O fim da trilha
[Continuação de "Vigilância remota"]
A cabana nas montanhas ficava no fim de uma trilha no meio da floresta, longe da estrada principal. Era um esconderijo quase perfeito e dificilmente seria encontrado, exceto por acaso ou por alguém que soubesse da sua localização exata.
- Então é aqui o refúgio de Proteo Lo Faro - ponderou o Dr. Migliore ao descer da picape de cabine dupla que o levara e à sua equipe até aquele lugar isolado. Dois seguranças armados com carabinas acompanhavam o cientista e seus técnicos, Sinesio e Gottardo. O namorado de Estella achara as armas um exagero, mas o cientista insistira nelas.
- Não sabemos como Lo Faro irá reagir, já que se isolou de tudo e de todos. Melhor prevenir - afirmou.
Gottardo acabara concordando, e ali estavam.
- Ele pensou em tudo - disse o Dr. Migliore apontando para a antena de recepção de internet via satélite e as placas de captação de energia solar no telhado. - Imagino que deve ter um gerador em algum lugar, mas com esse arranjo pode fazer os equipamentos de informática funcionarem por muito tempo, mesmo fora da rede elétrica convencional.
- E o que fazemos agora, doutor? Batemos na porta? - Indagou Sinesio.
- Ele certamente teve tempo suficiente para nos ver e ouvir chegar - avaliou o cientista, indicando aos seguranças que se afastassem para as laterais da cabana. - Portanto, vamos bater e esperar que ele apareça.
Dez minutos depois, como tudo continuasse silencioso no interior da construção, o Dr. Migliore pôs-se a olhar para dentro pelas janelas, ver se detectava algum sinal de vida.
- Creio que ele não está em casa - concluiu finalmente.
- É o mais lógico. Não há nenhum outro veículo estacionado aqui e duvido que ele vá e volte a pé da cidade mais próxima - comentou Gottardo, ligeiramente irritado com o rumo que as coisas estavam tomando.
- Precisamos entrar - decidiu-se finalmente o cientista.
- Como assim? - Questionou Gottardo, braços cruzados. - Vamos invadir a casa? Não somos policiais!
- É pela sua namorada! - Replicou o Dr. Migliore, apontando um dedo para Gottardo.
Gottardo sabia que a justificativa era frágil, para dizer o mínimo, mas calou-se. O Dr. Migliore fez um gesto para um dos seguranças e ordenou-lhe que forçasse a porta traseira da cabana. Minutos depois, o grupo entrou na residência.
- Pela poeira e as teias de aranha, há meses ninguém entra aqui - comentou Sinesio.
Elvino Migliore fez um gesto de concordância.
- Isso só evidencia a importância do tal módulo de inteligência artificial criado por Lo Faro - ponderou.
Em seguida, chegaram à sala onde estava reunido o equipamento de computação usado no monitoramento de Estella. Gottardo ficou impressionado com o que encontrou.
- Vamos fazer cópia da documentação do sistema... caso ela esteja aqui - disse para Sinesio e Gottardo.
- Se não estiver criptografado, creio que nem precisaremos discutir um acordo com Lo Faro - avaliou Sinesio, sentando-se à frente de um terminal.
Algo despertou a atenção de Gottardo numa mesa ao lado do terminal: era uma agenda empoeirada, e estava aberta numa data de seis meses atrás. A última anotação, escrita à caneta, dizia: "13:30 h - Buscar Estella na estação ferroviária".
Aparentemente, Estella fora a última pessoa que vira Proteo Lo Faro antes do seu suposto desaparecimento.
- [Continua]
- [22-06-2023]