O Homem-aranha presenciou uma altercação

Nos fins de semana, um local próximo ao Porto da Barra se torna um lugar de diversão para crianças. Mas de vez em quando acontecem coisas que quebram a rotina. Dessa vez, há dois homens brigando. O quebra pau é muito feio, os caras pararam de usar as mãos e começaram a usar paus, pedras, o que viam pela frente. Um homem que usa dreads no cabelo conseguiu tomar o controle da briga e começou a espancar o seu adversário para o horror dos presentes. Outras pessoas tentavam separar, porém eram agredidas por esse cara. Quando a polícia se aproximou, o Homem dos Dreads saiu correndo. Ele acabou indo na direção de um rapaz fantasiado de Homem-aranha.

- Pega esse cara aí! - gritou um homem com a boca sangrando.

O Homem-aranha não fez nenhuma expressão e até saiu do caminho para o cara passar. As pessoas começaram a cobrar o “Amigão da Vizinhança”.

- Por que você não pegou o cara? - perguntou uma pessoa.

O Homem-aranha não disse nada.

- Que tipo de Homem-aranha é você? - perguntou um jovem.

- Você é um bosta! - uma mulher xingou.

- Isso não é meu trabalho… - disse o Homem-aranha.

- Mas você poderia ter feito alguma coisa. Aquele homem quase matou um rapaz ali!

- Não é meu trabalho! Isso é trabalho da guarda, da polícia, não meu…

- O Homem-aranha de verdade não seria como você!

- O Homem-aranha de verdade não existe!

As pessoas começaram a gravar e postar nas redes sociais. O Homem-aranha nem se esquentou com isso. Para ele a frase “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades” não fazia sentido. A frase certa é “sem poderes, sem responsabilidades”. Não era obrigação dele parar brigões e bandidos. A obrigação dele era outra.

A rotina voltou após uma hora. Como se nada acontecesse. O Homem-aranha, agora odiado por algumas pessoas que estavam ali, continuava na dele. Provocações de crianças não incomodavam. Ele só estava focado na hora. O quebra pau ocorreu no fim da tarde. Depois veio o crepúsculo. Aí veio a noite. As horas passavam. O local estava ficando cada vez mais vazio. Logo só o Homem-aranha e pouquíssimas pessoas ficaram ali. Então, veio o carro. O Homem-aranha se aproximou do passeio. O número da placa do carro estava em sua mente, o que o fez reconhecer o veículo, que parou pertinho dele.

- Entre aí. - disse uma voz de dentro do carro.

O Homem-aranha entrou no banco de trás.

- Está pronto? - perguntou o Intermediador que estava sentado ao seu lado.

- É claro!

O carro saiu de próximo à praia e entrou nas ruas onde há os condomínios e casarões do bairro da Barra e de Ondina.

- Pare num local onde o nosso Aranha possa ter uma visão boa do lugar. - disse o Intermediador ao Motorista.

Quinze minutos depois, o veículo chegou ao lugar indicado. O Homem-aranha saiu do carro e se encostou numa parede da rua. Ele levanta a cabeça e olha bem para o prédio em frente. Ele olha de forma atenta por uns vinte minutos.

- Ele precisa demorar tanto? - perguntou o Motorista.

- Ele é metódico. Está memorizando cada detalhe.

Depois o Homem-aranha entrou no carro e pediu ao Motorista que o levasse para o outro lado da rua. O local indicado é a entrada do condomínio onde ficava o prédio.

- Não vou demorar. - disse o Homem-aranha. O Intermediador lhe dá uma coisa que ele coloca na cintura.

Ele sai do carro e dá um salto e pula o muro do condomínio. Não faz um barulhinho sequer. O Porteiro não percebeu nada. Mas ele não iria entrar pela porta da frente. Em vez disso, ele vai para a lateral do prédio e dá outro salto para alcançar uma varanda no andar de cima. Depois ele coloca a mão na parede. A mão fica colada. Ele coloca a outra. As duas mãos coladas na parede o mantém firme. O Homem-aranha lembra o que o Projetor lhe disse sobre o efeito da cola. Dura cinco segundos.

O Homem-aranha precisa subir rapidamente. São 22 andares. A cada andar a cola é usada quatro vezes, duas em cada mão. A cola é utilizada, portanto, 88 vezes. O limite de tempo é sete minutos e quinze segundos, se ele quiser subir de vez. Ele foi subindo parecendo mesmo uma aranha. No outro prédio no outro lado da rua, um homem acaba observando. Ele olha bem para aquela suposta aranha humana subindo as paredes e olha para a garrafa de vinho para sua mão, acreditando haver uma relação entre uma coisa e outra.

- Amor, tem um Homem-aranha subindo o outro prédio.

A mulher riu.

- O vinho está lhe fazendo mal.

- Também acho.

O Homem-aranha chegou ao vigésimo andar. Entrou pela varanda, cortando a rede que a protegia. Do lado de dentro, tira a coisa que o Intermediador lhe deu. Uma arma. Ele passa pela sala. Ouve gemidos no quarto. Olha pela porta. Um homem e uma mulher transam. O Aranha entra apontando a arma. A mulher que estava de frente para a porta vê o Homem-aranha apontando a arma para ela e dá um grito. O homem sai de cima dela. Sem-cerimônia, o Homem-aranha atira nos dois, que morrem instantaneamente. A arma também foi projetada para não fazer nenhum barulho. Depois de ter concluído o serviço, o Homem-aranha matador sobe no muro da mesma varanda por onde entrou e pula. Entre os seus dois punhos e os dois pés surgem coisas que parece teias, mas que não são asas. Eles podem ser análogas a membranas de pele que esquilos usam para planar de uma árvore para a outra. O Homem-aranha assassino também faz isso para sair sem problemas do local do crime. Obra do Projetor. Ele chega ate a rua onde estava o carro.

- Pronto. - ele disse ao Intermediador.

- O Motorista nos levará ao banco.

Mais uma vez o carro roda pelas ruas de Barra e Ondina. Quando se aproximava do banco, disparos. Alguém atirando de metralhadora.O Motorista foi logo atingido. O Atirador muda de posição e começa a metralhar o lado do carro. O lado onde estava o Intermediador, que também morre atingido. O Homem-aranha consegue sair a tempo. Pensa em revidar, mas acabou deixando a arma dentro do carro. De uma distância segura, ele vê o atirador. Era um homem usando dreads.

FIM

RoniPereira
Enviado por RoniPereira em 03/01/2024
Reeditado em 23/01/2024
Código do texto: T7967962
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