A Geração de Proteo
O celular, que havia sido colocado sobre a mesa da cantina, vibrou, e a tela piscou brevemente. Gottardo olhou para Estella, que estava sentada em frente a ele e disse em tom de desculpas:
- Perdão... tenho que olhar. Estou esperando um e-mail do laboratório.
Estella lhe concedeu um sorriso terno, mas não deixou de comentar:
- Não lhe dão uma folga, mesmo num sábado à noite?
Gottardo suspirou e apanhou o aparelho.
- É esse novo projeto, de computação quântica...
Ato contínuo, desbloqueou a tela e franziu a testa:
- Ah, não é do laboratório. Estranho.
- O que houve? - Estella remexeu-se na cadeira, sentindo a apreensão na voz de Gottardo.
- É um SMS anônimo... mas diz exatamente onde estamos e que...
Parou de falar e lançou um olhar atônito para a moça.
- O que foi? - Sussurrou Estella em tom aflito, mãos estendidas sobre a mesa.
Gottardo abanou a cabeça, como que tentando recompor seus pensamentos.
- "Tome cuidado com Estella", é a última frase.
Estella não pareceu surpresa com o que acabara de ouvir, embora parecesse estar buscando um modo de expressar o que desejava. Finalmente, disse uma única palavra:
- Proteo.
- Quem é Proteo? - Questionou Gottardo em tom incisivo.
Estella baixou a cabeça e murmurou:
- Meu ex-noivo. É um obcecado. Deve ter descoberto o seu telefone e está tentando lhe intimidar.
Gottardo balançou a cabeça.
- Um stalker... - disse entredentes.
Estella levantou a cabeça e o encarou.
- O que quer que ele diga, fique tranquilo. Apenas faz ameaças vagas; creio que posso afirmar que seria incapaz de executar qualquer ato de violência.
- Pela sua tranquilidade, imagino que não é a primeira vez que isso acontece - declarou o rapaz apreensivo.
Estella fez um gesto positivo.
- Sim, você tem razão. Proteo nunca aceitou o fim do nosso noivado e tem tentado acabar com a possibilidade de que eu tenha qualquer outro relacionamento... mas se limita a mandar mensagens de texto, nunca foi além disso.
- Isso é inadmissível - replicou Gottardo contrafeito. - Você não deu queixa desse canalha à polícia? Eles têm um departamento que investiga crimes cibernéticos.
- Sim, eu fiz isso - admitiu Estella com ar cansado - e não deu em nada. Proteo está em lugar incerto e não sabido, dizem. Abandonou o último emprego e saiu da cidade, ao que parece. Mas sempre encontra um meio de saber onde e com quem estou, e mandar essas mensagens idiotas.
- Alguém precisa fazer alguma coisa para que essa perseguição pare - ponderou Gottardo. - Na segunda-feira, vou falar com meu chefe, o Dr. Migliore, ver se ele pode me dar alguma ajuda.
- Mas vocês não são da polícia... - hesitou Estella.
- Mas nós temos as ferramentas e eu tenho todo o interesse em resolver este caso - disse confiantemente Gottardo, segurando as mãos de Estella sobre a mesa.
- [Continua]
- [18-06-2023]