O Agente Mauro e as Mentiras do Combate à Corrupção

Preâmbulo

Antes de iniciar essa breve narrativa, esclareço: Não me arvoro dono da verdade, tampouco, dono de mentiras, que se espalham nas redes sociais e na mídia empresarial. É a opinião de um ficcionista.

Acredito que a maioria dos brasileiros e brasileiras, quiçá do mundo, entendeu o que se desenrolou por aqui. Até o mais empedernido reacionário, informado ou desinformado, ou manipulado pela mídia nativa e por fake news, já entendeu ao que sobreveio naquela trágica votação do ano de 2016 sob o comando do presidente da Casa, em seguida, no Senado. O que aconteceu foi um golpe contra o povo. Tudo encoberto com o "sagrado manto do combate à corrupção".

O Agente Mauro

Ascendido à condição de herói nacional, pela firmeza em que sentenciava corruptos, o agente Mauro era protegido por seguranças. Seu poder chegara a tal ponto de dispensar o devido processo legal.

Para entender os passos do agente é necessário identificar as diversas forças ocultas, outras nem tanto, que lhe davam o suporte necessário: procuradores escolhidos a dedo; assessoria de poderosos agentes do Norte; corporações financeiras e empresariais. Destaque especial para empresas petrolíferas estrangeiras. E para fechar com chave de ouro, Mauro tinha o apoio incondicional dos maiores veículos de comunicação. Todos imbuídos pelo mesmo ideal: o suposto combate aos corruptos.

Mauro tinha licença para assassinar reputações. Mortes estranhas de envolvidos na trama ocorreram, como o acidente aéreo, que vitimou um juiz do Supremo. Tudo por um objetivo maior: prender o chefe de uma suposta organização criminosa, o Grande Líder, chamado internamente de Nine, cuja popularidade precisava ser desmistificada, na opinião do agente e de seus auxiliares. Para destruir a reputação de Nine, tudo era permitido: bombardeio diário, com vazamentos de denúncias de todo tipo de corrupção, para a grande mídia, em especial para a Líder de Audiência. Antes de dar início a cada operação, o agente Mauro preparava o campo com a ajuda de agentes nacionais e estrangeiros.

Anos antes da entrada em cena do Agente, a estratégia de destruir a reputação do Grande Líder, iniciara com armas pesadas no ano de sua reeleição à presidência do país, em 2006. Seus adversários o consideravam fora do páreo, por conta das denúncias de supostas mesadas aos seus parceiros. Um vídeo fora exibido em rede nacional em que mostrava o funcionário dos correios, Maurício Maninho recebendo, propina . Os canais de televisão repetiam o vídeo a exaustão, sempre associando, subliminarmente à corrupção do Grande Líder. Em seguida o deputado Roberto J acusa o Ministro da Casa Civil de distribuir propinas de campanhas eleitorais. Entra em cena o presidente do supremo, JB, à época elevado à condição de herói nacional, pela mídia tradicional: o menino pobre que iria salvar o país da corrupção. A manchete, com a foto JB, fora estampada na capa de uma revista de circulação nacional e repercutida cotidianamente pelos canais de tevês e rádios, além de outras publicações impressas e na internet. Um massacre. Assim, o Grande Líder fora carimbado de chefe de uma organização criminosa. Porém, objetivo de impedir a sua reeleição, não foi concretizado. Ele se reelegeu, para o espanto de seus adversários. A sua popularidade, embora arranhada, foi suficiente para mantê-lo na disputa e vencer o pleito. Contudo em sua segunda gestão iria enfrentar uma crise econômica, que se espalhava pelo mundo. O Grande Líder conseguiu contornar os obstáculos, sua popularidade aumentou. Terminado o mandato, com alta popularidade, elege a sucessora.

Aproximava-se o dia e a hora da entrada em ação do agente Mauro. A sucessora, para desespero dos adversários consegue terminar o mandato. Apesar das dificuldades, ela se reelege. Os adversários decidem mudar a estratégia: impedi-la de governar. Seu principal adversário, Aécio Never, adverte, depois de ser negada a recontagem de votos: "Vamos obstruir todos os trabalhos até o país quebrar. Aí reergueremos o país que nós queremos. Sem o Poder Legislativo nenhum governo se sustenta". O Agente Mauro, nestas alturas encontraria dificuldades em concluir sua tarefa. Várias viagens clandestinas ao parceiro do Norte, foram feitas. Com seu inglês precário, fora alvo de chacota de agentes estrangeiros. Chamavam-no de idiota, incompetente. Mas era exatamente desse tipo de agente, manipulável, que o Império do Norte queria. Bebidas finas e mulheres esplendorosas estavam à sua disposição e Mauro se fartava, em êxtase.

- Foi acidente aéreo que levou a morte do Juiz do Supremo? Acidente mesmo?

- Quem é o dono da meia tonelada de cocaína apreendida no helicóptero do deputado?

- O que se transporta nos aeroportos construídos nas terras da família Never?

As máfias existem e se espalham pelo mundo. A grande mídia mantinha-se num silêncio sepulcral. Vez ou outra, para manter a aparência de imparcialidade, noticiava, sem o destaque que dava ao suposto envolvimento do Grande Líder nos escândalos de corrupção. O fato é que a morte do Juiz caiu no esquecimento, assim como a meia tonelada de pasta de cocaína, sempre abafada por matérias intermináveis e requentadas sobre o Grande Líder.

- Tudo se transforma em máfia, não só aqui, meu caro Mauro - dizia DD, o principal auxiliar do agente -, mas pelo mundo. Não sabemos quem está no comando. Cuidemos de nossas pescoços.

- Fique tranquilo, Dag, somos pivô do grupo de combatentes. Eu sou o comandante.

- Não sei, não sei mesmo. Tenho cá minhas dúvidas - retrucou o comparsa, com as mãos sobre a bíblia. Jesus é o nosso comandante.

O Agente Mauro e a República de Juritiba

Medidas de segurança eram tomadas, quando o agente retornava do Império Norte. Só seria notícia na Rede de Maior Audiência, depois de devidamente instalado, e com o processo contra o Nine na pauta. Mas para destruí-lo, o agente tivera de agir contra alguns graúdos empreiteiros e outras empresas poderosas. Precisava construir pontes, narrativas, que levasse ao chefe, que parecia uma muralha intransponível. Essas pontes, ou garras, produziria uma reação feroz, pois esses adversários, poderosos, não iriam para a masmorra, como cordeiros. A vida do agente estava sob ameaça. Marcel Debrech, um poderoso herdeiro de um grupo empresarial fora preso em uma operação cinematográfica. O que levou a uma reação em cadeia, obrigando Mauro a autorizar novas prisões, com delações premiadas, forçadas. Ancorado na mídia empresarial, para a qual vazava as informações, o herói ganhava a simpatia do povo, que acreditava ser necessário combater a corrupção instalada na estatal petroleira e no país. O poderoso empresário, por meio de seus auxiliares, também se movimentava.

DD, fiel escudeiro do agente, agia no meio evangélico, com o apoio de líderes fundamentalistas. O Procurador Geral da República , dava o suporte jurássico necessário, engavetando processos. Tudo com aparência de legalidade. DD aproveitava a fama, dando palestras e se enriquecendo.

O Agente Mauro estava no auge da popularidade, que suplantava o antigo Caçador de Marajás e o Juiz JB. Máscaras com o seu rosto eram vendidas em bancas de revistas. Mauro era o novo símbolo de combatente da corrupção. Os dias do Grande Líder ser preso se aproximava. Sua casa fora revirada de ponta a ponta. Uma devassa. A notícia de que era dono, ilegalmente, de um apartamento e de um sítio era repetida, não só pela Líder de Audiência, mas por toda mídia corporativa. Uns pedalinhos eram a prova de corrupção. O que JB fizera na AP470, prendendo supostos mensaleiros, à partir da delação não premiada de Roberto J, sedimentara um sentimento contra o partido do Grande Líder, ou Nine, como dizia Mauro e DD.

Enfim, o Agente Mauro determinou a prisão do Grande Líder, que não se entregou de imediato. O que viria acontecer depois de várias "negociações" com a PF, no Sindicato. Parte da base do ex-presidente queria resistir à prisão, no que ele não concordou. E a prisão se concretizou. Um corredor humano se formou para a passagem do Grande Líder, que viria a passar quinhentos e oitenta dias preso. É nesse ínterim, que a fama do Juiz começa a se desmoronar. Ganha contornos a sua parcialidade. Durante a sua permanência na prisão, um acampamento se instala frente à masmorra de Juritiba.

O ex-presidente, finalmente, sai da prisão decretada por um juiz parcial. É o início do processo de desmoralização de um sistema de justiça, que se tornou conhecido, à partir da República de Juritiba, como lava rápido, que tinha objetivos políticos implícitos. A Líder de Audiência era seu luxuoso suporte de marketing.

Apesar de mentira voar, a verdade, mesmo de pernas mancas, prevaleceu. O feitiço virou contra o feiticeiro, como diz o dito popular. A mentira pavimentou o caminho, que levou à presidência, um candidato a tirano. A verdade levou o Grande Líder à presidência. E o juiz parcial e ex-ministro da justiça, que almejava a presidência, à beira da cassação do mandato de Senador.

Ninguém escapa da História.