Vai, Skipper, vai!
- Eu não disse que você podia vir comigo, senhorita. Isso é assunto oficial da polícia.
Vana havia se interposto entre o xerife Lawson e a porta do escritório.
- Acredite: o senhor vai precisar de mim lá. E lembre-se que, se não fosse por mim, sequer teria um caso - disse a jovem, parecendo subitamente ficar mais alta e mais forte do que o policial. Lawson piscou, atarantado. Ela parecia estar acostumada a dar ordens e ser obedecida, embora ele não conseguisse atinar como uma riponga de vestido estampado poderia ter tais atributos. Os hippies não eram todos adeptos da paz e do amor?
- Escute, moça, não sei o que ou quem nos espera no tal hotel de cães - Lawson tentou negociar, num tom calmo. - A coisa pode se tornar perigosa e não quero arriscar levando uma civil.
- Acredito que tenho muito mais experiência em confrontos do que o senhor - afirmou Vana, braços cruzados. - Na linha de frente, contra inimigos bem armados.
Lawson ergueu os sobrolhos.
- Não duvido que já tenha encarado muitas barreiras da polícia ou da Guarda Nacional nesses protestos, de que vocês hippies gostam tanto - redarguiu. - Mas normalmente, o máximo que pode acontecer nessas manifestações é você levar algumas bordoadas de cassetete. Aqui, eu estou falando de armas de fogo.
- Esses homens estão mantendo um grande número de cães roubados na propriedade - insistiu Vana. - Eu preciso estar por perto para garantir a integridade deles!
"Ah... então era disso que se tratava", pensou Lawson aturdido. Ergueu as mãos num gesto apaziguador.
- Está bem... espero não me arrepender disso em breve. Você vai na viatura comigo. Mas só sai de lá se eu lhe autorizar a fazer isso, certo? Temos um trato?
Vana respirou fundo e pareceu voltar à sua estatura normal.
- Tentarei cumprir minha parte, xerife - declarou finalmente.
- Excelente! Agora vamos, que podemos já estar atrasados.
Vana ergueu a cabeça, como se estivesse ouvindo algo inaudível para ele.
- Não... ainda temos tempo. Esses seus veículos são rápidos o bastante - avaliou.
Em seguida, acompanhou o xerife para o estacionamento da delegacia. Lawson abriu a porta da viatura e disse a ela que ficasse no banco traseiro. Saíram em alta velocidade, giroscópio ligado, mas sem sirene, rumo ao ponto de encontro com a viatura de Ray e Johnny.
* * *
- Vem vindo alguém - anunciou desnecessariamente Salvatore, quando um motor de automóvel aproximou-se da casa.
- A polícia, de novo? - Questionou Harvey, empunhando um revólver .38.
Salvatore afastou ligeiramente a cortina da janela da sala para olhar para fora.
- Não... Isaac chegou com o furgão - declarou aliviado.
- Antes tarde do que nunca - Harvey enfiou o revólver no cós das calças. - Espero que caibam todos os cachorros nessa viagem, pois a polícia ainda pode estar rondando por aí.
Instantes depois, Isaac entrou na casa, um cigarro apagado no canto da boca.
- Tudo pronto para desocupar o canil? - Indagou.
- Acabei de falar com Salvatore que é bom fazermos uma viagem só... a polícia de Havana veio xeretar aqui mais cedo - disse Harvey.
- Polícia? - Isaac franziu a testa. - Como aqueles tapados conseguiram descobrir nosso esconderijo?
- Não faço ideia - Harvey deu de ombros. - Estavam atrás do beagle, ficaram de voltar amanhã.
- Bom, amanhã não vamos estar aqui - determinou Isaac. - Coloquem os cães nas caixas de transporte, vou abrir a traseira do furgão.
No canil, os cães estavam agitados, pressentindo que algo estava para acontecer. De fato, Harvey e Salvatore começaram a separar os animais e a colocá-los nas caixas de transporte. Quando Skipper estava para ser posto na respectiva caixa, o beagle deu um drible em Harvey e correu para dentro da casa. A porta da frente estava aberta, pois Isaac estava organizando as caixas no furgão.
- Segura o cachorro! - Gritou Harvey, correndo atrás de Skipper.
Mas, já era tarde: Skipper corria estrada abaixo, no rumo da cidade.
- [07-04-2024]