Vigilância remota
[Continuação de "Sob escrutínio"]
- Mandou me chamar, Dr. Migliore? - Indagou Gottardo ao entrar no escritório do chefe.
- Sim, Gottardo, precisamos conversar sobre o spyware no celular da sua namorada - disse o cientista, indicando uma cadeira para que Gottardo se sentasse a frente dele. Depois que o jovem se acomodou, Elvino Migliore prosseguiu:
- Eu não quis falar na frente dela para não assustá-la, mas aquilo que estava instalado no celular não era um reles spyware.
Gottardo ergueu os sobrolhos, mas nada disse.
- Na verdade, tratava-se de um módulo de inteligência artificial, habilmente criptografado. Mesmo os peritos policiais teriam sérias dificuldades em descobri-lo, partindo do princípio que soubessem o que estavam procurando.
- E devo imaginar que o senhor tinha uma ideia do que estava procurando? - Questionou Gottardo.
- Eu tinha uma suspeita, - admitiu o cientista - diante do perfil de Proteo Lo Faro e alguns dos seus trabalhos anteriores, inclusive para o Ministério da Defesa. A suspeita se confirmou.
- Um módulo de inteligência artificial, o senhor disse? Para espionar Estella, não bastaria um spyware qualquer? Afinal, eles podem acessar não somente todos os arquivos do celular, lista de contatos e etc, mas também a câmera e o microfone...
O cientista fez um gesto de cabeça.
- Sim, você tem razão. Mas Lo Faro desenvolveu algo bem mais sofisticado, que podia trabalhar de modo independente, sem interferência humana; ele não precisaria avaliar a estratégia a seguir no monitoramento da ex-noiva ou de eventuais interesses amorosos dela: tudo isso era feito pelo tal módulo de inteligência artificial.
Gottardo franziu a testa.
- Mas isso exigiria uma capacidade de processamento que um reles celular nem remotamente possui, Dr. Migliore.
- É fato - confirmou o cientista abrindo as mãos. - Na verdade, o processamento bruto era feito remotamente, por algum equipamento de maior porte instalado num local que só agora conseguimos descobrir a localização precisa. E é justamente para lá que estou indo, e gostaria que fosse conosco.
- Conosco? - Repetiu Gottardo.
- Vou levar Sinesio e dois seguranças do laboratório - esclareceu o cientista. - Se for o esconderijo de Lo Faro, vou tentar convencê-lo a nos vender o seu sistema de monitoramento com inteligência artificial. Isso nos dará um grande avanço sobre sistemas similares dos nossos concorrentes.
- E se ele não estiver disposto a negociar, doutor? - Questionou Gottardo, braços cruzados.
- Nós o entregaremos à polícia - afirmou Elvino Migliore.
- Ah... - murmurou Gottardo. - Então é disso que se trata.
- Temos que ter algo para barganhar - apressou-se em dizer o cientista. - Afinal, o sujeito está assediando a sua namorada!
- Bem, é fato - admitiu relutantemente Gottardo. - Embora eu confesse que ficaria muito mais tranquilo em simplesmente localizar o paradeiro dele e chamar a polícia.
- Poderemos fazer isso, - replicou Elvino Migliore - se algo der errado.
- [Continua]
- [21-06-2023]