Uma das manchetes falava da mudança climática que estava atingindo níveis absurdos, a ponto de a previsão do tempo afirmar que poderia nevar em Salvador. Ele lembrou de uma piada que fazia com amigos na faculdade, sobre a gravidade da crise climática: “no dia que fizer neve em Salvador, estamos ferrados”. O telefone toca, ele atende. Era o Intermediário, o homem que funciona como uma “ponte” entre Charles e o cliente. É como se fosse uma espécie de agente.

“Um cara velho precisa de você”, disse o Intermediário.

“Mais um caso de violência doméstica?”, perguntou Charles, que costuma ter falas gélidas, mas desta vez mostrou alguma calidez irônica.

“Não sei. Ele vai te dizer”, respondeu o Intermediário, um pouco irritado. “Eis as palavras-chave que indicam o lugar: Praia. Universidade. Avenida”.

“Pensei que eu estava virando especialista em evitar feminicídio”, afirmou Charles.

Ele referia-se ao pai de uma moça que o contratou para que ele seguisse e espiasse o ex-namorado ciumento dela. O pai acreditava que ele estava tão obcecado pela filha que era quase certo que ele ia tentar matá-la por não aceitar o fim do relacionamento.

O detetive começou a espiá-lo e a segui-lo. Mas Charles faz mais do que espiar e seguir. O trabalho como investigador particular implica em fazer algo mais do que o básico. Ele precisa saber com antecedência qual o próximo passo do alvo. Isso exige uma capacidade extraordinária de inferência. Charles conseguiu realizar esse objetivo a partir do seu método Imitação. Ele precisa ficar de uma posição em que ele possa ver cada movimento de seu alvo durante o dia. Então, ele começa a copiar cada movimento da pessoa espiada. Ao fazer isso, Charles começa a adquirir para si uma cópia da identidade e personalidade do indivíduo que ele está espiando. Ele se torna uma duplicata.

Ao se tornar a cópia, Charles cuida para que a identidade da pessoa não seja plenamente mimetizada. Digamos que o nosso detetive copia 90% do alvo imitado. Replicar 100% não é boa ideia, pois é preciso manter a mente de Charles consciente para que ele possa cumprir a missão. Com a mente copiada do indivíduo, o Imitador tem acesso ao padrão quase exato de seu comportamento. Assim, ele consegue prever o próximo passo e impedir que o alvo possa agir.

Pois então, ele começou a copiar seus hábitos e comportamento até que conseguiu copiar a individualidade do ciumento. Quando fez isso, Charles experimentou um sentimento de obsessão, ressentimento e ódio. Ele não teve dúvidas: o pai tinha razão. O cara ia mesmo matar a moça. E iria fazer isso quando ela estivesse saindo do trabalho. Era o momento de Charles voltar a ser totalmente ele mesmo e cumprir a outra e mais importante parte da missão. Evitar que o ex-namorado mate a mulher. Para isso, o pai chamou um policial de sua confiança. Charles o instruiu para que o tira agisse pouco antes do ato se consumar, para justificar a legítima defesa.

A mulher trabalhava numa escolinha infantil. Quando estava saindo do local de trabalho, o ciumento e potencial assassino foi até ela pronto para disparar a arma. Entretanto, orientado por Charles, o policial acertou um tiro na perna do cara e efetuou a prisão em flagrante por tentativa de homicídio.

Nos jornais de Salvador, o policial levou todo o crédito pelo heroísmo. Mas isso foi por escolha de Charles, que prefere a discrição. Como ele trabalha na capital da Bahia, é melhor que pouquíssima gente saiba detalhes de suas habilidades.

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Charles foi ao local. E encontrou um homem chamado Umberto. Era uma pessoa que aparentava ter por volta dos 60 anos. O rosto era sombrio e cansado. O cabelo era grisalho. Segundo informações do intermediário, Umberto trabalhou como executivo de uma empresa soteropolitana. Era conhecido como um homem sério e lacônico. Todavia, ele mudou de forma abrupta, dizem anônimos entrevistados pelo Intermediário. Começou a ser falador e inconveniente. Ninguém entendia a razão. Sabia-se que estava relacionado com o alcoolismo. Mas não se sabe ainda como ele se degradou.

Seu comportamento indevido e seu alcoolismo o levaram à demissão. Por incrível que pareça, ter sido demitido não representou uma derrocada ainda maior. Umberto buscou a recuperação e o recomeço. Ouviu falar do “Detetive da Imitação” e ficou fascinado com sua capacidade de copiar identidades. Notou que ele era a pessoa perfeita para o trabalho.

Umberto - que parecia ter voltado à “forma original”, ou seja, parecia um homem de poucas palavras - quer que Charles siga e espie um cara chamado Eco. Só isso. Ele não dá mais detalhes sobre suas motivações. Mas Charles nunca quer saber das razões. Ele poderia se questionar se o alvo tinha a ver com a sua queda na empresa. Mas só faz o serviço e pronto. Aliás, quem contrata os serviços do detetive nem precisa dizer o que a pessoa espiada irá fazer de anormal. Com o método de imitação, Charles acabará descobrindo.

Contudo, há informações imprescindíveis que Charles precisa saber no momento em que o contrato é criado: local onde vive a pessoa espiada, detalhes da vida dela - o que faz, onde trabalha etc. Além disso, há certos critérios que precisam ser cumpridos para que Charles realize a missão: ele precisa estar de um local onde possa ver cada movimento do alvo.

Umberto disse o local e garantiu que os requisitos serão atendidos. Já estava tudo pronto para Charles. A missão seria na rua direta de Cosme de Farias, um bairro de Salvador. Charles ficará numa casa de frente a um prédio dentro de um condomínio. Eco gosta de fazer tudo com a janela aberta. Basta um binóculo e Charles verá quase tudo que Eco fizer - menos quando o alvo estiver no banheiro.

“Comece hoje mesmo”, disse Umberto, que joga as chaves para Charles.

3

Eco era um homem supostamente mais jovem do que Charles. Tinha 35 anos de idade. Era magro. Nunca trabalhou, era sustentado pelos pais. Até alguns anos atrás, tinha uma personalidade galanteadora. Era um aspirante a Casanova. Um eterno aspirante, para dizer melhor. Quando começou a fracassar nas tentativas se relacionar amorosamente, a autoestima caiu.

Ele, por exemplo, apaixonou-se por uma moça que trabalhava de caixa num supermercado. O problema é que ele não conseguia chamá-la para sair. Sua relação com ela era meramente uma relação entre cliente e atendente e não ia além disso.

“Bom dia!”, ele dizia a ela, com ânimo

“Bom dia”, ela respondia de uma forma que mal dava para ouvir, enquanto olhava para baixo.

Mas já houve momentos em que a atendente fazia contato visual. Ela mandava sinais ambíguos - ora manifestava interesse, ora manifestava indiferença. Eco não suportava isso. Para ele, isso indicava que ela não poderia de forma alguma gostar dele. Desde então, ele ficou com medo da ambiguidade das relações humanas. Isso o levou ao isolamento.

O que ele poderia ter de interessante para que um homem como Umberto o perseguisse? Charles não se interessava em saber. Só que ele poderia saber depois que copiasse a identidade do cara.

Eco não possuía vida social, o que facilitava o trabalho do detetive. Ele ficava a maior parte do tempo jogando videogame. Em outros momentos deitava no sofá e ficava olhando o celular.

Quando chegou à casa onde ficaria para espiar Eco, Charles notou que o cômodo era idêntico ao apartamento do alvo. Até o videogame estava lá. Ele ficou impressionado pela primeira vez, pois nunca um cliente havia sido tão rigoroso assim para cumprir com seus critérios.

Como a rotina de Eco era simples, e havia todas as “ferramentas” necessárias, não foi difícil para Charles começar a copiar a identidade e individualidade de Eco. Estava copiando cada movimento seu e adquirindo a imitação com alto nível de precisão do rapaz espiado. Mas algo começou a atrapalhar. Do céu nublado começou a cair…neve! Sim, neve em Salvador. No noticiário, falaram de um tal de um vórtice, mencionaram que tal acontecimento só era possível em 1 a cada 1 milhão etc. Nem mesmo surgiu um frio antes para avisar. Primeiro a neve, depois o clima gélido. Charles e seu contratante não estavam preparados para isso.

A situação foi piorando até surgir uma nevasca que atrapalhava a visão de Charles. A visibilidade estava cada vez pior. Como iria copiar os movimentos desse jeito? Chegou um momento em que o dia escureceu e Eco tornou-se uma sombra. Charles teria que se virar com essas limitações. Começou a observar atentamente os movimentos da sombra e a imitar rigorosamente. Assim, conseguia, mesmo com dificuldades, copiar a identidade de Eco.

No meio do processo notou algo estranho. Notou que aparência escura da sombra de Eco apresentou, por um instante, uma fisionomia incomum para o seu padrão: a perna direita estava um pouco parecia mais gorda. Mas como ele prosseguia copiando a individualidade, achou que não havia nada de estranho.

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Os dias se passaram e Charles tornou-se uma cópia de Eco, replicando 90% de sua personalidade. Com isso, ele poderia prever o que o rapaz faria de anormal, ilegal ou imoral para que merecesse a atenção de Umberto. Todavia, o que Charles viu foi a rotina se repetir indefinidamente. Não haveria nada que rompesse com o padrão. Graças a isso, era inevitável não aumentar a curiosidade acerca das intenções de Umberto. O que esse tal de Eco tinha de insólito?

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A nevasca estava diminuindo. Enfim, ele conseguiu observar o apartamento do seu alvo. Então, o horror tomou conta de Charles. Eco não estava lá. O local estava vazio. Isso é impossível, pensou Charles. Se Eco manifestasse o desejo de sair, ele saberia, afinal o copiou. No entanto, o detetive não fazia a menor ideia de onde Eco pudesse estar. O que poderia ter acontecido? Seu método falhou pela primeira vez? Isso é impossível, segundo ele.

O que deu errado?

Ele lembrou da perna mais gorda.

“Só pode ter a ver com isso”, ele pensou tão alto que proferiu essas palavras.

Horas se passaram e nada de Eco aparecer. Charles estava inquieto e preocupado. Estava com problemas. Andava de um lado para o outro. Fumava um, dois, três cigarros. Nunca estivera numa situação assim. Não sabia o que fazer. Enquanto tentava pensar uma solução, recebeu uma mensagem no celular que acabaria com qualquer esperança de retomar o controle da situação. Era a foto do cadáver de Umberto, o cara que o contratou.

Charles percebeu que havia sido derrotado. Um detalhe (des)percebido foi capaz de vencer seu método. A perna não era de Eco, pensou. Aproveitaram a neve. O investigador-imitador aplicava seu método e cumpria suas missões em Salvador, uma cidade quente. A mudança climática mudou o cenário e permitiu que o detetive lidasse com um problema inédito.

Foi o momento em que Eco foi trocado por outra pessoa, com outra personalidade. Charles copiou parte da personalidade de Eco e parte da identidade desse sujeito desconhecido. Foram duas cópias de indivíduos distintos. E o detetive copiou de ambos um percentual insuficiente para identificar padrões de comportamento.

Com o seu método vencido, Charles não tinha mais o que fazer. Poderia fugir. Mas a sua carreira estava acabada. Preferiu esperar o carrasco.

Porém, minutos depois, ele mudou de ideia. Pensou numa forma de “morrer” que não implicava em eliminação física.

6

É necessário explicar certos eventos que precedem o conto.

Importante entender como duas figuras que aparentemente nada têm a ver - Umberto e Eco - se tornaram personagens centrais numa trama envolvendo um detetive com métodos não convencionais. Uma terceira personagem pode explicar.

A atendente de supermercado que foi mencionada no capítulo 3. Houve um dia em que Umberto passou no mercadinho onde ela trabalha. Não demorou para que ele se encantasse com sua beleza. Essa paixão por uma mulher mais jovem o levou a frequentar regularmente o mercado.

“Bom dia!”, ele dizia, mostrando ânimo.

“Bom dia”, a moça respondia, olhando para baixo e com um tom fleumático.

Em outros momentos, ela agia com relativo entusiasmo. Essa ambiguidade do comportamento dela - ora manifestando interesse, ora tratando-o como um mero cliente - o deixou incomodado.

No dia em que estava criando coragem para conversar com ela sobre assuntos que não envolviam pagar cup noodle com cartão de débito, ele foi ao mercado e acabou presenciando a moça atendendo Eco. Quando ela passou a máquina de pagamento para ele, olhou nos seus olhos. Umberto viu e começou a achar que ela estava apaixonada por Eco. Porém, como já explicado em capítulos anteriores, Eco também presumia que a Atendente era uma mulher ambígua. E para ele, ambiguidade significa falta de interesse.

Umberto não sabia disso. Ficou enciumado, obcecado tanto pela moça quanto pelo seu rival. A derrocada do executivo começou por causa de uma cena cotidiana inofensiva, uma mulher atendendo um homem. Começou a beber muito. Por isso, a mudança de postura que o levou a ser um homem assediador e incômodo na empresa. Os acionistas sabiam que ter alguém assim no quadro de funcionários danificaria a imagem da empresa. A demissão foi inevitável.

Entretanto, como era um membro do alto escalão da empresa, Umberto sabia de muita coisa. Os acionistas escolheram um novo executivo com a condição de que ele deveria espiar Umberto. Até o telefone celular deveria ser grampeado.

E foi o grampo que permitiu o novo executivo descobrir que Umberto estava atrás de Charles. Ele e outros membros da empresa estavam acreditando que o ex-executivo planejava se vingar da empresa através do detetive da Imitação. Mas, na verdade, Umberto queria que Charles espiasse e copiasse Eco só para saber o que “o rapaz tem o que eu não tenho”.

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Umberto iria exigir que Charles fizesse um relatório descrevendo o padrão do comportamento e da mente de Eco. Ele acreditava que se tivesse isso em mãos, poderia supostamente roubar o coração da atendente do supermercado. Contudo, ele não teve tempo de pedir isso.

Acionistas estavam colocando dinheiro não declarado na empresa onde Umberto trabalhou. “Chame a Organização”, disse um homem, com uma maleta de dinheiro, ao executivo substituto de Umberto.

Pouca coisa se sabe sobre a Organização. Uma das poucas informações dizem que se trata de um “empreendimento” internacional especializado em espionagem e assassinato. O slogan é: “detalhes são tudo”.

Charles foi derrotado por um adversário que ele não fazia a menor ideia que estava enfrentando. Por outro lado, a Organização conhecia bem Charles. Ela estuda cada detalhe do oponente. Atente, leitor, à palavra “detalhe”. Os detalhes definiram o jogo a favor da Organização.

O detetive da Imitação precisa ter total atenção ao alvo que quer copiar. Isso significa que coisas à margem passam despercebidas, como, por exemplo, o apartamento que ficava abaixo de onde Eco estava. Charles espionava Eco. Mas outra pessoa observava Charles.

No entanto, a Organização teve um pouco de sorte.

O Agente da Organização incumbido de lidar com a situação escreveu um relatório, enviado a seus superiores, que pode ser sintetizado: “Posso entrar no local. Entretanto, enquanto o dono do apartamento certamente não irá perceber, o alvo vai. E se ele notar, acabou”.

Algumas horas depois, outro relatório: “Uma variável inesperada, mas de grande ajuda, está acontecendo. Neve! A visibilidade do alvo será atrapalhada. O momento é agora”.

Um terceiro relatório foi enviado horas mais tarde: “Copiei cada movimento do dono do apartamento. Em seguida, fiz o que tinha que ser feito e ocupei o lugar. O alvo pensou que havia apenas uma pessoa o tempo todo. Contudo, acho que vacilei por instante. Era para eu ter a mesma massa corporal do dono. Mas a minha perna parecia ter mais músculo. Espero que o alvo não tenha notado”.

Enquanto isso, outros agentes já haviam localizado o Intermediário. Os caras moeram o aliado de Charles na porrada. Ele não disse nada.

“Nome? Idade? Origem”, perguntavam os torturadores.

“Ricardo. 13 anos. O teu c*”, respondia o Intermediário.

E aí começavam a dar porrada nele. O enredo foi esse por horas. Depois, o Intermediário sucumbiu aos ferimentos. Mas os seus carrascos já tinham conseguido o que queriam: desbloquear o celular para ver se conseguiam informações sobre Charles. Não havia nada além de seu número de contato. Todavia, encontraram informações valiosas sobre Umberto.

“Ele foi atrás do detetive para espiar um cara”, disse um agente da Organização.

“Espiar um cara!? Ele não queria nos prejudicar?”, perguntou o executivo da empresa onde Umberto trabalhou e foi demitido.

“Não há evidências.”

“Por essa eu não esperava”, disse o executivo.

“E então?”

“Faça mesmo assim”.

Os agentes mataram Umberto algumas horas depois dessa conversa.

8

Horas mais tarde, os enviados para matar Charles chegaram na casa. Porém, ele não estava mais. Por meses procuraram ele em vários lugares e não acharam. Ele simplesmente sumiu. A verdade é que assumiu a personalidade de outra pessoa e tomou o lugar dela. Para seu trabalho de detetive, ele copiava 90% da identidade. Como o método foi vencido, e ele não conseguia conviver com isso, ele possivelmente assumiu 100% da personalidade copiada. O que significa que Charles, o detetive, não existia mais.

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A pessoa que Charles tomou o lugar é o autor deste conto. O próprio conto é um resquício do que sobrou da mente do detetive. É impossível ele copiar 100% uma personalidade. Ele pode copiar 99,9999999999999…%, mas o 100% nunca é alcançado. Com sua nova vida de Autor, Charles resolveu escrever esse conto primeiramente como um livro de memórias. Contudo, na sua nova vida, ele não era um detetive. E as memórias de sua antiga vida eram cobertas por uma neblina. A sua solução foi escrever um relato ficcional. A intenção era escrever uma ficção que preenchesse a imensa lacuna da memória com interpretações e deduções que se esforçassem para serem imparciais. Este autor admite, no entanto, que falhou nisso.

10

E tem outra coisa. Quase este autor esqueceu: depois dos eventos, Eco acordou em seu sofá. Pensou que tirou um cochilo. Não percebeu que um agente altamente perigoso o fez ficar inconsciente. Olhou para o celular. Viu que recebeu mensagens no Tinder, de uma garota que havia curtido ele.

“Curtida é curtida. Não tem outra interpretação possível!”, ele disse, esfuziante. Se há um final feliz, talvez seja o dele.

RoniPereira
Enviado por RoniPereira em 25/06/2024
Reeditado em 27/06/2024
Código do texto: T8093197
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