Sob escrutínio

[Continuação de "Interesse privado"]

- Meu celular? Mas por quê? - Indagou Estella de forma evasiva, quando Gottardo lhe disse que queria submeter o aparelho a uma varredura.

- É muito provável que seu ex-noivo tenha colocado algum programa espião nele - explicou. - Você não precisar entregar pra mim, mas ao meu chefe, o Dr. Migliore.

E diante da expressão de dúvida da jovem, disse em tom solene:

- Prometo que não iremos bisbilhotar os seus arquivos pessoais, palavra de escoteiro.

Estella abriu um sorriso, embora obviamente não parecesse estar animada com a perspectiva de ter seu telefone celular revirado por estranhos.

- Bem, eu não tenho nenhum segredo guardado no meu celular, - declarou em tom neutro - nem mesmo fotos comprometedoras, se foi nisso que pensou...

- Eu não pensei em nada - atalhou Gottardo.

- ... mas se eu puder estar presente nesta tal varredura, não me importo em deixar vocês mexerem no aparelho - concluiu Estella.

Com este compromisso, no dia seguinte Gottardo levou Estella ao laboratório e juntos foram até uma sala onde era feita a calibragem dos instrumentos utilizados em computação quântica. O Dr. Migliore e dois técnicos já aguardavam a chegada do casal.

- Não precisa se preocupar - tranquilizou-a o cientista. - Os procedimentos serão feitos na sua frente, e logo que terminarmos, o que não deve demorar muito, devolveremos o seu aparelho.

Estella fez apenas um aceno de concordância e sentou-se numa cadeira a um canto da sala, enquanto os quatro homens debruçavam-se sobre o celular ligado a uma série de cabos e computadores. Finalmente, um dos técnicos virou-se para o Dr. Migliore e perguntou:

- O que lhe parece, doutor?

- É notável, Sinesio - respondeu o cientista ajeitando os óculos. - Podemos isolar esse módulo sem comprometer o sistema?

Sinesio fez um gesto de positivo e começou a digitar num teclado sobre a bancada de testes. Finalmente, estendeu as mãos em direção a tela do computador:

- Aí está, doutor.

Elvino Migliore esfregou as mãos.

- Ótimo! Pode tirar isso do celular da moça.

E virando-se para Estella, que ouvia atentamente a conversa, corpo inclinado para a frente e uma expressão indecifrável no rosto:

- Identificamos o programa espião, vamos remover agora!

- Fantástico! - Exclamou ela, parecendo agora mais relaxada.

Finalmente, os cabos foram desligados e o celular voltou para as mãos da dona.

- Ele vai parar de me incomodar? - Indagou a jovem em expectativa.

- Teremos que esperar mais alguns dias para ter certeza, - avaliou o Dr. Migliore - mas eu ousaria arriscar que você se livrou em definitivo do problema.

- Que alívio! - Exclamou Estella, juntando as mãos.

- [Continua]

- [20-06-2023]