A mim, Skipper!
O cachorro apareceu correndo tão rápido pela estrada, que o xerife Lawson mal teve tempo de pisar no freio.
- Maldição! - Exclamou, agarrado com as duas mãos no volante.
Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Vana abriu a porta traseira da viatura e se ajoelhou na estrada, pronta para acolher o animal. Skipper - pois não era outro se não ele - pulou nos braços que Vana lhe estendia e a cobriu de linguadas, latindo feliz.
- Acabou, acabou - sussurrou Vana, abraçada ao beagle de olhos fechados.
- Tem certeza de que esse não é o seu cachorro? - Questionou o xerife, que acabara de sair do carro, sobrolhos erguidos.
- Esse é o Skipper, xerife - declarou ela. - Vamos, que os sequestradores estão se preparando para fugir.
Lawson lançou-lhe um olhar ressabiado, enquanto ela reinstalava-se no banco traseiro da viatura com o beagle no colo. O xerife ajeitou o chapéu na cabeça e reassumiu seu lugar, atrás do volante.
- Como sabe que eles já estão saindo? - Inquiriu, enquanto retomava o curso, olhando para a lateral da estrada para ver onde estava escondida a viatura de Ray e Johnny.
- Não parece óbvio, xerife? - Replicou Vana em tom severo. - Acha que o Skipper fugiu sozinho? Alguém deixou a porta do canil aberta e ele escapou!
Lawson engoliu a reprimenda em silêncio. Depois, pensou com os seus botões que a hippie bem poderia ser uma policial; em outras circunstâncias, naturalmente. Finalmente, avistou a lateral branca da viatura, emergindo por trás dos arbustos no acostamento de uma estrada vicinal.
- Johnny, Ray, estou passando por vocês - alertou o xerife pelo rádio. - Me sigam, sem sirene e sem giroscópio!
- Eles são três, xerife - alertou Vana, fazendo carinho no lombo de Skipper. - É possível que todos estejam armados.
Lawson nem pensou em perguntar como a garota sabia daquilo. Começava a achar que havia algo de sobrenatural com aquela riponga.
- São três e devem estar armados - repetiu pelo rádio. - Eu vou bloquear a estrada pela frente, e vocês passam adiante e bloqueiam pela contramão. Espero que eles se rendam sem violência, mas devemos estar preparados para qualquer coisa!
- Certo, xerife - foi a resposta de Ray.
A primeira coisa que viram ao se aproximar do suposto hotel para cães, foi um furgão Ford Econoline verde, parado em frente da casa, e a movimentação dos três homens que arrumavam apressadamente na parte traseira gaiolas com cachorros que latiam. Lawson atravessou a viatura na estrada, enquanto o veículo de Johnny e Ray passava reto e fazia o mesmo, no sentido contrário.
- Parados! Polícia de Havana! - Gritou Lawson, entrincheirado atrás da porta aberta da viatura, revólver calibre 38 em punho.
O homem que parecia ser o chefe do grupo, óculos de sol Ray-Ban no rosto, abriu um sorriso e ergueu lentamente as mãos.
- Ninguém aqui vai bancar o herói, xerife - declarou.
* * *
- Onde estão os meus clientes? - Demandou o homem de terno bem cortado, ao adentrar a delegacia de Havana.
Detrás do balcão, o policial Waters olhou o recém-chegado de cima a baixo. Conhecia bem esse tipo de advogado, provavelmente tinha escritório em Tallahassee, capital do estado, que distava menos de 30 km de Havana. Por ali não havia, como o xerife costumava comentar com desdém, "advogados de porta de cadeia".
- Quem são seus clientes, senhor? - Indagou polidamente Waters.
- Isaac Fisher, Salvatore Franchini e Harvey Alford - explanou o advogado, apoiando as mãos espalmadas sobre o balcão. - Soube que foram trazidos para esta delegacia, sob falsas acusações! Preciso vê-los imediatamente!
- Que gritaria é essa, Waters? - Indagou uma voz atrás do agente. Sem se virar, este respondeu:
- Creio que este senhor é o advogado dos suspeitos, xerife.
Lawson aproximou-se do balcão e, sem se intimidar, também espalmou as mãos sobre ele e encarou o visitante.
- Dr. Anthony McKenzie, eu presumo.
- Como sabe o meu nome? - Indagou surpreso o advogado.
Foi a vez de Lawson abrir um sorriso sardônico e olhar para trás, comentando:
- Ei, Vana Luna! Venha ver quem chegou para a festa!