Bárbara Castro | Pela Lei - Capítulo 3
A fome havia começado a dar sinal de vida quando pela milésima vez Bárbara olhou para o final daquela rua e viu uma movimentação em frente a casa de Cláudio.
— Finalmente. — ligou o carro.
Parado perto do portão Cláudio acompanha a vinda do carro de aplicativo meio que impaciente. Seis minutos, uma eternidade para quem se encontra com pressa e para piorar o outro celular no bolso não para de vibrar.
— Mano, eu já chamei o Uber, fica frio.
— Só falta você aqui.
— Foi mal eu acabei perdendo a hora...
— Meus negócios não podem esperar e eu não ficarei refém de um incompetente, estou investindo pesado nisso.
— Estou ciente disso. — o Uber despontou na esquina. — o carro chegou, já já estou aí.
Cláudio embarcou e o veículo manobrou voltando pelo mesmo caminho pelo qual veio. Bárbara anotou sua placa e o horário e esperou alguns segundos.
— Hora do show. — disse soltando a embreagem.
*
Meia hora mais tarde Cláudio Barbosa desembarcou do Uber na portaria de um condomínio bastante modesto num dos bairros mais nobres da cidade. Ele caminhou apressadamente e mal se identificou para o funcionário na guarita o que Bárbara achou bastante estranho. Assim que seu alvo desapareceu de sua vista a agente deu início a outro jogo de paciência por isso resolveu ligar o rádio e sintonizar numa das estações de música vinte quatro horas. Por sorte no momento a canção “Seguindo o trem azul” de Roupa Nova estava sendo executada e Bárbara pode relaxar e viajar de volta ao passado.
A vida ao lado de Alex nem sempre foi ruim. Houve uma época em que eles eram apaixonados um pelo outro, Bárbara o amava de verdade. Antes da chegada de Isaque, as noites do jovem casal eram regadas a comilança e a sexo até altas horas. Lógico que, numa dessas intermináveis transas ela acabaria engravidando, mas ambos não estavam nem um pouco preocupados com isso, tudo o que queriam, eram se curtir. A canção ainda invadia seus ouvidos e Bárbara se pegou saudosa desses momentos vividos com Alex, é sério que estou sentindo isso? Pensou em voz alta.
Agora a mente da investigadora se voltou para o caso em curso. Como ela gostaria de ser um mosquitinho para conseguir entrar lá e descobrir o que Cláudio anda fazendo. Bárbara consultou o relógio e já haviam passado quarenta minutos. Outra vez seu estômago reclamou de fome, porém ele terá que esperar por mais um bom tempo.
*
Quase duas horas depois um veículo parou na portaria do condomínio e Cláudio embarcou. Castro fez anotações de tudo. O Uber partiu levando seu alvo, porém ela ainda não havia dado por encerrado o seu trabalho ali. Cinco minutos depois és que surge um cidadão afrodescendente, cabelo estilo Black Power, muito bem vestido num blazer branco e calça jeans. Ele também havia solicitado um carro de aplicativo. Afoita, Bárbara fotografou tudo e enviou as imagens para Emanuel Dantas. Quase que instantaneamente ela recebeu a ligação do chefe.
— Finalmente o nosso tubarão resolveu dar as caras. Márcio Braga o vulgo Suíço.
— Esse Jackson Five tupiniquim, ele é o tal do Suíço? — riu.
— Pois é, o mundo do crime tem lá seu lado humorado. Onde você está agora?
— Perto do condomínio. Devo averiguar o que aconteceu lá dentro?
— Não! Você fez um bom trabalho, Castro. A investigação agora terá que ser mais minuciosa, não podemos de maneira nenhuma fazer com que eles desconfiem que estão sendo vigiados. Recomendo que volte para o departamento e refaça os planos.
— Sim, senhor. — ligou o motor.
*
Isaque não via a hora do sinal bater e assim se ver livre da geografia e da voz aguda e irritante da professora. Ele ama estudar, principalmente essa matéria que fala sobre territórios, espaços e outras coisas, mas especificamente hoje sua mente não se encontra ali. Assim que soou o sinal ele foi um dos primeiros a sair e ganhar o corredor em busca de um canto mais tranquilo ou menos movimentado.
Perto do portão do estacionamento ele sacou seu celular e discou o número do pai.
— Oi! pai, está podendo falar?
— Fala, filho, aconteceu alguma coisa, você não deveria estar na escola?
— Eu estou na escola, pai é hora do intervalo.
— Ah! sim. O que você quer, filhão?
— Pai, eu posso morar com você?
Silêncio.
— Pai? — arqueou às sobrancelhas.
— Isaque, meu filho, não torne as coisas ainda mais difíceis, tem certeza de que quer morar comigo? Você passará boa parte do tempo sozinho, distante da escola, dos amiguinhos, meu apartamento é bem apertado.
— Mas, pai...
— Por que não quer mais ficar com sua mãe?
— É um saco. Ela só trabalha e fica com aquele gigante de carvão.
Alex estava sentado em sua sala aguardando a chegada dos alunos que em segundos iriam invadir o recinto, por isso ele precisou encurtar a conversa.
— Não estou prometendo nada, mas terei uma conversa com sua mãe, está certo?
— Valeu, pai.
— Agora trate de se animar, quero ver meu filho arrebentando nas notas.
Assim que Isaque desligou e os primeiros alunos começaram a entrar Alex apertou os olhos imaginando o que viria pela frente.
*
A batata frita já havia chegado fria e murcha. O hambúrguer até que estava bom, mas Bárbara bem que gostaria de estar numa mesa diante de uma massa num restaurante italiano ao lado de Robson. Sua realidade é dura. No momento ela encontrou-se em sua mesa, no departamento policial, com pastas, papéis soltos por todos os lados terminando de comer um lanche caro, porém ruim de uma rede de fast food metida a besta. Se ela gosta de que faz? Claro que sim. Frustrar os planos diabólicos dos bandidos é o seu prazer. Sobrara a última batata na embalagem que foi usurpada por uma mão masculina enorme.
— Mais o que significa isso?
Bárbara Castro girou a cadeira dando de frente com Dantas mastigando. Seu rosto ficou vermelho na mesma hora.
— Oi! Chefe.
— De onde veio essa tem mais?
— Ah! Poxa, acabou. — disse desconsertada.
— Você me deve uma porção. — Emanuel sorriu.
— Completa, com queijo cheddar e catupiri?
O delegado puxou outra cadeira e se acomodou ao lado dela. Bárbara estava apavorada.
— Só não esquece do bacon. Mas enquanto minha porção de batata frita não chega, vamos fazer nosso trabalho de casa.
Dantas de perto é ainda mais bonito, charmoso e possuí um cheiro que fez a Investigadora imaginar coisas saborosas com ela.
— Márcio Braga, o Suíço, por muito tempo ficou longe do radar da polícia e me parece que voltou de uma longa férias no exterior. Quando ainda era apenas um integrante de um grupo criminoso ele tinha o respeito de todos por ser inteligente e cruel. Aos poucos ele foi ganhando notoriedade e hoje é um dos mais procurados.
— Nossa, como são as coisas. Um marginal perigoso voltou ao radar da polícia devido a uma denúncia de agressão.
— Sim! Precisamos da sorte jogando a nosso favor de vez em quando, você não acha?
— Claro, claro.
Dantas se levantou e deixou a cadeira onde estava anteriormente.
— Estou em minha sala.
— Sim, senhor.
Emanuel Dantas deixou o local, mas não o seu cheiro. Deus foi muito generoso com ele, porém muito mais com sua esposa se a tiver. A vida pessoal do delegado é um mistério que poucos tem a coragem de perguntar. Bárbara balançou levemente a cabeça tentando afastar os pensamentos maliciosos com seu chefe, mas não foi preciso muito esforço. Em cima da mesa o celular tocou mostrando o nome de seu ex na tela.
— Fala!
— Oi, tudo bem? Seu plantão já terminou?
Castro olhou para o relógio na parede.
— Ainda tenho duas horas. Por que?
— O Isaque me ligou. Precisamos conversar.