Às Noites Foram Feitas para Matar | Capítulo 4

Às Noites Foram Feitas para Matar

Capítulo 4

Foi bom enquanto durou, porém poderia muito bem durar um pouco mais. Muito mais. Teresinha foi como um vento fresco depois de um longo período de sol escaldante desértico na vida de Juarez. Ela fez com que o ex policial ressignificasse sua trajetória amorosa, coisa que ele já havia sepultado de vez há bastante tempo. Viúvo pela segunda vez, que realidade cruel. Cardoso até tenta manter seu espírito justiceiro calado dentro dele, mas é praticamente impossível. Uma vez tira, sempre tira.

Após o enterro ele voltou para casa e assim que se viu sozinho foi como se tudo aquilo que estava represado fosse liberado de uma só vez. Ele chorou feito criança e como prometera no fundo do seu íntimo a beira do caixão, Cardoso jurou vingança a qualquer custo. Pode falar a vontade, não calarei mais a sua voz. Disse ao seu coração.

Bem mais tarde e já recomposto Juarez recebeu a visita de Onofre. Bastante abatido, mas em contrapartida decido descobrir quem anda assassinando moradores de Vila Carmem, Cardoso foi direto ao assunto.

— Eu só não quero que Avilar venha me encher o saco. — pôs mais café no copinho americano. — se ele realmente estivesse disposto a solucionar este caso, minha Teresinha estaria viva.

— Nisto eu tenho que concordar com você. Falta competência ao Sargento Avilar. E quando você pretende começar as investigações?

— Hoje à noite, sem que ninguém perceba, farei rondas dentro e fora da vila.

— Perfeito!

*

Botas marrons já gastas pelo tempo. Calça jeans, jaqueta vinho e um chapeuzinho preto bem enterrado na cabeça. No coldre por dentro da jaqueta um velho revólver calibre 38 aguardando o momento de ser acionado. Juarez Cardoso está de volta — pelo menos não oficialmente — às ruas estranhas de um vilarejo. Em momento algum ele se sentiu estranho. Pelo contrário. Foi como renascer. Aonde você está seu vagabundo, apareça. Uma das primeiras orientações a um aspirante a detetive, isso em sua época, é voltar ao ponto inicial. Ou seja, aonde o criminoso expõe suas obras. É dali que se deve traçar uma linha investigativa.

A vila não se encontra vazia como Juarez achou que estaria, talvez porque ainda esteja cedo, pensou cruzando com algumas pessoas voltando do trabalho.

— Boa noite, pessoal! — os comprimentos.

Mais cem metros e pronto lá está o cenário onde o desgraçado costuma mostrar seu feito macabro. Não é algo agradável de se ver. A todo momento a imagem de sua digníssima vem a sua mente o fazendo chorar. Eu te amei e por isso estou aqui. Tudo o que Cardoso precisa é de uma boa pista, a mínima que seja. Como um bom profissional que foi, ele sabe que todo crime, seja de qual natureza for, o autor sempre deixa algo para trás e é justamente isso que ele procura ali. Juarez andou um pouco mais até a calçada e olhou bem de perto o poste e fez um rápido cálculo. Para se pendurar com segurança e sem o auxílio de uma escada, a pessoa precisa ser alta e ter habilidade em fazer nós. Não é muito coisa, mas já é um bom começo. Tudo isso anotado mentalmente. Vamos mais adiante.

*

— Sua investigação foi produtiva? — perguntou Onofre ainda parado na porta.

— Entre! — respondeu secamente Cardoso. — Digamos que eu tive um começo relativamente aceitável.

— Como assim? — Puxou uma cadeira.

— O desgraçado é de alta estatura e possui habilidade para fazer nós.

— Devagar aí meu chapa. Então o assassino é um sujeito alto?

— Exatamente. Para se pendurar uma cabeça humana num poste de sinalização sem o auxílio de uma escada, o cara precisa ter no mínimo um metro e oitenta e outra coisa: não há presença de sangue no local indicando que antes ele faz a cauterização. Ele pensou em tudo.

— Mas, rapaz! — Onofre passou as mãos na cabeça careca. — Então ele é alto, bom com nós, não deixa vestígios…

— E faz tudo isso com uma rapidez tremenda.

— Mas ainda há um mistério no ar. Os corpos. Por enquanto só sepultamos as cabeças.

Juarez entristeceu-se.

— Eu vou pegar esse maldito antes que ele faça uma nova vítima. — Bateu na mesa.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 02/06/2024
Código do texto: T8077290
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.